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quinta-feira, 16 de julho de 2020

Quem são os escolhidos ou eleitos de Deus na Bíblia?



Escolher, escolhido, tem o sentido de eleger, eleito, respectivamente. Eleição, portanto, é um ato de escolha, preferência.

É muito comum vermos pessoas se achando ou se afirmando “escolhidas de Deus”. Outras, emitem palavras de bênçãos sobre pessoas como se estas fossem “escolhidas por Deus” sem nenhum critério bíblico, sem um exame mínimo do nível de relacionamento com Deus.

O termo escolhido deve estudado no contexto de cada texto onde encontrado.
Vejamos nas Escrituras quem são escolhidos, ou eleitos de e por Deus e quais são os seus propósitos.  

Is 42.1-3,6; Mt 12.18 - Jesus, escolhido, eleito o redentor -  Viria para restaurar as tribos de Israel, para luz dos gentios e salvação de Deus (Lc 2.25-38; 3.6), sobre toda a terra (Is 49.1-3,6-7). No Novo Testamento esta verdade redentiva é completamente revelada (Jo 3.36;14.6; At 4.12; I Tm 2.5). No Antigo Testamento, estava em processo gradativo de revelação.

At 4.11; I Pd 2.4,6-7 – Jesus, a principal pedra de esquina - Reprovada pelos homens e para com Deus eleita e preciosa. O salvador, pedra de fundamento da fé cristã (I Co 3.11;12.2). Quem nela crê não será confundido (Rm 9.33).

Ef 1.4 - Em Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29), todo salvo foi eleito nele, antes da fundação do mundo. Na presciência de Deus, o Cordeiro havia sido morto, em sacrifício propiciatório (I Jo 2.2; Hb 2.9) desde a fundação do mundo (I Pd 1.19-20; Ap 13.8).

Hb 12.2 - Enfim, Jesus é autor e consumador da fé, de todo o que nele crê para sua salvação.  Obviamente, envolve o Senhorio de Cristo e relacionamento com o crente.

Israel – Povo Eleito – Todos sabemos pelas Escrituras que é povo escolhido (Is 44.1-2), constituído povo de Deus a partir da chamada de Abraão (Gn 12.1-4; Is 41.8-10). São filhos de Deus por eleição, segundo a Soberania de Deus e irrevogável (Rm 11.29).

Na Monarquia em Israel, a pedido do povo (I Sm 8.1-22), vemos o trabalhar de Deus nas escolhas, especialmente, dos três primeiros reis, período nominado de Reino Unido. E com destaque para relação de Deus com Davi (I Sm 16.1, 12-13; Sl 88.3-4;89.19-20). 

I Cr 16.13 - Israel – Povo eleito, “o meu eleito” (Is 45.4).

Dt 4.32-40 - Israel, povo escolhido por Deus, em meio aos pagãos.  O texto declara que Deus nunca se revelou a nenhum povo, como se revelou aos Israelitas, descendentes de Abraão, Isaque e Jacó.

Ne 9.7-8 – Povo eleito a partir de Abraão, com quem fez aliança, prometeu e lhes deu a terra de Canaã para habitação.

Is 41.8-10 – Povo eleito, semente de Abraão, amigo de Deus. Israel como um servo escolhido, a quem Deus ajuda e sustenta com a destra da sua justiça.

Sl 33.12 - Davi tinha plena consciência de ser parte de um povo escolhido, herança de Deus. 

Sl 65.4 – Segundo Davi, um escolhido era um Bem-aventurado.

Sl 100 – No Livro dos Cânticos de Israel, inicia convidando a todos os moradores da terra a celebrar com alegria ao Senhor. Todavia, é um salmo que declara a chamada específica da nação de Israel (Sl 100.3), que muitos espiritualizam e aplicam também à Igreja Cristã. 

Rm 9.4 – Israel, Guardião dos Oráculos Divinos – “...dos quais é a adoção de filhos (por eleição), a glória, os concertos, a Lei, o culto (mosaico) e as promessas e pais de Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos...”

Is 10.22-23; Rm 9.27;11.5 – O remanescente de Israel, parece ter um cunho escatológico, e mais precisamente, no final da Grande Tribulação. Zc 13.7-9, faz referência a duas partes extirpadas e a terceira parte restará nela, ou seja, na terra de Israel. Entendemos ser na reta final da GT no contexto do Oriente Médio (Zc 12-1-14).

