Autor: Pr. Marcelo Rodrigues
de Aguiar (*)
Para responder a esta
pergunta, precisamos primeiro fazer outra: o que é um nome? Para que ele serve?
Os nomes servem para distinguir duas ou mais coisas que pertençam ao mesmo
gênero (por exemplo: nós, seres humanos, precisamos de nomes porque somos
bilhões sobre a terra). Neste sentido Deus não precisa de nome, porque é único,
e deve ser chamado simplesmente de Deus. “Assim diz o Senhor, Rei de Israel,
seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e
fora de mim não há Deus (Is. 44.6). Os que dizem que Deus tem um nome e que
devemos chamá-lo de Jeová estão, assim, totalmente errados.
No entanto, os nomes também
podem ter outro propósito: destacar as qualidades de uma coisa ou pessoa. Neste
último sentido Deus tem muitos nomes, porque possui inúmeras qualidades.
Encontramos na Bíblia nomes que Deus atribuiu a si próprio, e outros que
pessoas inspiradas atribuíram a Ele em momentos especiais. Como cada nome põe
em relevo um atributo ou qualidade de Deus, conhecer os nomes divinos pode ser
algo muito proveitoso, na medida em que permite-nos conhecer melhor o nosso
Criador.
1)
El – Deus ou deus
Significa “Deus” no sentido
mais abrangente do termo. Pode ser aplicado ao Deus verdadeiro (Sl 77.14) ou a
um deus falso (Is 44.17). Na maior parte das vezes que aparece na Bíblia
refere-se ao Deus verdadeiro. Por ter um significado muito amplo raramente
aparece só; vem acompanhado de adjetivos e títulos, e forma nomes compostos.
Nas línguas semitas, também é o termo empregado para Deus. Na religião
cananéia, era identificado como o maioral dos deuses e pai de Baal (um nome
próprio, portanto). O livro da Bíblia que mais utiliza a palavra El é Jó. Este
nome de Deus aparece na formação de muitos nomes próprios: Ismael (Deus ouve),
Israel (Deus luta), Miguel (quem é como Deus), Daniel (Deus é juiz), Elimeleque
(Deus é rei), Elias e Joel (Yahweh é Deus), Ezequiel (Deus fortalece), Emanuel
(Deus conosco), etc.. A raiz da palavra El vem do termo hebraico para “forte”;
logo, El significa “poderoso” (Is 9.6).
2) Eloah – Deus ou deus
Forma antiga e ampliada de
El. Esta palavra estava em uso desde tempos mais remotos, e foi gradativamente
caindo em desuso. Após o cativeiro o termo voltou a ser usado, de modo
limitado, devido a uma preocupação em retornar aos fundamentos antigos. Quase
sempre usado para designar o Deus verdadeiro, e ao contrário de El, dispensa
adjetivos. Aparece quase exclusivamente no livro de Jó (Jó 11.7). Tanto El
quanto Eloah destacam o poder de Deus. São nomes que transmitem conforto e
segurança ao povo de Deus (Pv 30.5), mas temor aos seus inimigos (Sl 50.22).
Eles nos lembram que Deus merece nossa confiança e nosso respeito.
3)
Elohim – Deus ou deuses
Forma plural de El, formada
com o acréscimo do sufixo “im”. Pode referir-se ao Deus verdadeiro (Gn 1.1) ou
a deuses falsos (Sl 138.1); só o contexto estabelece a diferença. Elohim é
muito mais usado do que El ou Eloah (Êx 3.6). No Calvário, Jesus utilizou uma
expressão aramaica do termo, citando o Salmo 22.1 ( Mt 27.46). Em várias
ocasiões Elohim aparece ligado a Yahweh, outro nome de Deus (Js 22.22). O mais
surpreendente a respeito de Elohim é que, ainda que seja uma palavra plural,
frequentemente é usada com o verbo no singular. Isso ocorre porque Elohim é o
nome que expressa a Trindade divina: um Deus em três pessoas (Gn 1.26). É um
nome que nos lembra que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus.
