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sábado, 7 de setembro de 2019

Aos que sofrem...


Aos que sofrem...

A natural expectativa de quem passa pelo sofrimento é ver a rápida e final intervenção de Deus. Quando a enfermidade chega à nossa casa, o desemprego torna-se uma realidade ou as crises pessoais se avolumam, nosso clamor é por livramento. Há sofrimentos públicos, conhecidos e lamentados por todos; e sofrimentos particulares, que destroçam o coração, mas passam desapercebidos até pelo amigo mais chegado. Mais importante do que o calibre do sofrimento é como passamos por ele. O fim do sofrimento pode ser uma alma amargurada, um coração incrédulo e uma mente frustrada. Há, porém, um outro caminho.

O Salmo 63 foi escrito por Davi no deserto de Judá em um dos momentos mais angustiantes de sua vida. Possivelmente ele escapava de Saul antes de se tornar rei ou fugia de seu filho Absalão, quando esse se revoltou contra o próprio pai. Em ambas as situações, Davi havia perdido a reputação, a liberdade e importantes laços familiares. 

Essa inspiradora canção do deserto revela as mais profundas convicções de Davi. No verso 1, ele indica que a sede de Deus era maior do que a sede de água. Nos versos 2 a 5, ele louva a Deus reconhecendo sua força e glória, e agradece pela graça, que é melhor que a vida. Faz também um compromisso de louvá-lo enquanto viver. Nos versos 6 a 8, Davi busca o descanso no Eterno e usa verbos que estão no presente, como “recordo”, “canto” e “medito”. Davi crê e canta o descanso em Deus enquanto sofre – não apenas planeja fazê-lo amanhã. Nos versos 9 a 11, ele declara sua confiança na força e na vitória de Deus sobre seus inimigos.

O sofrimento pode ser um caminho que nos leva à amargura ou ao louvor, à incredulidade ou ao fortalecimento da fé. A qualidade da nossa fé será determinante para a maneira como passamos pelo deserto. 

À medida que cremos, descansamos – vemos o mundo com as lentes da graça e nos alegramos naquele que controla a vida. Crer que a presença de Deus é melhor que a vida parece ser o exercício mais transformador – da mente, do coração e da visão de mundo – que qualquer pessoa possa experimentar no dia mau. Guarde a sua fé enquanto anda e chora. Não perca a alegria, a mansidão, a oração e a paz. E não deixe de semear no sofrimento, pois há promessa de frutos para os que semeiam na dor. Também não dê ouvidos àqueles que dizem que o Eterno o abandonou, que a semente não frutificará, que o caminho não tem fim. Eles não sabem que o Cordeiro de Deus é também o Leão de Judá. 

Hoje, em meio ao seu sofrimento, confesse a fé em Deus, quem ele é e o que ele faz. Esse é o verdadeiro louvor. Peça fé suficiente para descansar, com alma e mente pacificadas, e louvar, com sincero agradecimento pelo amor e presença do Senhor.

À semelhança de Davi, às vezes, experimentamos a solidão do deserto, o constrangimento nos relacionamentos e a incerteza sobre o amanhã. A vida nesses momentos torna-se mais lenta, opaca e pesada. E nosso coração, inclinado ao pecado, pode se apegar a uma erva daninha da espiritualidade: o descontentamento. Davi possuía diversos motivos para abraçar o profundo descontentamento, mas tomou outro caminho: o da confiança, da gratidão e do louvor. Nenhum descontentamento, por mais enraizado que esteja, resiste à sincera gratidão e ao louvor a Deus. 

Em nossa vivência cristã experimentamos dois momentos bem demarcados e Jesus Cristo estará conosco em ambos:
O primeiro é breve e passa como o vento. O segundo é eterno.
O primeiro é marcado pela esperança e o segundo, pelo esplendor.
No primeiro buscamos a Deus e no segundo estamos ao seu lado.
No primeiro enfrentamos quebras, lutas, enfermidades e angústias; no segundo não haverá choro, decepções, dor nem morte.
No primeiro somos peregrinos, caminhantes e forasteiros; não temos morada certa. No segundo chegamos ao lar.

Enquanto caminhamos no sofrimento, que a nossa alma tenha mais sede de Deus do que de água. Que Ele seja o nosso tudo. Então, nada nos faltará.

 
• Ronaldo Lidório é teólogo e antropólogo, missionário (APMT e WEC) entre grupos pouco ou não evangelizados.

Fonte: Revista Ultimato setembro/outubro 2019.
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