Mc 13.19-20, Mt 24.22,31 – No seu sermão profético Jesus faz menção aos escolhidos (judeus no contexto da Grande Tribulação), e aqueles dias serão abreviados por causa deles. Pelo escopo geral das Escrituras, entendemos que Deus voltará a tratar diretamente com Israel, logo após o arrebatamento da Igreja.  Vivemos a Dispensação da Igreja desde o Dia de Pentecostes.

Em síntese, propósitos da Eleição (escolha) de Israel:

1.Para receber, transmitir e preservar as revelações divinas (Dt 4.5-8, Rm 3.1-2; Rm 9.4).

2.Dá testemunho da unidade da Divindade em meio a idolatria politeísta (Dt 6.4; Is 43.10-12).

3.Serviria para ilustração da bênção daqueles que servem ao verdadeiro Deus. (Dt 33.26-29; Ml 3.16-18).

4.E ser o canal humano para a vinda do Messias (Gn 21.12; 28.10,14; 49.10; II Sm 7.16-17; Is 7.13-14; Rm 9.4-5; Atos 13.22-23).

A Igreja – Eleita em Cristo Jesus (Ef 1.3-4; II Co 5.17), segundo a presciência de Deus (I Pd 1.2).

Deus, no coletivo, elegeu a Igreja desde a eternidade, antes da fundação do mundo, segundo a sua presciência (Ef 1.4; I Pd 1.2).

A eleição para a salvação em Cristo é oferecida a todos (Jo 3.16; I Tm 2.4-6; Rm 1.16). Portanto, a Eleição é Cristocêntrica. 

E torna-se uma realidade para cada pessoa de acordo com seu prévio arrependimento e fé (Mc 1.14-15; Ef 1.13;2.8; 3.17).

I Ts 1.4 – Paulo afirma à Igreja de Tessalônica – a vossa eleição é de Deus.

II Pd 1.10 – Pedro admoesta, aos irmãos, a fazer cada vez mais firme a vocação e eleição.  

Cl 3.12 – Paulo nomina a Igreja em Colossos, como eleitos de Deus, santos e amados... 

I Pd  2.9 – a Igreja é chamada de geração eleita, sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido....

Tito 1.1 – Paulo afirma que era servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus...

Textos diversos relacionados ao tema – Breves comentários:

Mt 22.14 – “Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”. 

Mt 22.1-14 – O texto e contexto trata da Parábola das Bodas, aplicada por Jesus aos judeus de seus dias, antevendo a rejeição de sua mensagem.  Muitos judeus ficaram de fora na festa do filho do rei (Vv. 2), por falta de dignidade dos convidados (Vv 8); outros foram convidados (Vv. 9-10, Mc 16.15-16 - os gentios). Porém, todos deverão estar na festa com vestes espirituais (Vv 11), vestidos da justiça de Cristo, pela graça. 

O fato de Israel, no coletivo, possuir uma chamada/escolha soberana de Deus, desde Abraão (Gn 12.1-4), não outorga salvação individual e automática a todos os judeus.

Mt 21.32 – Pela falta de arrependimento e fé, Jesus foi deixando claro, por parábolas, aos judeus, que eles estavam perdendo a bênção do Reino de Deus, por um tempo (Mt 21.31;Rm 11.11-12,15,25), mesmo sendo o povo da promessa, por causa de sua incredulidade (Mt 21.32).

Mt 21.33-46 - Príncipes dos sacerdotes e fariseus foram considerados por Jesus lavradores maus. 

Mc 16.15-16 - A salvação é ofertada, pela pregação do evangelho a todos. Porém, serão salvos em Cristo, os que aplicarem fé na mensagem da cruz (Rm 1.16;10.16). 

Rm 10.16 – O braço do Senhor se manifesta sobre os que creem no Evangelho, uma vez que a fé vem pelo ouvir (Rm 10.17). Ou melhor, a pregação tem efeito, pelo convencimento para arrependimento e leva o pecador à salvação em Cristo, quando existe fé, o ato de crer (Ef 1.13). Em Ef 2.8 o dom, a dádiva é a salvação, não a fé. Esta cabe ao homem confessá-la, exercitá-la em Cristo, o salvador. E se desse fé a uns, a outros não, estaria incorrendo em acepção de pessoas. 

