Deus
no controle de tudo!
É
uma falácia, falsidade pela generalização. Depõe contra Deus. Atenção à exegese
bíblica: A quem se refere o texto e o contexto; se contém figuras de linguagem
para não fazer interpretação literal; tem o texto aplicação à época, no
presente ou é escatológico?
De
tudo o quê? Da sua Criação ou no mundo dos homens? Depende em que esfera da sua
vontade Deus agiu ou está agindo. Se envolve objetivos divinos macros, muito
além do que imaginamos, se as pessoas no contexto das circunstâncias têm ou não
relacionamento com Ele (Jo 14.21-23; Hb 11.6). Então, depende!
Salmos 34.7 – “O anjo do Senhor
acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra”. Opa! Já não é em redor de
todos.
Salmos
37.25 – “Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a
sua semente a mendigar o pão”. A experiência do salmista aponta para o justo.
Não é para todos.
Há
quem afirme: “Nada acontece no mundo se não for da vontade de
Deus”. E fica subtendido que Deus tem uma só expressão de sua
vontade: A soberana. Não é verdade. Há outros aspectos a considerar da vontade
de Deus nas Escrituras: A moral, permissiva e deixou também expressa a sua
perfeita vontade desejável, de salvação para com os homens (I Tm 2.4).
Como
Criador dos mundos (Gn 1.1; Hb 11.3) Ele rege, governa por Leis Universais
Cosmológicas, da Física, Química, Biológicas, Astronômicas etc...,
estabelecidas pelo seu próprio poder e sabedoria, as quais estamos muito
distantes de mensurá-las.
Gn
12.1-3 – A partir de Abrão, Deus fez uma escolha, uma chamada individual,
formou o povo judeu, com propósitos salvíficos. O objetivo final era
trazer salvação a todos os homens (L 2.28-32;3.6; Jo 3.16; 4.22). Em Abrão
seriam benditas todas as famílias da Terra.
Na
imensa massa de humanos, pelas Escrituras Deus trata com três agrupamentos de
pessoas: Gentios, Israel e a Igreja.
Leva
a erros teológicos e doutrinários aplicar de forma genérica a outras pessoas,
ou a outro povo, um texto bíblico de uma chamada específica, individual ou
coletiva. Em Israel, povo de Deus por eleição, era comum as chamadas
específicas de pessoas, conforme o propósito divino. E dessa forma o legislador
Moisés, profetas e reis foram levantados.
Na
trajetória da Igreja Cristã, também vemos chamadas específicas, como foi a dos
doze primeiros discípulos de Jesus (Mt 10.1-4; Jo 15.16). E ainda houve um,
entre eles, que se deixou ser levado pelo diabo (Jo 6.70-71; At 1.16-18;25; Ef
4.27). E a profecia a respeito revelava presciência divina, não significa dizer
que estava predeterminado por Deus comportamentos (Mt 26.21-15; Jo 13.18-30).
É oportuno lembrar que em toda a trajetória de
Israel, especialmente no Antigo Testamento, era um testemunho vivo da fé
monoteísta (Êx 20.1-3; Dt 6.4-5; 33.26-29) contrapondo-se aos povos pagãos. E
fazia e faz a diferença entre o que serve ao Deus verdadeiro e ao que não serve
(Is 43.10-12; Ml 3.18).
Reina o Senhor Deus sobre a Terra na presente era?
I
Cr 16.31 – “Alegrem-se os céus, e regozije-se a terra; e diga-se entre as
nações: O SENHOR Reina”.
Salmos
96.10 – “Dizei entre os gentios que o SENHOR Reina. O mundo também se firmará
para que se não abale; julgará os povos com retidão”.
Salmos
99.1 – “O SENHOR Reina; tremam os povos. Ele está assentado entre os querubins;
comova-se a terra”.
Êx 15.18; Sl 146.10 - Quando lemos textos bíblicos
que expressam o Senhor reina ou reinará perpetuamente, está num contexto de um
povo de chamada específica, em um Governo Teocrático. Essas passagens estão nos
seus cânticos, como fez Moisés (Êx 15.1-19), nas ações de graça de Davi (I Cr
16.1-43) quando do retorno da arca do Senhor à Jerusalém (I Cr 15.29). E em
tantos outros salmos de Israel (Sl 93.1; 97.1). Entretanto, não significa dizer
que Deus governa as nações em sentido político-econômico.
As
nações diante da grandeza de Deus são como uma gota que cai de um balde, o pó
miúdo das balanças, são menos do que nada perante Ele (Is 40.15,17). O fato de
Deus intervir na História Humana quando lhe aprouver e com propósitos, não
comporta o chavão evangelical de que “Deus tudo governa e
controla”. Ele o faz pela circunstância e objetivamente (Dn 4.31-32;
5.1-30). O Senhor Jeová, no coletivo, não tem uma relação com as nações pagãs e
ímpias.
