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sábado, 26 de setembro de 2020

A Salvação no Ministério Terreno de Jesus

Observa-se que alguns textos dos evangelhos têm sido utilizados isoladamente para atestar a predestinação incondicional para condenação, na linha de pensadores puritanos e reformados.  Porém, são sem consistência bíblica e teológica.

Lucas 4.14-22 - Registra que estava sobre Jesus a virtude do Espírito, ungido para evangelizar os pobres (humildes), enviado para curar os quebrantados de coração, apregoar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor...). E o Espírito a Ele, não lhe foi dado por medida, mas de forma plena, ainda que em carne (João 3.34). Há os descuidados no exame da Palavra que aplicam este texto a todos os crentes, erroneamente.

João 20.30-31 – No evangelho de João, a ênfase era demonstrar, revelar que Jesus era o filho de Deus. E no mesmo evangelho, Jesus anuncia a promessa do Espírito Santo, que passaria a atuar diretamente no contexto Igreja, pois seria dado à Igreja Cristã (Jo 14.16-17,26), para o novo momento (Jo 15.26;16.7-15), após a sua ascensão.

João 1.15-37; 5.33,36 - João Batista, o seu precursor.

João 10.41-42 - O testemunho de João Batista se cumpriu cabalmente na vida e ministério de Jesus.

João 10.36-38; 11.27,41-42 - Jesus, o Filho de Deus enviado do Pai.

Mateus 15.21-28 – Primeiro, enviado as ovelhas perdidas da casa de Israel (Vv.24).

João 1.11-12 – Veio para os seus e os seus não o receberam. 

João 4.22 A salvação vem dos judeus – Todavia, não é propriedade dos judeus (Mt 24.14; Lc 3.6; Atos 10.34-36).

João 4.42 - Nas palavras dos samaritanos, Jesus “o salvador do mundo”.

Mateus 16.2; 23.37-39 – Jesus, o Messias que havia de vir, é rejeitado (Jo 5.38-40;7.37,45). Cumprem-se as profecias a este respeito. Ao mesmo tempo, Ele cumpre a sua missão: Forma o embrião da sua Igreja (na chamada específica dos 12 discípulos, e mais tarde, o  colégio apostólico), prega o arrependimento de pecados, revela o Pai (Jo 14.6-9), padece na cruz, ressuscita e ascende aos céus, deixando a promessa de voltar outra vez.

Chamadas específicas e pessoais no Ministério de Jesus

João 1.35-44 - Os primeiros discípulos de Jesus.

(Lc 6.12-17; Jo 6.67,70-71) - A chamada dos doze – E não se pode fazer aplicação individualizada no corpo de Cristo. E atentar, o número doze tem uma simbologia significativa nas Escrituras relativa a Israel e à Igreja, ou seja, no coletivo.

Judas Iscariotes estava entre eles. Teria Judas Iscariotes sido predestinado para ser o traidor do seu mestre por força do que estava escrito (Mt 26.24-25), e guia daqueles que prenderiam a Jesus (At 1.16), no final do seu ministério terreno? E enfim, levado a julgamento e condenado na rude cruz.

A profecia não predestinara quem seria o traidor, e nem o isentaria da sua culpa. A profecia revelava o evento futuro, cujo fato viria acontecer no ministério terreno de Jesus. Realça sim! a Presciência Divina.

Nos evangelhos vemos no comportamento de Judas Iscariotes um mau caráter ao ponto de Jesus, posteriormente, o chamar de o Filho da Perdição (Jo 17.12). Deus não o predestinou para aquele triste fim. 

João 6.70-71 – Judas, sendo um entre os doze discípulos escolhidos, tristemente, se deixou ser usado pelo diabo (Ef 4.27; Tg 4.7).  Estava dentro de uma chamada específica (Lc 6.12-16; Jo 15.16; At 1.17), e comporia adiante o colégio apostólico.