Por isso o termo é importantíssimo para os cristãos em seus debates com
espíritas, Testemunhas de Jeová, judeus e muçulmanos. Deus é triúno.
4)
El-Shaddai – Deus Todo-Poderoso
Forma composta de El. Mais
usada nos primórdios do VT (Gn 17.1; 28.3; 35.11; 48.3) e no livro de Jó (Jó
5.17, etc.). Deus também se apresenta como todo-poderoso no NT (Ap 1.8, etc.).
Este nome põe em destaque a força de Deus, intensificando o significado de El e
indo além dele: Deus não é apenas poderoso, é todo-poderoso. Se Elohim é o nome
da Trindade, El-Shaddai é o nome da Onipotência. A Bíblia não admite
concorrentes: não há um deus do bem e um deus do mal. Para El-Shaddai nada é
impossível. Por isso devemos ter fé (Mc 9.23). Por isso devemos descansar (Is
32.18).
5)
El-Olan – Deus Eterno
Nome com o qual Abraão
invocou o Senhor (Gn 21.33). Aparece em outras partes do VT (Is 40.28). A forma
original do nome é El-dhu-Olami, que significa “Deus da eternidade”. É o nome
que enfatiza a eternidade e imutabilidade de Deus (Sl 90.1,2; Ml 3.6; Tg 1.17).
Ele sempre existiu e existirá, e sempre foi do jeito que é. Essa característica
de Deus permite-nos confiar nele plenamente.
6)
El-Rói – Deus que Vê
Dessa forma chamou Agar ao
Senhor, quando lhe apareceu no deserto (Gn 16.13). É o nome da Onisciência
divina. Os olhos do Senhor estão por toda parte (2Cr 16.9). Eles atentam
especialmente para os seus filhos (Sl 33.18,19). Enxerga o nosso interior (Sl
139.1-24). Jesus deu mostras desse atributo divino (Jo 1.47-49). No Apocalipse,
sua Onisciência é simbolizada pelos olhos de fogo (Ap 1.14).
7)
El-Elohe-Israel – Deus, o Deus de Israel
Jacó havia acabado de
receber de Deus o nome de “Israel” quando edificou um altar e dedicou-o a
“Deus, o Deus de Israel” (Gn 33.20). Com isso quis deixar claro que o Senhor
era o seu Deus, e não apenas de Abraão e Isaque. Como Jacó, precisamos fazer do
Senhor o nosso Deus. Como fazemos parte do Israel de Deus (Gl 6.16),
El-Elohe-Israel é o Deus de todo cristão, é o Deus da igreja.
8) El-Betel
– Deus da Casa de Deus
Este nome também foi dado
por Jacó (Gn 35.7), lembrando-se do sonho que tivera 20 anos antes. Naquela
ocasião ele havia chamado o mesmo lugar de Betel, que significa “casa de Deus”
(Gn 28.16-19). É um nome que evoca culto, adoração, bênção e reverência. Devemos
ter respeito pelo templo, que é a casa de Deus (Hab. 2.20); frequentá-lo sempre
(2Cr 7.15,16); lembrar que a igreja é a casa espiritual de Deus (1Tm 3.15).
9)
Elyon – O Altíssimo
A Bíblia diz que
Melquisedeque era sacerdote de Elyon, o “Deus Altíssimo” (Gn 14.18-20). Ela
deixa claro que esse não era um deus diferente, mas o mesmo que Abraão chamava
de El-Shaddai e Yahweh (Gn 14.22). Era um nome usado não só pelos israelitas,
mas por povos vizinhos (Nm 24.16). Trata-se de um nome que exalta a santidade de
Deus, a sua transcendência, a sua pureza (Sl 7.17). Ele nos lembra que Deus é
santo e puro, e merece todo o respeito (Ec 5.2).
10)
Adonai – Senhor
Esta palavra significa
“senhor”, referindo-se a um patrão, proprietário ou o próprio Deus (1Re 2.26).
