Escolher, escolhido, tem o
sentido de eleger, eleito, respectivamente. Eleição, portanto, é um ato de escolha,
preferência.
É muito comum vermos pessoas
se achando ou se afirmando “escolhidas de Deus”. Outras, emitem palavras de
bênçãos sobre pessoas como se estas fossem “escolhidas por Deus” sem nenhum
critério bíblico, sem um exame mínimo do nível de relacionamento com Deus.
O termo escolhido deve
estudado no contexto de cada texto onde encontrado.
Vejamos nas Escrituras quem
são escolhidos, ou eleitos de e por Deus e quais são os seus propósitos.
Is
42.1-3,6; Mt 12.18 - Jesus, escolhido, eleito o redentor - Viria para restaurar as tribos de Israel, para
luz dos gentios e salvação de Deus (Lc 2.25-38; 3.6), sobre toda a terra (Is
49.1-3,6-7). No Novo Testamento esta verdade redentiva é completamente revelada
(Jo 3.36;14.6; At 4.12; I Tm 2.5). No Antigo Testamento, estava em processo gradativo de revelação.
At 4.11; I Pd 2.4,6-7 – Jesus,
a principal pedra de esquina - Reprovada pelos homens e para com Deus eleita e
preciosa. O salvador, pedra de fundamento da fé cristã (I Co 3.11;12.2). Quem
nela crê não será confundido (Rm 9.33).
Ef 1.4 - Em Jesus, o Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29), todo salvo foi eleito nele, antes
da fundação do mundo. Na presciência de Deus, o Cordeiro havia sido morto, em
sacrifício propiciatório (I Jo 2.2; Hb 2.9) desde a fundação do mundo (I Pd
1.19-20; Ap 13.8).
Hb 12.2 - Enfim, Jesus é autor
e consumador da fé, de todo o que nele crê para sua salvação. Obviamente, envolve o Senhorio de Cristo e relacionamento com o crente.
Israel
– Povo Eleito – Todos sabemos pelas Escrituras que é povo
escolhido (Is 44.1-2), constituído povo de Deus a partir da chamada de Abraão (Gn
12.1-4; Is 41.8-10). São filhos de Deus por eleição, segundo a Soberania de
Deus e irrevogável (Rm 11.29).
Na Monarquia em Israel, a pedido do povo (I Sm 8.1-22), vemos o trabalhar de Deus nas escolhas, especialmente, dos três primeiros reis, período nominado de Reino Unido. E com destaque para relação de Deus com Davi (I Sm 16.1, 12-13; Sl 88.3-4;89.19-20).
I Cr 16.13 - Israel – Povo
eleito, “o meu eleito” (Is 45.4).
Dt 4.32-40 - Israel, povo
escolhido por Deus, em meio aos pagãos.
O texto declara que Deus nunca se revelou a nenhum povo, como se revelou
aos Israelitas, descendentes de Abraão, Isaque e Jacó.
Ne 9.7-8 – Povo eleito a
partir de Abraão, com quem fez aliança, prometeu e lhes deu a terra de Canaã
para habitação.
Is 41.8-10 – Povo eleito, semente
de Abraão, amigo de Deus. Israel como um servo escolhido, a quem Deus ajuda e
sustenta com a destra da sua justiça.
Sl 33.12 - Davi tinha plena
consciência de ser parte de um povo escolhido, herança de Deus.
Sl 65.4 – Segundo Davi, um
escolhido era um Bem-aventurado.
Sl 100 – No Livro dos Cânticos
de Israel, inicia convidando a todos os moradores da terra a celebrar com
alegria ao Senhor. Todavia, é um salmo que declara a chamada específica da
nação de Israel (Sl 100.3), que muitos espiritualizam e aplicam também à Igreja
Cristã.
Rm 9.4 – Israel, Guardião dos
Oráculos Divinos – “...dos quais é a adoção de filhos (por eleição), a glória,
os concertos, a Lei, o culto (mosaico) e as promessas e pais de Cristo segundo
a carne, o qual é sobre todos...”
Is 10.22-23; Rm 9.27;11.5 – O remanescente
de Israel, parece ter um cunho escatológico, e mais precisamente, no final da Grande
Tribulação. Zc 13.7-9, faz referência a duas partes extirpadas e a terceira
parte restará nela, ou seja, na terra de Israel. Entendemos ser na reta final
da GT no contexto do Oriente Médio (Zc 12-1-14).