A Eleição, a Fé e a Expiação em poucas linhas

É relevante compreender à luz das Escrituras:  Como frisei acima, a eleição é coletiva para o corpo de Cristo, a Igreja. A responsabilidade de responder positivamente ao chamado de Deus pela graça é individual. A graça capacita a crê todos os homens que ouvem atentamente a pregação do evangelho. Jesus disse: “Se alguém tem sede, que venha a mim e beba” (Jo 7.37-38). Como a vontade perfeita, plena de Deus era salvar a todos os homens, vindo ao conhecimento da verdade (I Tm 2.4), a graça de Deus precisa ter estudada e crida em três aspectos: Preveniente, subsequente e universal.  Sem a graça de Deus, o homem caído só poderia externar a pobre fé natural, genérica, não a salvífica.  

Por outro lado, este mesmo homem caído é instruído a buscar a Deus, o Senhor, enquanto se pode achar (Is 55.6-7). O homem precisa assumir o seu estado, confessá-lo e deixá-lo para alcançar misericórdia (Pv 28.13). Nestes termos, diz respeito à responsabilidade individual que no seu bojo, o pai não responde pelo filho, nem o filho pelo pai (Ez 18.20). "A alma que pecar, essa morrerá".

Sem sombra de dúvidas, a graça divina tem efeito eficaz quando a pregação do evangelho é recepcionada nos corações dos que a ouvem para segui-la e obedecê-la (Mc 16.15-16; Hb 4.2).

Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do Mundo (da humanidade). O Espírito veio para convencer o mundo (humanidade), do pecado da justiça e do juízo. Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo (II Co 5.19). Em I João 2.2 – “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”. Isto é, o sacrifício de amor por todo o mundo (da humanidade) de João 3.16 é suficiente para salvar a todos os homens. As Escrituras não comportam o ato da expiação limitada. Voltemo-nos às Escrituras. 

*Expiação – O ato de purificar, expiar, pagar pelas culpas e pecados. Por meio da Expiação de Jesus Cristo, na cruz, todo crente é purificado da mancha e da culpa dos seus pecados e reconciliados com o Pai Celestial (Jo 1.29; II Co 5.19; Ef 2.1;I Jo 1.7; 2.2; I Pd 1.18-19; Ap 5.8-9).

Mt 7.13-14 - A porta é estreita e apertado o caminho.....para salvação. De fato, a salvação é pela graça de Deus, porém não é barata. Tem inestimável valor espiritual.

Lc 18.7 – No texto os escolhidos de Deus, a quem Ele fará justiça, atenderá as suas orações, são todos os salvos em Cristo Jesus. E que perseveram na oração. Ao pecador temente, obediente, a este Deus ouve (João 9.31).

Rm 8.33 – Quem pode ser contra os escolhidos de Deus? Estes escolhidos são todos os salvos, justificados por Jesus, pelos seus méritos no calvário, mediante o que preceitua Rm 8.1 – “...nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus...”. E o determinante é está em Cristo.

Chamada geral para salvação (Mc 16.15-16; Jo 3.16; Rm 1.16) versus Chamadas Específicas – Dentro ou no curso do Plano Divino Redentivo, vemos nas Escrituras que Deus age, trabalha por  soberania com chamadas e escolhas específicas, segundo os seus propósitos eternos. No coletivo com a nação de Israel e individualmente com algumas pessoas. A Igreja, em Cristo e por Cristo, somos escolhidos (Ef 1.4). A Eleição envolve a fé salvífica (Ef 1.13.2,8; 3.17). Não basta uma fé genérica em Deus sem andar com Ele (Gn 5.24).

Exemplos de chamadas específicas:

De Abraão – Gn 12.1-4 – Com propósitos soberanos e eternos para constituir a nação de Israel. Com Isaque e Jacó foram ratificações do que Deus prometera a Abraão.

De José, filho de Jacó – Gn 37-50 – Até José só entendeu o trabalhar soberano de Deus, no fim dos seus dias, pois visava salvar, perpetuar a nação de Israel. Ou seja, tudo o que se passara com ele, estava muito além de seus interesses e temor pessoal a Deus. 

Do profeta Jeremias –  Jr 1.4-5 – Jeremias no meio de um povo escolhido, recebe um chamado específico para profeta em Israel e para com as outras nações. Uma chamada dessa natureza dá certamente muito mais segurança a quem é vocacionado para servir ao Senhor. Porém, não é com todos que Deus agia e age e assim.