Entra na composição de vários nomes próprios, como Adonias (Deus é senhor). Se
nos referimos a Deus como Adonai declaramos que ele é nosso proprietário,
aquele a quem servimos. Os judeus, para não pronunciar a palavra Yahweh,
substituíam-na na leitura bíblica pela palavra Adonai.
11)
Yahweh – Eu Sou
Este é o nome mais usado
para Deus em toda a Bíblia (5.321 ocorrências), o que tem despertado mais
polêmica (ver as Testemunhas de Jeová), e também o de mais difícil
interpretação (quanto à pronúncia e significado corretos). É formado pelo
tetragrama YHWH, e normalmente traduzido em nossas Bíblias como Senhor (Gn
2.4), SENHOR (Gn 16.7) ou Jeová (Is 12.2). No período pós-exílico a reverência
pelo nome de Deus (Êx 20.7) fez com que deixasse de ser pronunciado, substituído
pela palavra Adonai. A partir de 1100 dC as vogais de Adonai foram incorporadas
às consoantes YHWH, formando a palavra Jeová. Embora Yahweh já fosse conhecido
desde o início de Gênesis (Gn 4.26; 22.14), seu significado só foi revelado à
época de Moisés (Êx 6.2,3). Ele significa “eu sou”, ou “eu sou o que sou”,
porque só o Senhor é Deus – os outros não são (Êx 3.13,14). Jesus reivindicou
esse nome de Deus para si (Jo 8.58,59). Yahweh é um nome que aponta para a
exclusividade de Deus. Vários nomes próprios na Bíblia foram formados a partir
dele: Elias (Yahweh é Deus), Isaías (Yahweh deu salvação), Jônatas (Yahweh tem
dado), Josué e Jesus (Yahweh salva).
12)
Yah – Eu Sou (abreviação)
Esta é uma forma contraída
de Yahweh. Ocorre 50 vezes no Velho Testamento, sendo traduzida como “Senhor”.
É transliterado no Salmo 68.4. Esta forma contraída entra na composição de
diversos nomes próprios bíblicos, e na formação da palavra Aleluia, que
significa “louvado seja Yah” (Sl 150.1,6).
13)
Yahweh-Tsabaoth – O Senhor dos Exércitos
Este nome de Deus não ocorre
no Pentateuco. Aparece pela primeira vez em 1 Samuel 1.3. Foi usado por Davi ao
enfrentar o gigante filisteu (1Sm 17.45) e repetido nos seus cantos de vitória
(Sl 24.10). É comumente encontrado nos livros dos profetas (Is 13.4; Jr 50.34;
Ml 3.10). Que exércitos são estes aos quais se refere? Segundo alguns, os
soldados israelitas; na opinião de outros, as estrelas e planetas. O mais
provável é que se refira às hostes angelicais. É o nome guerreiro de Deus. O
Senhor dos Exércitos luta contra os inimigos de seus servos, garantindo-lhes
vitória e livramento.
14)
Yahweh-Shalom – O Senhor é Paz
Este nome foi dado a Deus
por Gideão, quando lhe erigiu um altar (Jz 6.22-24). Gideão estava atemorizado
porque os midianitas invadiam o território de Israel, e também porque havia
visto o Anjo do Senhor, mas Deus lhe disse: Paz seja contigo. Apesar de ser um
Deus guerreiro, o Senhor almeja a paz para os seus servos (Sl 29.11). Ele é o
Príncipe da Paz (Is 9.6). Ele não é Deus de confusão (1Co 14.33), e sim de paz
(Rm 15.33). Logo, espera-se que seus seguidores sejam promotores da paz (Mt
5.9).
