*Por Carlos “Catito” e Dagmar Grzybowski
Em João 8.3-11 temos o relato de um momento no ministério de Jesus em que ele
estava no templo e lhe é levada pelos religiosos da época uma mulher que havia
sido pega em adultério. O flagrante não deixava dúvidas de que o erro havia
sido cometido e precisava de uma “punição” – pelo menos assim pensavam aqueles
que levaram a mulher até Jesus.
Dedos em riste e pedras na mão, apontavam para a mulher e gritavam: “Adúltera!
Apedrejem-na!”
Diante de toda a confusão e solicitado para dar um aval genocida, Jesus desloca
a mão para o chão e o dedo, em vez de apontar para a mulher impura, aponta para
o solo; as mãos, em vez de se tensionarem para agarrar pedras, se distendem
afagando a areia na qual começa a escrever com o dedo...
Jesus não nega a culpa da mulher nem tenta dar justificativas acusando o marido
desta de não ter dado atenção a ela, que ela estava carente, que impulsos
sexuais são difíceis de controlar... não! Ele simplesmente aguarda até os mais
exaltados baixarem sua ansiedade homicida e, sob a expectativa de uma resposta,
valida a leitura legalista dos seus arguidores: “Vão em frente, executem o que
diz a lei! Porém,” emenda o Mestre, “que a execução se inicie por aquele que
julga que jamais cometeu qualquer falha diante de Deus!”
Penso nas inúmeras vezes que aqueles que prezam pelos “fundamentos da fé” hoje
em dia não agem de igual forma aos contemporâneos de Jesus. Com dedos em riste
e pedras verbais prontas para amaldiçoarem o que consideram “pecados sexuais”.
Quantas pessoas são “apedrejadas” e expostas publicamente em nome da “não
contaminação do rebanho”!
Infelizmente os ditos “pecados
sexuais” são tratados de forma bastante diferenciada de outros pecados, como a
fofoca e a inveja – que são severamente advertidos na Bíblia e causam profundos
estragos em comunidades (Tg 3.2-13). O exercício da graça combinado com uma
chamada ao arrependimento sincero são caminhos apontados por Jesus ao rabiscar
na areia em vez de apontar para a adúltera.
Isso não significa fazer “vista grossa” para os pecados sexuais, de forma
alguma. Adultério, pornografia e libertinagem sexual têm destruído casamentos e
famílias e devem ser denunciados e combatidos. Entretanto, “o povo é destruído
por falta de conhecimento” (Os 4.6) – o ensino sobre sexualidade é muito débil
nas comunidades cristãs, e quando ocorre é sempre tratado em forma de regras e
leis “para conter os impulsos da carne”.
Quando se dissocia a sexualidade da ternura e a reduz a uma “energia” (libido)
a ser controlada e a uma mera expressão fisiológica, então induzimos o povo ao
erro. Acreditar na sexualidade apenas como expressão fisiológica é crer no
“homem sem alma”, fruto apenas de um processo evolutivo casual. O ensino
bíblico (livro de Cantares) nos revela que a sexualidade é a mais profunda
expressão da ternura e do amor quando comunico ao outro, sem palavras, que eu o
amo tanto que quero “guardá-lo” dentro de mim.
Busquemos um ensino
contracultural sobre a sexualidade – na perspectiva da ternura – e tratemos os
desvios com a mesma graça e misericórdia que Jesus tratou.
*Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e terapeutas de
casais e de família, e membros da Igreja Luterana. São autores de Pais Santos, Filhos Nem Tanto. Acompanhe o blog Casamento
e família.
Fonte: Revista Ultimato
setembro-outubro 2024 – Edição 409.
Que belas verdades bíblicas!
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