- Por Lissânder Dias
O corpo inerte no corredor da varanda de casa foi a surpresa mais trágica que
já vivemos em família. Era meu pai que estava lá, caído em um silêncio mortal e
triste. A cena é difícil de apagar da memória de minha mãe, a primeira pessoa a
testemunhá-la. Nós filhos, que moramos em cidades diferentes, de outros cantos
do país, chegamos no dia seguinte, graças a uma conjugação favorável nos
horários de voos, e assim pudemos providenciar sua despedida.
Se para mim a morte de meu pai – vítima de um infarto fulminante – foi única, a
verdade é que o mesmo fato acontece milhares de vezes todos os dias, horas,
minutos e segundos. Filhos, cônjuges, pais, avós, amigos, pastores,
missionários... a morte faz parte da vida.
É verdade que nosso “último inimigo a ser destruído é a morte” ( I Co 15.26),
mas há um motivo pelo qual ela está, digamos, no “final da fila”. Ou mesmo
vários. O fato é que, se olharmos nos noticiários, e ao nosso redor, vamos
encontrá-la, a morte. Das noites frias das cidades grandes aos quartos escuros
de uma periferia esquecida; dos leitos dos hospitais às montanhas de gelo; da
dor de um ataque cardíaco inesperado ao fim injusto de anos de preconceito e
discriminação. Ela está lá. Fria, calculista, sem emoções. Como enfrentá-la?
A resposta não é tão fácil, mas me parece que nos falta compreender ainda mais
o que é viver. Quando vivemos uma vida superficial e fútil, sem significado
maior, sem esperança eterna, estamos perdendo a batalha para a morte – mesmo
que não literalmente ainda. O que fazemos todos os dias com nossa existência
ordinária faz toda a diferença quando ela um dia cessar. Não há chamado mais
urgente e necessário. Semelhante é o senso de urgência de um Deus que bate à
porta e espera que ouçamos sua voz e abramos já nosso coração para sua
companhia (Ap 3.20).
O que talvez aqueles que ainda não experimentaram o luto não percebem é que a
morte também trabalha em favor da vida. Paradoxalmente, ela desperta os vivos
para a singularidade do “pneuma” (como diriam os filósofos). Viver é algo tão
importante que Deus enfrentou a morte para que pudéssemos experimentar a
eternidade.
É verdade que as lágrimas existem, e estas não devem ser desprezadas; Deus não
é indiferente a elas (Ap 21.4). Ao mesmo tempo, a morte também nos torna mais
humanos, mais honestos com nossos limites e mais sensíveis à dor do outro. A
saudade que permanece evoca boas lembranças do outro e nos faz valorizar ainda
mais a simples presença e o amor que entrelaçam vínculos. Em tempos de
relacionamentos virtuais, esse é um aviso importante.
Erra quem pensa que viver é negar a morte. Ao contrário, quando admitimos a
presença indesejada do que é mortal, enxergamos melhor a riqueza que temos em
nossas mãos – dádiva de quem soprou nossas narinas e nos tornou seres viventes
(Gn 2.7). Por hora, é finita; daqui a pouco, será infinita.
Ao vivenciar o luto pela perda de meu pai, tenho aprendido a discernir a
essência de minha vida. Deparo-me com o significado da simplicidade, admiro o
caráter de quem é fiel ao que acredita, encanto-me com o sentido de vocação e
missão que enfrenta qualquer coisa. Olho para minha própria jornada e me sinto
desafiado por Deus a dar continuidade a um legado simples e bonito que meu pai
deixou. Ao calçar suas sandálias e me autoavaliar, enxergo os passos seguintes
e encontro um homem mais parecido com o que Deus quer que eu seja.
• Lissânder Dias é jornalista e assessor editorial da UniCesumar. Colabora
há muitos anos com Ultimato.
Fonte: Revista Ultimato –
Setembro-Outubro 2021.
Quando Cristo é confessado o Senhor e Salvador, bradamos como o apóstolo Paulo acerca do arrebatamento da Igreja e da ressurreição:
I Coríntios 15.51-57:
“Eis aqui vos digo um
mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num
momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta
soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque
convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto
que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se
revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da
imortalidade, então, cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a
morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a
tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas
graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo”.
Postagem Por Samuel P M Borges
Natal/RN - 06/06/2022.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
INCLUIR COMENTÁRIO!