15)
Yahweh-Rafah – O Senhor que Sara
Chegando a Mara, o povo de
Israel encontrou águas amargas. Deus curou-as e disse-lhes que, se andassem nos
seus caminhos, não sofreriam as enfermidades enviadas contra os egípcios. E
acrescentou: “Eu sou o Senhor que te sara” (Êx 15.26). Este nome chama a
atenção para o fato de que Deus é o provedor da saúde, aquele de quem as curas
procedem (Tg 1.17). Toda cura é divina (Sl 103.3), ainda que Ele possa usar os
médicos (At 28.9) e os remédios (Is 38.21). Uma das tarefas às quais Jesus mais
se dedicou foi a cura aos enfermos (Mt 4.23). Ele espera que a igreja também
ore pelos doentes (Tg 5.16).
16)
Yahweh-Samah – O Senhor Está Ali
Este é o nome que encerra o
livro de Ezequiel (Ez 48.35). Fala de uma cidade na qual Deus estaria presente
entre o seu povo. Essa cidade é descrita em detalhes em Apocalipse (Ap 21.1-4).
Yahweh-Samah é um nome que nos lembra o fato de que Deus está conosco (na
pessoa de seu Filho, o Emanuel), e de que nós estaremos com Ele na eternidade
celestial.
17)
Yahweh-Nissi – O Senhor é Minha Bandeira
Este nome foi dado por
Moisés, após a célebre luta em que manteve as mãos erguidas para que Israel
fosse vitorioso (Êx 17.15). Yahweh foi a bandeira sob a qual Israel lutava e a
garantia de vitória de que dispunha. O nome nos traz a visão do Senhor como o
ponto de convergência do seu povo, tal qual as bandeiras e estandartes nas
batalhas. Tanto a idéia de vitória quanto a de união estão presentes.
18)
Yahweh-Jireh – O Senhor Proverá
Nome dado por Abraão logo
após o quase sacrifício de seu filho Isaque (Gn 22.14). Isaque havia perguntado
a seu pai sobre o cordeiro para o sacrifício, e ele lhe dissera que o Senhor
providenciaria (Gn 22.7,8,13). Séculos mais tarde, João Batista afirmaria que o
Cordeiro que Deus providenciou para a nossa salvação é Jesus Cristo (Jo 1.29).
O Senhor conhece as nossas necessidades – espirituais, físicas e emocionais – e
promete supri-las (Fp 4.19).
19)
Yahweh-Tsadiq – O Senhor é Nossa Justiça
Yahweh-Tsadiq (ou
Yahweh-Tsidkenu) é um nome que aparece em Jeremias, e que significa “o Senhor é
nossa justiça” (Jr 23.6; 33.16). Num mundo de tantas injustiças precisamos
conservar a fé de que o Senhor fará com que o justo prevaleça. Devemos também
lembrar-nos que a vingança e a retribuição não pertencem a nós, mas a Deus (Rm
12.19).
20)
Abba – Pai
No Novo Testamento,
encontramos Jesus referindo-se ao Pai utilizando uma palavra muito bela – Abba,
que pode ser traduzida como “Pai” ou, mais fielmente, “Papai” (Mc 14.36). Numa
época em que as pessoas tinham medo até de pronunciar o nome de Deus, Jesus
mostrou-nos como ter uma relação de intimidade com Ele (Rm 8.15; Gl 4.6). É
maravilhoso sabermos que temos em Deus um Pai perfeito: em amor, bondade,
poder, justiça e sabedoria.
BIBLIOGRAFIA
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J. D. Douglas. O Novo Dicionário da Bíblia. Vida Nova.
Harris,
Archer e Waltke. Dicionário Internacional de Teologia do A. T. Vida Nova.
R.
N. Champlin. O A. T. Interpretado Versículo por Versículo. Candeia.
W.
Elwell. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vida Nova.
J.
J. V. Allmen. Vocabulário Bíblico. Aste.
(*) Pr
Marcelo Rodrigues de Aguiar é pastor Interino da Igreja Batista em Mata da
Praia, professor do SETEBES – Seminário Teológico Batista do Estados do
Espírito Santo, bacharel em Teologia e Psicologia, Psicólogo clínico e
escritor.
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