Mc 13.19-20, Mt 24.22,31 – No
seu sermão profético Jesus faz menção aos escolhidos (judeus no contexto da
Grande Tribulação), e aqueles dias serão abreviados por causa deles. Pelo
escopo geral das Escrituras, entendemos que Deus voltará a tratar diretamente
com Israel, logo após o arrebatamento da Igreja. Vivemos a Dispensação da Igreja desde o Dia
de Pentecostes.
Em
síntese, propósitos da Eleição (escolha) de Israel:
1.Para receber, transmitir e
preservar as revelações divinas (Dt 4.5-8, Rm 3.1-2; Rm 9.4).
2.Dá testemunho da unidade da
Divindade em meio a idolatria politeísta (Dt 6.4; Is 43.10-12).
3.Serviria para ilustração da
bênção daqueles que servem ao verdadeiro Deus. (Dt 33.26-29; Ml 3.16-18).
4.E ser o canal humano para a
vinda do Messias (Gn 21.12; 28.10,14; 49.10; II Sm 7.16-17; Is 7.13-14; Rm
9.4-5; Atos 13.22-23).
A
Igreja – Eleita em Cristo Jesus (Ef 1.3-4; II Co 5.17), segundo a presciência
de Deus (I Pd 1.2).
Deus, no coletivo, elegeu a
Igreja desde a eternidade, antes da fundação do mundo, segundo a sua
presciência (Ef 1.4; I Pd 1.2).
A eleição para a salvação em
Cristo é oferecida a todos (Jo 3.16; I Tm 2.4-6; Rm 1.16). Portanto, a Eleição
é Cristocêntrica.
E torna-se uma realidade para
cada pessoa de acordo com seu prévio arrependimento e fé (Mc 1.14-15; Ef
1.13;2.8; 3.17).
I Ts 1.4 – Paulo afirma à Igreja
de Tessalônica – a vossa eleição é de Deus.
II Pd 1.10 – Pedro admoesta,
aos irmãos, a fazer cada vez mais firme a vocação e eleição.
Cl 3.12 – Paulo nomina a
Igreja em Colossos, como eleitos de Deus, santos e amados...
I Pd 2.9 – a Igreja é chamada de geração eleita,
sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido....
Tito 1.1 – Paulo afirma que
era servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de
Deus...
Textos
diversos relacionados ao tema – Breves comentários:
Mt
22.14 – “Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”.
Mt 22.1-14 – O texto e
contexto trata da Parábola das Bodas, aplicada por Jesus aos judeus de seus
dias, antevendo a rejeição de sua mensagem.
Muitos judeus ficaram de fora na festa do filho do rei (Vv. 2), por
falta de dignidade dos convidados (Vv 8); outros foram convidados (Vv. 9-10, Mc
16.15-16 - os gentios). Porém, todos deverão estar na festa com vestes
espirituais (Vv 11), vestidos da justiça de Cristo, pela graça.
O fato de Israel, no coletivo,
possuir uma chamada/escolha soberana de Deus, desde Abraão (Gn 12.1-4), não
outorga salvação individual e automática a todos os judeus.
Mt 21.32 – Pela falta de
arrependimento e fé, Jesus foi deixando claro, por parábolas, aos
judeus, que eles estavam perdendo a bênção do Reino de Deus, por um tempo (Mt 21.31;Rm
11.11-12,15,25), mesmo sendo o povo da promessa, por causa de sua incredulidade (Mt
21.32).
Mt 21.33-46 - Príncipes dos
sacerdotes e fariseus foram considerados por Jesus lavradores maus.
Mc 16.15-16 - A salvação é
ofertada, pela pregação do evangelho a todos. Porém, serão salvos em Cristo, os
que aplicarem fé na mensagem da cruz (Rm 1.16;10.16).
Rm 10.16 – O braço do Senhor
se manifesta sobre os que creem no Evangelho, uma vez que a fé vem pelo ouvir
(Rm 10.17). Ou melhor, a pregação tem efeito, pelo convencimento para
arrependimento e leva o pecador à salvação em Cristo, quando existe fé, o ato
de crer (Ef 1.13). Em Ef 2.8 o dom, a dádiva é a salvação, não a fé. Esta cabe
ao homem confessá-la, exercitá-la em Cristo, o salvador. E se desse fé a uns, a outros não, estaria incorrendo em acepção de pessoas.
