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terça-feira, 25 de março de 2014

O Espírito de Deus pairava sobre as águas – Gn 1.2b

Marina Silva

Dia 22 de março é o Dia Mundial da Água. Essa data foi definida na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Ambiente, que conhecemos mais como Rio 92. A água é um bem muito importante, cujo uso pode causar impactos sobre a saúde, a produção de alimentos, a indústria, a produção de energia e abastecimento doméstico.

De toda a água existente no planeta, a água doce representa 2,5% do total. Desses 2,5%, 70% estão em forma de gelo na Antártida e no Ártico. Os lagos e rios representam 0,3% do total de água doce da terra.

A humanidade usa essa água doce distribuindo 70% para rega, 22% para produção industrial e 8% para uso doméstico.

No Brasil, temos 20% de toda a água potável disponível no planeta localizada na Amazônia, e 45% da água subterrânea do país também estão nessa região, conforme dados do IBGE. Essa mesma região vem sendo desmatada, invadida e depredada sem preocupações com a manutenção do bioma, sem pensar no que um apagão de fornecimento de água para todo o país pode significar.

Para além desses aspectos práticos, os cristãos têm muitas razões mais para se preocuparem com a água. Os belíssimos versículos iniciais de nosso livro sagrado retratam a água como a superfície sobre a qual pairava o Espírito de Deus, antes da criação do firmamento. A água como elemento e como metáfora aparece em 312 versículos da Bíblia.

A ventura, o deleite e a plenitude da vinda do Senhor são simbolizados por um rio de águas vivas correndo de Jerusalém (Zc 14.8). Na visão que João tem do céu, o trono de Deus é a fonte original do rio da água da vida (Ap 22.1-2). A ventura da fé em Cristo está metaforizada como sendo um rio que flui do interior do crente (Jo 7.38). A cristandade usa a água como elemento de passagem entre a morte e o renascimento pelo batismo.

No entanto, temos transformado os rios de águas vivas em rios de águas mortas e produtoras de morte para as espécies que os habitam. Temos conseguido fazer com que a bênção da chuva vire chuva ácida sobre a terra, lagos e rios. O lixo amontoado em aterros produz chorume, que se infiltra nas águas subterrâneas, envenenando-as. A falta de saneamento básico, por falta de prioridade nas políticas públicas, faz com que o esgoto de indústrias e domicílios seja despejado em rios, lagos e oceanos. O lixo das praias tem contaminado oceanos e matado espécies marinhas e aves aquáticas, que engolem pequenos artefatos de plásticos. E os agrotóxicos, dos quais nosso país é um dos principais consumidores mundiais, também são levados pela chuva para os cursos d’água.

Uma vez que entendemos que só temos 2,5% da água do planeta para beber, que a água é um bem deixado por Deus para tantos usos, e que podemos desertificar várias regiões do mundo pelo desmatamento predatório e egoísta, e destruir não só a vegetação, mas também o solo, e inviabilizar essas regiões para a vida, qual deve ser a atitude cristã com relação à água?

Temos feito pouco como povo de Deus. Ainda nos falta muito para sermos verdadeiros cuidadores do planeta. O jornal “O Globo” publicou, em novembro de 2011, um estudo do centro de pesquisas americano Pew que informa serem os cristãos dois bilhões e quatorze milhões de pessoas, um terço da humanidade. Essa força social precisa se colocar como agente do princípio bíblico de cultivar e guardar os recursos que Deus tão amorosamente nos confiou. Só assim espalharemos por toda a Terra a face do nosso criador.

• Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC.


Fonte: Revista Ultimato março-abril 2014.

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