João 6.37-40 - Jesus e o desenvolvimento do seu ministério.  

João 6.37 – “Todo o que o pai me dá virá a mim. O que vem mim de maneira nenhuma o lançarei fora”.

Tudo o que fazia era na dependência do Pai (Jo 7.28-29;10.29).

A sua doutrina era do Pai (Jo 7.16; 8.28).

João 6.44-45, 65 – A revelação do salvador ocorria no ministério de Jesus, mediante a operação do Pai (Jo 14.10-12).

João 6.47-56 – Sendo Jesus o pão da vida, em sentido espiritual, o seu sacrifício na cruz teria que ser absorvido por fé para salvação de todo que viesse a crê (Jo 6.47).

João 8.45-47 - Quem é de Deus escuta a palavra de Deus. Não significa dizer que foram destinados à salvação incondicionalmente.

João 7.37; Ap 22.17 - Salvação é para quem tem sede. Quem vier a Jesus, espiritualmente, não terá fome e nem terá sede (João 6.35).

João 9.31 – Nas palavras do cego de nascença, curado por Jesus: “Deus não ouve a pecadores, mas se houver temor e faz a sua vontade, a esse ouve”.

João 7.3-5 - Havia incredulidade entre os irmãos de Jesus a seu respeito.

Mateus 5.3 – “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”.

Todos sabemos que o termo “pobres de espírito” na contemporaneidade tem um sentido popular pejorativo, de miserável de valores interiores, pessoas sem qualidades virtuosas, etc. Porém, Na Bíblia, considerando o seu contexto geral, entendemos perfeitamente que a expressão “pobres de espírito” se refere aos humildes. E nesta perspectiva, o evangelho foi pregado primeiro aos pobres (Mt 11.5; Lc 7.22; II Co 9.9; Tg 2.5; 4.6).

Pv 6.17 - Olhos altivos Deus abomina (Pv 21.4; Is 2.11; I Tm 6.17).

Por toda a Bíblia também está em evidência o senso de Justiça Social em torno dos mais necessitados e injustiçados (Pv 31.9; Is 11.4; Am 4.1; Mt 5.6; Mc 10.21; Tg 5.1-6; Lc 19.8). E diz respeito à prática do bem, ao exercício do amor e da misericórdia que pregamos e a combater as injustiças sociais. Entretanto, a pobreza material e social do pobre não lhe dá direito ao reino dos céus.

Mateus 11.25-26 – “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.  Sim, ó Pai, porque assim te aprouve”.

Mediante a quem Jesus estava dirigindo o seu discurso (as três cidades impenitentes – Corazim, Betsaida e Cafarnaum (Mt 11.20-24), com a revelação divina nas mãos [sábios e entendidos], o que lhes faltaram foi humildade para se arrependerem (Mt 11.20). Em Cafarnaum havia altivez, orgulho (Mt 11.23).

Então, “aos pequeninos” compreendemos pelo contexto, são pessoas humildes, que assumem a sua pecaminosidade e se arrependem, e vem a Cristo. Destes, Deus se agrada e socorre-os (Mt 11.26; Is 61.1; Sl 34.18;51.17; Tg 4.6-7).

Mateus 11.27 – “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.

Jesus, na sua missão terrena, demonstrou a sua dependência do Pai, embora tudo entregue em suas mãos pelo Pai.  De modo que, Jesus tinha a missão áurea de revelar o Pai (Mt 11.27; Jo 1.14;14.6-10), e ao mesmo tempo dependia do Pai para realizar o seu Ministério Terreno e gerar “filhos espirituais” (João 6.44-45,65; 14.10).

Mateus 22.14 – “Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”. 

Mt 22.1-14 – O texto e contexto trata da parábola das Bodas, aplicada por Jesus aos judeus de seus dias, antevendo a sua rejeição como o Messias.  Muitos judeus ficaram de fora na festa do filho do rei (Vv. 2), por falta de dignidade dos convidados (Vv 8); outros foram convidados (Vv. 9-10, Mc 16.15-16 - os gentios). Porém, todos deverão estar na festa com vestes espirituais (Vv 11), vestidos da justiça de Cristo, pela graça de Deus. 