A Eleição, a Fé e a Expiação em poucas linhas
É relevante compreender à luz
das Escrituras: Como frisei acima, a
eleição é coletiva para o corpo de Cristo, a Igreja. A responsabilidade de
responder positivamente ao chamado de Deus pela graça é individual. A graça capacita
a crê todos os homens que ouvem atentamente a pregação do evangelho. Jesus
disse: “Se alguém tem sede, que venha a mim e beba” (Jo 7.37-38). Como a
vontade perfeita, plena de Deus era salvar a todos os homens, vindo ao
conhecimento da verdade (I Tm 2.4), a graça de Deus precisa ter estudada e
crida em três aspectos: Preveniente, subsequente e universal. Sem a graça de Deus, o homem caído só poderia
externar a pobre fé natural, genérica, não a salvífica.
Por outro lado, este mesmo homem caído é instruído a buscar a Deus, o Senhor, enquanto se pode achar (Is 55.6-7). O homem precisa assumir o seu estado, confessá-lo e deixá-lo para alcançar misericórdia (Pv 28.13). Nestes termos, diz respeito à responsabilidade individual que no seu bojo, o pai não responde pelo filho, nem o filho pelo pai (Ez 18.20). "A alma que pecar, essa morrerá".
Sem sombra de dúvidas, a graça
divina tem efeito eficaz quando a pregação do evangelho é recepcionada nos
corações dos que a ouvem para segui-la e obedecê-la (Mc 16.15-16; Hb 4.2).
Jesus é o Cordeiro de Deus que
tira o pecado do Mundo (da humanidade). O Espírito veio para convencer o mundo
(humanidade), do pecado da justiça e do juízo. Deus estava em Cristo,
reconciliando consigo o mundo (II Co 5.19). Em I João 2.2 – “E ele é a
propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos
de todo o mundo”. Isto é, o sacrifício de amor por todo o mundo (da humanidade)
de João 3.16 é suficiente para salvar a todos os homens. As Escrituras não
comportam o ato da expiação limitada. Voltemo-nos
às Escrituras.
*Expiação – O ato de
purificar, expiar, pagar pelas culpas e pecados. Por meio da Expiação de Jesus
Cristo, na cruz, todo crente é purificado da mancha e da culpa dos seus pecados
e reconciliados com o Pai Celestial (Jo 1.29; II Co 5.19; Ef 2.1;I Jo 1.7; 2.2;
I Pd 1.18-19; Ap 5.8-9).
Mt 7.13-14 - A porta é estreita
e apertado o caminho.....para salvação. De fato, a salvação é pela graça de
Deus, porém não é barata. Tem inestimável valor espiritual.
Lc 18.7 – No texto os
escolhidos de Deus, a quem Ele fará justiça, atenderá as suas orações, são
todos os salvos em Cristo Jesus. E que perseveram na oração. Ao pecador
temente, obediente, a este Deus ouve (João 9.31).
Rm 8.33 – Quem pode ser contra
os escolhidos de Deus? Estes escolhidos são todos os salvos, justificados por
Jesus, pelos seus méritos no calvário, mediante o que preceitua Rm 8.1 –
“...nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus...”. E o determinante é está em Cristo.
Chamada
geral para salvação (Mc 16.15-16; Jo 3.16; Rm 1.16) versus Chamadas Específicas
– Dentro
ou no curso do Plano Divino Redentivo, vemos
nas Escrituras que Deus age, trabalha por soberania com chamadas e escolhas específicas,
segundo os seus propósitos eternos. No coletivo com a nação de Israel e
individualmente com algumas pessoas. A Igreja, em Cristo e por Cristo, somos
escolhidos (Ef 1.4). A Eleição envolve a fé salvífica (Ef 1.13.2,8; 3.17). Não
basta uma fé genérica em Deus sem andar com Ele (Gn 5.24).
Exemplos
de chamadas específicas:
De
Abraão – Gn 12.1-4 – Com propósitos soberanos e eternos para
constituir a nação de Israel. Com Isaque e Jacó foram ratificações do que Deus
prometera a Abraão.
De
José, filho de Jacó – Gn 37-50 – Até José só entendeu o
trabalhar soberano de Deus, no fim dos seus dias, pois visava salvar, perpetuar
a nação de Israel. Ou seja, tudo o que se passara com ele, estava muito além de seus interesses e temor pessoal a Deus.
Do
profeta Jeremias – Jr 1.4-5 –
Jeremias no meio de um povo escolhido, recebe um chamado específico para
profeta em Israel e para com as outras nações. Uma chamada dessa natureza dá
certamente muito mais segurança a quem é vocacionado para servir ao Senhor.
Porém, não é com todos que Deus agia e age e assim.