A chamada dos doze discípulos (aprendizes, depois apóstolos) – Lc 6.12-16; Jo 6.67-71;15.16 – Jesus para compor o grupo dos doze, nem mais, nem menos, declara em João 15.16 que foi uma escolha dele, embora não tire a responsabilidade de nenhum deles pelos seus atos, ações e omissões. Daí, entre eles tinha até um traidor. Pedro negou a Jesus. Essa chamada muitos aplicam à igreja em geral, mas se trata de uma chamada específica.
No início do ministério de Jesus, Ele os escolheu. Hoje, somos escolhidos, eleitos em Cristo ao ouvir a palavra da verdade, o evangelho da salvação, e nele crê (Ef 1.4,13). Em atos 1.15-26, vemos os apóstolos, fazendo a escolha de Matias, para recompor o ministério e apostolado. De modo que, simbolicamente, na Bíblia o número 12 é uma representação tanto da totalidade de Israel, como da Igreja Cristã. Creio piamente que os 24 anciãos de Ap 4.10-11, representa Israel e a Igreja, no mundo espiritual, diante do Trono de Deus.

O Apóstolo Paulo – At 9.3-6;15-16 – Recebeu também uma chamada especifica. Podemos afirmar que Deus o escolheu a dedo (At 9.15-16) para pregador, apóstolo e doutor dos gentios (Rm 11.13; I Tm 2.7; II Tm 1.11). E foi o canal humano que Deus capacitou para fazer a transição do Judaísmo para o Cristianismo, debaixo de muita perseguições e sofrimentos por causa do Evangelho de Jesus (II Tm 1.12; 2.10).  Ele falando como judeu, em meio a rejeição do messias pelas autoridades religiosas de Israel, narrava o seu encontro pessoal com Jesus como o abortivo (nascido antes do tempo) e afirmava não ser digno de ser chamado apóstolo, pois havia sido um perseguidor da Igreja (I Co 15.8-9).

É importante frisar: Uma chamada específica da parte de Deus é muito honrosa, entretanto envolve maior responsabilidade de quem a recebe (Rm 1.1,14,16; I Co 9.16).

Diante do que dissecamos, cabe-nos, humildemente, tirar algumas conclusões acerca do termo escolhidos, eleitos de Deus e por Deus:

Deus tem a prerrogativa soberana de fazer escolhas específicas com propósitos salvíficos, sem em nenhum momento ferir o seu caráter justo e santo, nem atropelando o livre arbítrio dado aos homens (Gn 4.7; Jó 1.1; Dt 30.15-19; Ec 12.13-14; Mc 16.15-16).

Sl 139.1-24 – Davi, no Livro dos Cânticos de Israel, em linguagem poética disserta sobre a Onipresença e a Onipotência de Deus e faz destaque nos versículos 13-16 acerca do milagre e da geração da vida. O texto não trata de seletividade por Deus para destino A ou B do ser que Ele o criou à sua imagem e semelhança. O que se pode frisar é que Davi foi um escolhido por Deus para ser rei em Israel, com chamada específica no contexto de um povo eleito. Porém, não aplicável a outras pessoas genericamente.

Deus não faz acepção de pessoas, seja no âmbito material ou espiritual (Dt 10.17; II Cr 19.7; At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; I Pd 1.17). Jamais precisará fazer algo como média com os humanos.

É tolice falhos humanos se sentirem diante de Deus, “queridinhos dele”, e em pecado continuadamente, sem arrependimento, e sem um sério relacionamento com Ele.

Existem, pelo menos, três erros críticos a serem evitados a respeito do vocábulo escolhidos ou eleitos:

1.Não respeitar a especificidade da chamada coletiva e a individual;

2.Aplicar chamadas divinas, diretivas, de forma genérica a outras pessoas;

3.E terceiro, aplicá-las a si mesmo, principalmente quando é de bênção, em especial, para salvação. Pode até ser pecado de autopiedade, quando somos ensinados andar na piedade.

Fontes:
Bíblia Sagrada.
Anotações pessoais do blogueiro.
As Parábolas de Jesus e a Resposta Humana – Uma análise a partir da soteriologia arminiana – Carlos Kleber Maia – Editora Santorini 2022. 1ª Edição.


Por Samuel Pereira de Macêdo Borges
Bacharel em Direito e Teologia
Natal RN – 16/07/2020.  Revisão em 03/01/2023.

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