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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A “Teologia Coaching”

 

Segundo o IBC – Instituto Brasileiro de Coaching – “Coaching é um processo, uma metodologia, um conjunto de competências e habilidades que podem ser aprendidas e desenvolvidas por absolutamente qualquer pessoa para alcançar um objetivo na vida pessoal ou profissional, até 20 vezes mais rápido, comprovadamente”.

Então, temos o Coach – Aquele que instrui, uma espécie de mentor facilitador, e o Coachee, o cliente, o aprendiz.

As melhores e mais utilizadas ferramentas de coaching para aplicar no coachee

Metas SMART - Essa ferramenta busca a elaboração de metas neurologicamente corretas. Pontos chaves:

Específicas – Quando, com quem, onde, e prazo para ser cumprida.

Desafiadora – Ao ponto de motivar o coachee.

Positivas – Com expressão positiva e algo a fazer.

Ecológicas – Trazer benefícios para o coachee e pessoas ao redor.

Estar no controle – O responsável pelas ações é o coachee.

Perguntas Poderosas de Sabedoria (PPS) – Tem vários objetivos, como levar o coachee refletir sobre a sua vida, mudar posturas e fazer do apurado das reflexões o seu estilo de vida, de forma consciente.

Ganhos e Perdas – o Coach utiliza quando o Coachee estiver em dificuldade de tomar decisões mais sérias, no andamento das sessões. A vida é assim, tem ganhos e perdas.

Grade de Metas - Essa é uma ferramenta cognitiva que tem como objetivo fazer com que o coachee (cliente) aja de forma assertiva em direção dos objetivos. Aplica-se com o conhecimento da Metas Smart.

MAAS – O MAAS corresponde a um gráfico que busca entender em quais pontos alguém está mais satisfeito com as próprias conquistas.

Utilizando as ferramentas, o coach vai  desenvolver habilidades no coachee, ampliar sua consciência, tirá-lo da zona de conforto e expô-lo a um mundo de possibilidades.

Fonte: www.Febracis.com – pesquisa em 15/02/2021.

No meio evangélico brasileiro, na visão de algumas lideranças, observar-se pregadores, ensinadores, palestrantes cristãos utilizando-se de métodos e competências de coaching em suas ministrações. Dessa realidade, surge o termo a Teologia do Coaching. Para outros, é a Teologia da Prosperidade com uma nova face, ou mais um modismo no meio da Igreja Evangélica Brasileira - IEB.

Prefiro chamar de Teoria de Coaching aplicada ao corpo de Cristo, seja por falta de conteúdo bíblico dos ministrantes, mensagens que agradam aos ouvintes, ou com a intenção de apresentar "algo novo" e pode também ocultar interesses escusos de determinados dirigentes eclesiásticos.

Gradativamente, vai desvirtuando e corrompendo a Igreja. Então, ao invés de ministrantes das Escrituras, temos os coachs, debulhando e distribuindo, na verdade, teorias administrativas secularistas, com linha humanista, antropocêntrica, pondo de lado a graça de Deus, a ajuda do alto, enfatizando a autoajuda para satisfação do indivíduo. É um desserviço ao Reino de Deus.

O que se observou na Igreja Evangélica Brasileira nos últimos 50 anos? Foi uma desastrosa contaminação da fé cristã, em razão da Teologia da Prosperidade, que hoje podemos nominá-la de Ideologia da Prosperidade, com um crescimento desordenado, ou inchaço, crises na liderança, rompimentos denominacionais, igrejas midiáticas, megas-igrejas com gestão empresarial, pessoas nos púlpitos com pouco ou  nenhum preparo teológico, ensinando ora heresias, ora infantilidades, um evangelho místico e grosseiro etc., ao ponto de uns indicarem que houve um Apagão Teológico na IEB. E nesse contexto, surgem os desigrejados, ou como queiram chamar “ovelhas sem pastor”.

De modo que alguns segmentos evangélicos perderam ou nunca tiveram a centralidade nas Escrituras. E assim abriu-se a porta para o hedonismo, secularismo e o materialismo. Púlpitos viraram palcos, ambiente de show.

A “Teologia Coaching” trouxe uma reação nos meios reformados da IEB, no tocante a doutrina da depravação total do homem (um dos pilares do calvinismo), uma vez que ensinam a total incapacidade humana, por si mesmo, para reagir, sair do quadro desolador da queda no Éden, pois nele não há nenhuma bondade. E a Teoria do Coaching ensina que o homem tem potencialidades, habilidades internas e pode se  autodesenvolver. O ponto forte é a relação Coach e o seu cliente, via mentoria individual ou grupal. E deixa Deus em segundo plano ou bane Deus da existência humana, para o sucesso. 

Em consequência de fatores citados, nos últimos 50 anos na IEB, existem lideranças de denominações tradicionais que, por exemplo, se acham no direito de ter um salário mensal de 100 (cem) salários-mínimos, com desdobramentos financeiros no tesouro da Igreja, para membros da família e da sua Diretoria e alguns pastores chaves de sua base eclesiástica.  Igrejas estão sendo geridas como empresas familiares e o Sacerdócio Araônico Judaico serve de modelo para perpetuação no Poder e na Sucessão Eclesiástica nos dias atuais. Biblicamente não sustentável. Todavia, no geral, só tem revelado o antropocentrismo na Igreja. 