A
chamada dos doze discípulos (aprendizes, depois apóstolos) – Lc
6.12-16; Jo 6.67-71;15.16 – Jesus para compor o grupo dos doze, nem mais, nem
menos, declara em João 15.16 que foi uma escolha dele, embora não tire a
responsabilidade de nenhum deles pelos seus atos, ações e omissões. Daí, entre
eles tinha até um traidor. Pedro negou a Jesus. Essa chamada muitos aplicam à
igreja em geral, mas se trata de uma chamada específica.
No início do ministério de Jesus, Ele os escolheu. Hoje, somos
escolhidos, eleitos em Cristo ao ouvir a palavra da verdade, o evangelho da
salvação, e nele crê (Ef 1.4,13). Em atos 1.15-26, vemos os apóstolos,
fazendo a escolha de Matias, para recompor o ministério e apostolado. De modo
que, simbolicamente, na Bíblia o número 12 é uma representação tanto da
totalidade de Israel, como da Igreja Cristã. Creio piamente que os 24 anciãos
de Ap 4.10-11, representa Israel e a Igreja, no mundo espiritual, diante do Trono
de Deus.
O
Apóstolo Paulo – At 9.3-6;15-16 – Recebeu também uma chamada
especifica. Podemos afirmar que Deus o escolheu a dedo (At 9.15-16) para
pregador, apóstolo e doutor dos gentios (Rm 11.13; I Tm 2.7; II Tm 1.11). E foi
o canal humano que Deus capacitou para fazer a transição do Judaísmo para o
Cristianismo, debaixo de muita perseguições e sofrimentos por causa do
Evangelho de Jesus (II Tm 1.12; 2.10). Ele
falando como judeu, em meio a rejeição do messias pelas autoridades religiosas
de Israel, narrava o seu encontro pessoal com Jesus como o abortivo (nascido
antes do tempo) e afirmava não ser digno de ser chamado apóstolo, pois havia sido
um perseguidor da Igreja (I Co 15.8-9).
É importante frisar: Uma
chamada específica da parte de Deus é muito honrosa, entretanto envolve maior
responsabilidade de quem a recebe (Rm 1.1,14,16; I Co 9.16).
Diante do que dissecamos,
cabe-nos, humildemente, tirar algumas conclusões
acerca do termo escolhidos, eleitos de Deus e por Deus:
Deus tem a prerrogativa
soberana de fazer escolhas específicas com propósitos salvíficos, sem em nenhum
momento ferir o seu caráter justo e santo, nem atropelando o livre arbítrio
dado aos homens (Gn 4.7; Jó 1.1; Dt 30.15-19; Ec 12.13-14; Mc 16.15-16).
Sl 139.1-24 – Davi, no Livro
dos Cânticos de Israel, em linguagem poética disserta sobre a Onipresença e a
Onipotência de Deus e faz destaque nos versículos 13-16 acerca do milagre e da
geração da vida. O texto não trata de seletividade por Deus para destino A ou B do ser que Ele o criou à sua imagem e semelhança. O que se pode frisar é que Davi foi um
escolhido por Deus para ser rei em Israel, com chamada específica no contexto de um povo eleito. Porém, não aplicável a outras pessoas genericamente.
Deus não faz acepção de
pessoas, seja no âmbito material ou espiritual (Dt 10.17; II Cr 19.7; At 10.34;
Rm 2.11; Ef 6.9; I Pd 1.17). Jamais precisará fazer algo como média com os humanos.
É tolice falhos humanos se
sentirem diante de Deus, “queridinhos dele”, e em pecado continuadamente, sem
arrependimento, e sem um sério relacionamento com Ele.
Existem,
pelo menos, três erros críticos a serem evitados a respeito do vocábulo
escolhidos ou eleitos:
1.Não respeitar a
especificidade da chamada coletiva e a individual;
2.Aplicar chamadas divinas,
diretivas, de forma genérica a outras pessoas;
3.E terceiro, aplicá-las a si
mesmo, principalmente quando é de bênção, em especial, para salvação. Pode até ser pecado de autopiedade, quando somos ensinados andar na piedade.
Fontes:
Bíblia Sagrada.
Anotações pessoais do blogueiro.
As Parábolas de Jesus e a Resposta Humana – Uma análise a
partir da soteriologia arminiana – Carlos Kleber Maia – Editora Santorini 2022.
1ª Edição.
Por Samuel Pereira de Macêdo Borges
Bacharel em Direito e Teologia
Natal RN – 16/07/2020. Revisão em 03/01/2023.
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