Este nível de amor não espera
retorno. Enquanto que o amor fraternal tem caráter de reciprocidade, conforme
ensina Jesus em João 13.34-35 – “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis
uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos
ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos
amardes uns aos outros”.
O irmão na fé, na qualidade de
discípulo de Jesus, considera-se que tenha discernimento, um patamar de conhecimento
e certa maturidade espiritual. Daí, se requer do cristão corresponder no amor.
O inimigo ímpio, na sua ignorância, não. Mas, é o nosso semelhante. Então,
vejamos:
Mt 5.44-46 – É dever cristão amar até os inimigos – Parte-se do ponto de que o desamor não deve ser realimentado. É o amar sendo odiado e perseguido. Porém, não significa amar incondicionalmente. Está em linha com o preceito de pagar o mal com o bem, acendendo brasas vivas sobre cabeça daquele que se porta como adversário (Rm 12.20-21).
O justo viverá da fé em todos os aspectos da sua jornada, uma vez que é justificado pela fé diante de Deus (Rm 5.1). E não se trata de ser ingênuo como faziam alguns cristãos primitivos, literalmente davam a outra face para baterem (Mt 5.39). Quem não preza, não zela, não valoriza o respeito próprio, é indigno dele.
A moral, no preceito cristão de Mateus 5, visa a não
resistência, desestimular o mal, a inimizade, de alguma forma, desarmar o
inimigo com atitudes de amor, conciliação, sem enfrentamento. Jamais reagir com
espírito de ódio contra aos que nos ofendem e agridem.
O ato de amar os inimigos, como Jesus ensina, não elimina o direito de acionar o poder de polícia estatal, ou do judiciário no caso contencioso, quando o cristão sofre uma agressão grave, que enseje levar o caso às autoridades competentes. Amar não é sinônimo de 100% em passividade.
Em I
Co 6.1-9 – Paulo instrui a Igreja de Corinto sobre litígios entre irmãos. E
conclui que é preferível sofrer o dano, seja moral ou material, até
onde for suportável, a levar demandas, querelas, entre irmãos, para um juízo
secular.
O que Jesus ministra no texto em reflexão, não acoberta, nem defende o pacifismo (filosofia social e religiosa de não usar armas, optando pela não violência, buscando solução pela arbitragem, diálogo em qualquer que seja o conflito). Aliás, Deus não é pacifista. Ao cristão cabe ser pacífico e pacificador.
Em tempos bélicos, ou sofrida
a violência com risco de vida, é justo o cidadão, cristão ou não, exercer o
legítimo direito de defesa na proporcionalidade da agressão, do contrário vai
estimular o mal, matanças, o desrespeito à vida, via de regra, inaceitável,
injusto, reprovável diante de Deus e dos homens, no meio social. O amor não
folga (não se alegra, não aprova) a injustiça, alegra-se com o que é justo e verdadeiro
(I Co 13.6).
Em última análise, amar os inimigos é reflexo de se viver os valores do Reino de Deus e revela o grau de maturidade do cristão. E como disse Jesus, a nossa justiça, ou seja, o nosso senso de justiça, a ética cristã deve exceder a dos escribas e fariseus (Mt 5.20).
Mt 5.48 - A proposta de Cristo, no arremate do seu ensino, de sermos perfeitos como é vosso Pai Celestial, a exegese mais difundida é no sentido de que Deus não rebaixa o seu padrão moral em função da fragilidade e imperfeição da natureza humana, antes chama o homem à perfeição, de modo a alcançar a estatura do varão perfeito que é Cristo (Ef 4.11-13), e para isto contamos com a graça de Deus.
Por Samuel Pereira de Macedo
Borges
Bacharel em Direito e Teologia
Natal/RN, 24/11/2024.
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