Parece dura e inadequada a citação supra, mas é como disse John Macarthur – “Nunca suavize o evangelho. Se a verdade ofende, então deixe que ofenda. As pessoas passam toda sua vida ofendendo a Deus; Deixe que se ofendam por um momento”.

Pelo menos duas perguntas que não nos deixam calar: O evangelho de Jesus é insuficiente para proporcionar ao que crê, nova vida vitoriosa em Cristo Jesus? A Igreja contemporânea precisa da Teoria Coaching na formação da liderança na Igreja Organização? Certamente, não.

Temos várias razões, enquanto Igreja Cristã, para rejeitar e dispensar a “Teologia  Coaching” no contexto cristão.

No contexto secular poderá ter algum proveito em que pese algumas utopias embutidas e pressão sob pressão.

Augustus Nicodemus – parafraseado, a Teoria Coaching visa o que? Desenvolver o potencial e as aptidões humanas em si mesmas. E, portanto, antropocêntrica.

Deus é desconfigurado, pois quando apresentado é apenas como um potencializador do ser humano. O alvo final é a vitória do homem, sem Deus ser glorificado.

No Coaching aplicado na Igreja o pecado é apenas um obstáculo que atrapalha o desenvolvimento do potencial do homem.

No seio da juventude atual, em regra, vivemos uma geração mimados, a qual gosta de alisamento do ego, rica em belas imagens, rumo à superação dos desafios. Porém, de travesseiros encharcados. Essa é uma realidade que as redes sociais não mostram. 

Um entrevistado disse: Trata o seu ego como o dedão do seu pé. Ele nos ajuda dá base juntamente com o pé. Mas, no seu devido lugar.

Os Coachs trazem uma mensagem básica: Palavras psicologizadas, encorajadoras, tais como: Descubra e desenvolva o seu potencial: Vai que você pode! você consegue! você é o cara! São uns sofistas, muita retórica e coloca as pessoas num patamar de homem bom, quando temos a problemática do pecado a resolver, do homem perante Deus. De nada adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma.

Segundo o Pr Augustus Nicodemus, a igreja tem o papel de contribuir na preparação dos santos em todas as áreas da vida, inclusive é uma ideia interessante o cristão onde estiver inserido, dá o melhor de si. Agora, não é a missão principal da igreja. A beleza do evangelho é proporção de suas partes, assim como é a beleza de Deus. 

Conclusão

A confissão positiva, a autoajuda na Teoria Coaching declara que o homem tem dentro dele os recursos para se desenvolver, se auto realizar e ser um formidável vencedor. Observe que, sendo uma teoria humana, do mundo empresarial, “funciona para crentes e ateus”. Deus está posto de lado. É o mesmo germe motivacional ensinado pelo encardido a Eva lá no Éden (Gn 3.1-6).

A Teoria Coaching tem a presunção de que o homem pode ser um vencedor nesta vida, pelas suas potencialidades intrínsecas, pela inteligência emocional desenvolvida, etc., sem a intervenção da graça de Deus. Na verdade, contraria Tg 4.13-15.

Na sociedade capitalista, competitiva, se ensina que nela vale a Lei do Mais Forte. E segundo, o psiquiatra cristão Paul Tournier, no livro Mitos e Neuroses – desarmonia da vida moderna, este é o x da questão: Aplicaram a Teoria da Evolução dos animais irracionais, aos homens racionais. Quem for mais forte, quem mais se capacitar, quem se superar dos altos e baixos, este é o vencedor. Na cadeia alimentar animal o mais forte pode comer o mais fraco vivo, naturalmente.

O marxismo não relaciona o homem ao seu semelhante, ser moral, intelectual e espiritual, criado à imagem de Deus. Pelo contrário, montou um arcabouço teórico para justificar a luta entre o capital e trabalho e Deus foi excluído. Só conta a matéria, ou seja, realidade material em sociedade. Religião e fé são o ópio do povo.

Onde quero chegar? A Teoria Coaching vende mitos, visando maximizar, proporcionar lucros, crescimento no mundo dos negócios, incentiva aos colaboradores, funcionários, atiçando-os a descobrirem suas potencialidades, inserindo utopias no conteúdo, pondo todos num patamar de capacidade e ideais lineares, o que não corresponde à realidade humana. Somos seres diferentes em múltiplos aspectos com um ponto em comum: A queda e a mancha do pecado no Éden.

Nos dias atuais, temos pregadores, palestrantes dizendo aos seus ouvintes que eles são tão dignos quanto Jesus. Ou seja, são homens-deuses. Aconselho-os a estudar a Doutrina de Cristo.

Enfim! Está ocorrendo em alguns púlpitos evangélicos, uma mistureba de teorias administrativas e RH, psicologizadas, de como o homem pode vencer, em meio as promessas de Deus e suas potencialidades, cujas mensagens exaltam mais ao homem do que a Deus. Arrependimento, correção de caráter, bom testemunho, a comunhão, deixar o pecado não são fundamentais. Importa ao homem encontrar e desenvolver "o propósito" de Deus na sua vida. O engodo é que este tal propósito sobrecarrega-o toma mais tempo no material, no passageiro, do que levar ao homem a pensar nos valores que são de cima, e portanto, eternos (Cl 3.1-2).

 

Por Samuel Pereira de Macedo Borges

Bacharel em Direito e Teologia 

AD Natal – RN, 16/02/2021.

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