Em I Sm 8.1-22, Israel pede mudanças da Teocracia
para Monarquia e se constituísse reis sobre a nação. E Deus disse que o povo
estava rejeitando-o para que não mais reinasse sobre ele (I Sm 8.7-8). Uma
Monarquia com o dedo de Deus se seguiu. E mais tarde, a salvação veio dos judeus
(Jo 4.22) por Jesus Cristo como previsto no Plano Divino da Redenção.
O
governo político-econômico da Terra Deus deu ao homem, em jurisdição e por
áreas, desde o princípio (Sl 8.3-9;113.5-6;115.16; Rm13.1-7; Ef 4.11-12;6.1-2).
– Veja
artigo: http://samuca-borges.blogspot.com/2022/06/deus-principios-limites-juridicionais.html
E
vai no “pacote” direitos, deveres e as responsabilidades, além das implicações
da queda espiritual do homem no Éden. O que Deus não deu ao homem foi domínio
sobre outro homem. Aliás, a História da Humanidade está marcada com muito
sangue derramado por causa do domínio humano sobre os seus semelhantes. É o
mais primitivo abuso de poder. Ele deu ao homem governo político, a gestão
sobre os recursos naturais da Criação (Gn 1.26-31). A queda do homem
no Éden não alterou essa decisão divina, na verdade, agravou, complicou o
governo humano na Terra (Gn 3.11-24).
Vemos
nos evangelhos que Jesus foi aclamado Rei em Jerusalém pelas multidões, uma na
frente e outra atrás, e cumpriu-se a profecia a esse respeito (Lc 19.28-44).
Porém, não reinou politicamente em Jerusalém. Ele pregava o Evangelho do Reino
de Deus. Onde houve aceitação por fé da sua mensagem ali se fez Reino de Deus.
E o ministério terreno de Jesus foi efetivamente Reino de Deus na terra em
curas, milagres, libertações, vitória sobre a morte e salvação para os que
creram.
A
vontade soberana de Deus continua inviolável e se cumprirá na sua totalidade
(Is 43.13;46.9-10), em relação a tudo que criou e sustenta. Na presente
Dispensação da Igreja, o Pai deu ao Filho todo o poder, nos Céus e na Terra (Mt
28.18; Jo 3.35). E afirmo: A Igreja Cristã é a maior expressão do Reino
de Deus na Terra.
O
Deísmo é uma deturpação da Soberania de Deus - Crença que, apesar
de admitir a existência do Ser Supremo, ensina que ele não está interessado no
curso que a história toma ou venha tomar. Ou seja, Deus nos criou e nos
abandonou à própria sorte. É a distorção do teísmo bíblico.
O Teísmo bíblico ensina acerca de um Deus pessoal e que de
várias formas tem se revelado aos homens, visando relacionar-se com eles. Já o Teísmo
Aberto, a Teologia do Processo está contaminado de heresias, inclusive
questiona a onipotência e a onisciência divina.
O chavão “Deus está no controle
de tudo” padece de respaldo bíblico. E “achar” que Ele controla a tudo e todos
não o faz mais Soberano do que Ele é. Só lhe impõe mais responsabilidade como o
Criador e Senhor e serve para omitir a dos homens.
Ao
analisarmos a humanidade alienada de Deus, devemos considerar o agir do maligno
que por natureza é iníquo, perverso com total ausência de bondade (II Ts 2.7-8).
E a pecaminosidade humana com suas consequências em não atentar para obedecer a
Deus (Ec 12.13-14).
Em
outras palavras, a grande massa de humanos evidencia o trágico estado da
natureza humana caída (Rm 3.23;6.23) e a agenda do diabo em ação: Mentir,
roubar, matar e destruir (João 8.44;10.10).
Jean
Paul Sartre (1905-1980), um dos principais filósofos existencialista, escritor
e crítico francês, dizia: “Viver é isto: ficar se equilibrando o tempo todo,
entre escolhas e consequências”.
O
erro grave em Sartre foi ignorar Deus no seu existencialismo exacerbado.
O
mundo incrédulo está sob domínio do maligno e em rebelião contra Deus.
O
diabo é o deus deste mundo, sistema de valores opostos, contrários a Deus (Jo
14.30; 16.11; II Co 4.4; Gl 1.4; Ef 6.12; Hb 2.14).
João
3.36 - A ira (juízo, indignação) de Deus permanece sobre os filhos da
desobediência, ou seja, aqueles que não tem dado crédito ao seu chamado de amor
e misericórdia (Is 55.6-7; Mt 11.28-30).
I
João 2.13-14 – A Igreja, pelo conhecimento de Deus, pela Palavra, no nome de
Jesus (Mc 16.17), podemos resistir (Tg 4.7) e vencer o poder das trevas (Lc
22.53; At 26.18;). O poder das trevas é real, entretanto, tem
limitações (Jó 1.12;2.5-7; Atos 19.15; I Jo 5.18; II Ts 3.3). As portas do
inferno não prevalecerão contra a Igreja (Mt 16.18).
Deus não governa o mundo
ímpio e nem se relaciona com o homem no pecado.