O fato de Israel, no coletivo, possuir uma chamada/escolha soberana de Deus, desde Abraão (Gn 12.1-4), não outorga salvação individual e automática a todos os judeus.

Mt 21.32 – Pela falta de arrependimento e fé no Messias, Jesus foi deixando claro, por parábolas, aos judeus, que eles estavam perdendo a bênção do Reino de Deus, por um tempo (Mt 21.42-43; Rm 11.11-12,15,25), mesmo como povo da promessa, por causa de sua incredulidade (Mt 21.32).

Mt 21.33-46 - Príncipes dos sacerdotes e fariseus foram considerados por Jesus lavradores maus.

Mc 16.15-16 - A salvação é ofertada, pela pregação do evangelho a todos. Porém, serão salvos em Cristo, os que aplicarem fé a mensagem da cruz (Rm 1.16;10.16). 

João 14.6 – “Disse-lhes Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”.

Objetivamente Jesus se declara a verdade personificada na sua pessoa. Então, a Verdade é:

Libertadora do domínio do diabo e do pecado (Lc 4.18-19; Jo 8.31-36);

Salvadora da condenação eterna no testemunho de Simeão (Lc 2.10;28-31) e do próprio Cristo em João 3.16.

Redentiva nas palavras da profetisa Ana quando falou do menino Jesus (Lc 2.36-38), e mais tarde, sendo consumado na cruz, veio a ser a causa de eterna salvação para todos que lhe obedecem (Hb 5.9). 

Ele é o caminho exclusivo pelo qual se chega a Deus, o Pai.

E ratificou Pedro em seu discurso de Atos 4.12 – “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.

Parte essencial da missão terrena de Jesus foi para dá testemunho da verdade de Deus aos homens (Jo 18.37), e fazer servos/discípulos (Jo 13.13), amigos (Jo 15.15) e irmãos (Jo 20.17), santificando-os na verdade (Jo 17.17).

Mateus 11.28-30 - E sendo o Senhor, não exercia e nem exerce domínio por opressão ou prepotência de nenhuma natureza, seja religiosa, política ou espiritual, prática reprovável na sua doutrina, porque era comum dos líderes religiosos de seus dias.  O seu jugo era suave e leve e exercido com humildade e mansidão.

Lucas 13.22-30 – Jesus é indagado se eram poucos os que se salvam.

Ele  deixou claro que a porta da salvação era estreita e os homens deviam “porfiar” para entrar por ela, no sentido de esforço, ou discuti-la entre os seus ouvintes, em especial os judeus, os quais estavam prestes a rejeitá-lo como o Messias, pois vemos nos versículos de Lc 13.26-30, que Jesus aponta diretamente para o histórico judaico, quando era o povo por meio do qual Deus levava a efeito o Plano da Salvação, tornando os derradeiros (gentios) primeiros e quem eram primeiros (judeus), os derradeiros.  

Independente de raça ou etnia, condição material, a necessidade primária dos homens diante de Deus é de natureza espiritual, e uma só: Arrependimento conjugada com a fé salvífica – Lc 13.1-5; Mt 24.14.

Finalmente, o que vemos nas Escrituras é um Deus de amor e misericórdia, tratando com a humanidade caída em três grupos: Israel, a Igreja e os gentios. E o divisor de águas entre o Antigo e o Novo Testamento é o advento do messias, no curso da revelação divina progressiva a toda humanidade.

E Deus sempre no propósito de levantar, recuperar e salvar e que se havia perdido (Is 55.6-7; Lc 19.10), não para destinar previamente pessoas à condenação por decreto soberano e deliberado.

 

Pb. Samuel P M Borges

Natal/RN – setembro/2020.

 

 

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