Edson Machado Monteiro,
economista, ex-Diretor da PREVI e ex-Vice Presidente do Banco do Brasil
Publicado: 20.05.2020
"QUE
PORRA É ESSA MINISTRO!"
O jornal O Globo publicou, em 15
de maio último, a informação de que, em uma reunião ministerial realizada no
Palácio do Planalto no dia 22 de abril de 2020, o Ministro da Economia, Sr.
Paulo Guedes, teria afirmado que é preciso “vender logo a porra do BB”.
Como o conteúdo do vídeo gravado
nessa reunião está sob segredo da justiça e seu inteiro teor possivelmente
nunca será trazido a público, fiquei em dúvida sobre que “BB” V. Exa. estaria
falando. De repente, pode ser um código de comunicação utilizado no governo ou,
quem sabe, a senha de algum projeto em andamento em seu cabuloso ministério.
Mas Ministro, se V. Exa. estava
mesmo se referindo ao Banco do Brasil, com toda certeza o despropósito e a
vulgaridade com que tratou o tema não se coadunam com a liturgia do cargo que
ocupa, pois estaria referindo-se a uma empresa de valor e relevantes serviços
prestados à sociedade brasileira, com mais de 200 anos de existência. Talvez o
melhor e mais rentável ativo do portfólio que administra, como “chefe” do
Tesouro Nacional, acionista controlador do Banco do Brasil.
E isso, para mim, não é
novidade. V. Exa. é um “posto Ipiranga” com origem no mercado financeiro, sócio
de banco de investimento que vivia mamando nas tetas dos fundos de pensão nas
décadas de 1980 e 1990, exceto nas da PREVI, que, em 1993, rompeu o
relacionamento espúrio com diversos agentes do mercado financeiro, entre eles o
banco do qual V. Exa. era sócio, para constituir o que é hoje o patrimônio
saudável da maior entidade fechada de previdência privada abaixo da linha do
Equador.
A reforma bancária de 1964
favoreceu o surgimento de grandes conglomerados financeiros, com ampla atuação
no mercado, e impôs amarras à atuação do BB, impedindo-o de operar em frentes
emergentes e rentáveis, como nas áreas de mercados de capitais, seguros,
previdência e cartões, levando-o, ao longo dos anos, a definhar e perder a
representatividade que tinha no mercado.
Somente a partir de 1995 foi
que o BB, com o apoio de seus acionistas, sobretudo o Tesouro Nacional, venceu
as amarras e também se transformou em um conglomerado financeiro, após efetuar
ajustes estruturais e sanear seus ativos, com vultosos investimentos em
tecnologia, no desenvolvimento de pessoas e em novas frentes de negócios,
passando a atuar de maneira competitiva em todos os ramos do mercado financeiro
e de capitais, no Brasil e no exterior.
De lá para cá, Ministro, são
mais de 20 anos de lucros sucessivos e crescentes, com profissionalismo e
elevada eficiência operacional, apesar das restrições que enfrenta uma
sociedade de economia mista para atuar em mercados competitivos. Mas o BB
superou tudo isso, com expressivo crescimento em todos os ramos de negócios,
distribuindo vultosos dividendos no período, sobretudo ao acionista
controlador, além impostos gerados para os cofres da União e da excelência dos
serviços entregues à sociedade.
E sabe por que, Ministro?
Porque o BB inovou em parcerias, investiu e formou gente competente, comprometida
com o desenvolvimento de negócios em prol da sociedade brasileira. Além disso,
retomou uma das características mais marcantes de sua história: voltou a ser
celeiro de profissionais de excelência, muitos dos quais assediados e
recrutados por grandes empresas nacionais e multinacionais dos mais diversos
ramos de atividade.
E a história se repete,
Ministro! Por ingerência do controlador, a atual direção do BB vai dando
consequência à estratégia irresponsável de fatiar um banco moderno, competitivo
e lucrativo, vendendo isoladamente as subsidiárias que dão contorno e
complementam a atuação do conglomerado BB nos diversos segmentos de mercado. Ao
final desse processo restará sim um “elefante branco”, igual àquele de antes
das reformas iniciadas em 1995, sem capacidade de gerar resultados, pois os
negócios mais rentáveis foram “vendidos” sabe-se lá para quem e com que grau de
transparência. Ai talvez seja mesmo a hora de “vender logo a porra do BB”, pois
será uma empresa sem competitividade e que não atende mais as expectativas de
seus clientes e acionistas.
Isso é cruel e leviano,
Ministro! A irresponsabilidade chega às raias do absurdo, do inacreditável.
Representa um descompromisso com os investidores e com a sociedade brasileira,
pois dilapida o patrimônio do povo e desintegra um negócio que está funcionando
de maneira harmônica e lucrativa há décadas. É claro que é um desmonte
planejado, possivelmente combinado com os competidores, com amplos interesses
em adquirir ou retomar “shares” que lhes foram tirados pela contundente atuação
do BB nas últimas duas décadas.
Afinal Ministro, que porra é
essa? É bom lembrar que a privatização do BB depende de autorização do
Legislativo. E lá, os representantes do povo terão que enfrentar esses fatos
históricos e os valores que o BB representa para o País, além de “abrir mão” do
papel que desempenha no campo social e cultural, na execução de políticas
econômicas anticíclicas, no financiamento da produção nacional, principalmente
do agronegócio, e na prestação de serviços a milhões de brasileiros.
https://www.linkedin.com/pulse/que-porra-%C3%A9-essa-ministro-edson-monteiro/