Jeremias 29.11 – “Porque eu bem sei os pensamentos
que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal,
para vos dar o fim que esperais”. Palavras
do profeta aos cativos em Babilônia, quando não ouviram os muitos apelos da
parte de Deus, com promessa de restauração (Jr 29.10).
Do
mesmo modo, Deus tem agido, chamando a Humanidade ao arrependimento pela
pregação do evangelho (Mc 16.15-16; Jo 3.16). Com uma diferença: O juízo sobre
a nação de Israel era por um tempo determinado, vara de correção. Com o homem
no pecado e nele permanecendo, chegará o momento em que o juízo será
definitivo.
Assim
sendo, a expressão “Deus está no controle de tudo é bíblica”?
Não! E tem servido para quê?
a)
Primeiro, não exalta a Soberania de Deus, pelo contrário, a torna ordinária e
esdrúxula.
b)
Tenta justificar um determinismo cego nos acontecimentos sobre a raça humana. O
homem foi criado um ser pessoal, moral, intelectual e espiritual, à imagem e
semelhança do seu Criador, não como um fantoche inanimado (Gn 1.26-27). O homem
é um ser com consciência racional, com discernimento do certo e do
errado. Não é um mamulengo, um boneco de pano sem espírito e alma.
Como a porta da perdição é larga, a maioria segue por ela (Mt 7.13).
c)
Leva o homem a se esquivar da responsabilidade de seus atos e se omitir na luta
contra o pecado (Lm 3.39; Is 55.7; Pv 28.13; Hb 12.4).
d)
Ofusca a realidade do mundo espiritual a partir de onde age o maligno com
repercussões destrutivas sobre as nações e os humanos (Is 14.12-16; Jó 1.6-7;
Jo 10.10; Ef 6.10-13; Hb 2.14).
Conclusão
Reflexiva
O que tem afetado a Humanidade é consequência da violação da Vontade
Moral de Deus, a quebra de seus mandamentos e preceitos.
A sentença da serpente em Gn 3.14 foi a maldição de rastejar sobre o seu
ventre e comer pó por toda a sua existência. Parafraseando o texto: O diabo se
alimenta da carne, a natureza caída dos homens na incredulidade. Os que andam
na carne não podem agradar a Deus (Rm 8.8). O encardido continua cumprindo a
sua agenda: Matar, roubar e destruir (Jo 10.10) porque encontra “pasto” para
comer e espaço para agir (Ef 4.27).
Autor
desconhecido - “Deus é tão generoso, que te dá a liberdade de plantar o que
quiser, e ele é tão justo, que você colhe exatamente o que plantou”.
Numa
visão ampla, Deus tem total domínio sobre a sua Criação e intervém no mundo dos
humanos quando são ações que têm a ver com seus desígnios eternos na consecução
de seus propósitos soberanos. Vemos isto muito claro em Rute, Ester e Daniel,
por exemplo. Deus deu e respeita o livre arbítrio dado ao homem. Ele não decide
pelo homem. E feliz do homem e da mulher que busca a direção de Deus para tomar
decisões e fazer escolhas.
Deus
detém o poder sobre toda a Criação (Sl 113.4-6), no sentido de haver
estabelecido Leis Universais para regê-la (Sl 103.19;104.1-5;19). Essas Leis os
cientistas descobriram algumas, na Física, Química, biológicas, astronômicas,
etc...
Este mundão gentílico é uma
tapera e a Igreja Cristã a forquilha de sustentação. Quando a Igreja for
arrebatada, se saberá o real valor da Noiva do Cordeiro na Terra.
Tanto
no Plano da Salvação, bem como no existencial humano, os ensinos e doutrinas
que levam ao extremo a Soberania de Deus, sem necessidade, e não consideram
outros aspectos da vontade divina, reduz o homem a uma marionete sem
responsabilidade pelos seus atos.
Em pese a trajetória humana com tantos conflitos bélicos, a Terra
manchada de sangue, calamidades naturais, pestilências, doenças, epidemias,
pandemia, a Soberania de Deus está intacta. E vem sendo exercida com
Independência Plena.
Infelizmente, tenho observado segmentos cristãos alimentados,
fermentados diretamente pelo pensamento monergista, onde um deus carrasco faz e
desfaz de tudo e de todos como fantoches, num determinismo cego e avassalador, ao
tempo em que também vemos a Igreja Cristã, em geral, influenciada na literatura
e nos púlpitos, comendo e ensinando essas crenças de forma subliminar,
fragmentadas em chavões genéricos de meias verdades e até antibíblicos.
Que Deus nos conceda mais discernimento, vigilância em prol da ortodoxia
que evidencie bases escriturísticas, não pensamentos históricos de humanos
religiosos defendidos como relíquia. Deus seja conosco na jornada de seguir a
Cristo em temor e tremor, o Espírito Santo nos guiando em toda a verdade, até
que Ele venha arrebatar a sua Igreja. Amém!
Por Samuel Pereira de Macedo Borges
Bacharel em Direito e Teologia
Natal/RN, 01/06/2022 (revisão em 18/08/2024).