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segunda-feira, 6 de junho de 2022

O paradoxo da morte de cada dia


Quando o luto trabalha em favor da vida

 - Por Lissânder Dias


O corpo inerte no corredor da varanda de casa foi a surpresa mais trágica que já vivemos em família. Era meu pai que estava lá, caído em um silêncio mortal e triste. A cena é difícil de apagar da memória de minha mãe, a primeira pessoa a testemunhá-la. Nós filhos, que moramos em cidades diferentes, de outros cantos do país, chegamos no dia seguinte, graças a uma conjugação favorável nos horários de voos, e assim pudemos providenciar sua despedida.

Se para mim a morte de meu pai – vítima de um infarto fulminante – foi única, a verdade é que o mesmo fato acontece milhares de vezes todos os dias, horas, minutos e segundos. Filhos, cônjuges, pais, avós, amigos, pastores, missionários... a morte faz parte da vida.

É verdade que nosso “último inimigo a ser destruído é a morte” ( I Co 15.26), mas há um motivo pelo qual ela está, digamos, no “final da fila”. Ou mesmo vários. O fato é que, se olharmos nos noticiários, e ao nosso redor, vamos encontrá-la, a morte. Das noites frias das cidades grandes aos quartos escuros de uma periferia esquecida; dos leitos dos hospitais às montanhas de gelo; da dor de um ataque cardíaco inesperado ao fim injusto de anos de preconceito e discriminação. Ela está lá. Fria, calculista, sem emoções. Como enfrentá-la?

A resposta não é tão fácil, mas me parece que nos falta compreender ainda mais o que é viver. Quando vivemos uma vida superficial e fútil, sem significado maior, sem esperança eterna, estamos perdendo a batalha para a morte – mesmo que não literalmente ainda. O que fazemos todos os dias com nossa existência ordinária faz toda a diferença quando ela um dia cessar. Não há chamado mais urgente e necessário. Semelhante é o senso de urgência de um Deus que bate à porta e espera que ouçamos sua voz e abramos já nosso coração para sua companhia (Ap 3.20).

O que talvez aqueles que ainda não experimentaram o luto não percebem é que a morte também trabalha em favor da vida. Paradoxalmente, ela desperta os vivos para a singularidade do “pneuma” (como diriam os filósofos). Viver é algo tão importante que Deus enfrentou a morte para que pudéssemos experimentar a eternidade.

É verdade que as lágrimas existem, e estas não devem ser desprezadas; Deus não é indiferente a elas (Ap 21.4). Ao mesmo tempo, a morte também nos torna mais humanos, mais honestos com nossos limites e mais sensíveis à dor do outro. A saudade que permanece evoca boas lembranças do outro e nos faz valorizar ainda mais a simples presença e o amor que entrelaçam vínculos. Em tempos de relacionamentos virtuais, esse é um aviso importante.

Erra quem pensa que viver é negar a morte. Ao contrário, quando admitimos a presença indesejada do que é mortal, enxergamos melhor a riqueza que temos em nossas mãos – dádiva de quem soprou nossas narinas e nos tornou seres viventes (Gn 2.7). Por hora, é finita; daqui a pouco, será infinita.

Ao vivenciar o luto pela perda de meu pai, tenho aprendido a discernir a essência de minha vida. Deparo-me com o significado da simplicidade, admiro o caráter de quem é fiel ao que acredita, encanto-me com o sentido de vocação e missão que enfrenta qualquer coisa. Olho para minha própria jornada e me sinto desafiado por Deus a dar continuidade a um legado simples e bonito que meu pai deixou. Ao calçar suas sandálias e me autoavaliar, enxergo os passos seguintes e encontro um homem mais parecido com o que Deus quer que eu seja.

• Lissânder Dias é jornalista e assessor editorial da UniCesumar. Colabora há muitos anos com Ultimato.

Fonte: Revista Ultimato – Setembro-Outubro 2021.

Quando Cristo é confessado o Senhor e Salvador, bradamos como o apóstolo Paulo acerca do arrebatamento da Igreja e da ressurreição:

I Coríntios 15.51-57:

“Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então, cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo”.

Postagem Por Samuel P  M Borges

Natal/RN - 06/06/2022.

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