Ultimato entrevistou a
psicóloga Leonora Ciribelli, autora do mais novo livro da editora Antes de
Casar. Neste bate-papo, ela desmistifica conceitos e dá um rumo mais
honesto para a caminhada da vida a dois. Confira.
Ultimato - Há tantos
livros sobre casamento no meio cristão e há tantos aspectos para serem
discutidos na “vida a dois”. O que o leitor vai encontrar em Antes de
Casar?
Leonora – Grande parte
dos materiais dirigidos a relacionamentos apresentam uma proposta de
intervenção para o que está adoecido. Basta olharmos a proporção de literaturas
para casados em proporção aos que irão se casar. O “Antes de Casar” tem como
diferencial ser um livro preventivo e não interventivo. Acredito que um
esclarecimento do que é casamento deve vir antes de casar e que o casal que
aprende a conversar antes do “sim”, sobre os mais variados assuntos pertinentes
à vida a dois, terá muito mais habilidades para enfrentar as crises naturais do
casamento.
Ultimato – Como você
descreveria a linguagem do livro? Qualquer pessoa poderá lê-lo, sem dificuldade
de compreensão? Não cristãos também?
Leonora - O livro foi
escrito em tom de uma conversa e de fácil compreensão. Certamente o leitor irá
se identificar com muitas histórias e exemplos citados. O livro tem uma
abrangência até para os não cristãos, pois trata de uma crença que a maioria
dos casais têm, que é o equívoco de pensar que casamento é remédio que leva à
felicidade. Se casamento fosse remédio que leva à felicidade, não haveria
casados infelizes, não é mesmo?
Ultimato - A pesquisa
das “Estatísticas do Registro Civil 2102” do IBGE mostra que no Brasil o
casamento tem encurtado sua “data de validade”. Os casamentos no país duram, em
média, 15 anos. A informação leva em conta o tempo médio transcorrido entre o
casamento e a data da sentença do divórcio. Em 2007, o tempo médio era de 17
anos, mesmo período que havia sido observado em 2002. Em sua opinião, quais as
razões para o que está acontecendo?
Leonora - Tenho
observado que inúmeros casais desistem muito cedo do casamento pelo fato de não
suportarem os problemas que surgem naturalmente num relacionamento conjugal.
Para estes, casamento é sinônimo de prazer. Se tiver alguma situação que gere
dor ou mal estar, abrem mão do compromisso e provavelmente se projetam em um
novo relacionamento. Por outro lado, também há muitos que se esforçam para
permanecerem juntos, mas acabam se divorciando ou tendo um casamento frustrado,
devido à falta de preparo desde o início do relacionamento. Uma das razões
pelas quais isto acontece está no fato de os casais não investirem tempo em ajustes
que necessitam fazer em seus relacionamentos antes de se casar. Os contratos do
buffet, fotógrafo, festa, vestido são incansavelmente avaliados e pensados, mas
os acordos entre eles que se referem a famílias de origem, sexualidade,
finanças, espiritualidade, dentre outros, acabam ficando em segundo plano. A
mídia é uma boa amostra do que estou falando: basta ver nas capas de revistas e
na internet os grandes casamentos das celebridades e sua durabilidade. E esta
realidade não está limitada aos famosos, está bem pertinho de nós: entre
parentes e amigos.
Outra razão que observo é a
era tecnológica e a maneira como os relacionamentos estão sendo afetados. No
mundo virtual, a conduta dos seres humanos se altera. Com apenas um clique é
possível dar comandos diversos, como comprar, enviar mensagens, fazer
transferências bancárias, acessar redes sociais. A sensação é mágica. Talvez
ainda não nos demos conta, mas estamos transferindo as expectativas do mundo
virtual para nossos relacionamentos. É como se pudéssemos controlar o outro com
um clique e obter uma rápida resposta. Mas casamento é uma construção, que
durará a vida inteira. É preciso paciência e perseverança.
Ultimato - Um dos
medos de um jovem cristão é a escolha do cônjuge. Este medo é normal? Até que
ponto deixa de ser um algo saudável? Que dicas você pode dar para ajudá-lo a
enfrentar esta fase?
Leonora - A maioria dos
jovens cristãos quer acertar na escolha de seus cônjuges, por aprender que
casamento é algo sério. Muitos acabam sentindo medo de não fazerem a escolha
certa, com receio de não serem felizes. Como diria o Pr. Carlos McCord,
“casamento não gera felicidade. O casamento apenas revela a existência ou não
de uma felicidade preexistente, que será compartilhada pelo casal”. Um dos
conselhos que ele dava a suas filhas era: “Vocês estão prontas para escolher um
homem para se casar, quando não precisarem de um homem para ser feliz”.
Portanto, quando o casal entra com uma visão de que casamento é
construção, e esta construção é para a vida toda, de que o noivo ou a noiva não
encontrarão pessoas prontas (perfeitas) e não irão prontos para o casamento,
creio que esta visão ajuda a enfrentar os medos com mais maturidade e
capacidade de confrontar o desconhecido e não com um medo que gera a
insegurança de que irão se arrepender. Por outro lado, creio que um bom
termômetro para este medo é fazer uma pergunta simples, porém significativa:
“este relacionamento está me ajudando a me tornar uma pessoa melhor?” Exemplo:
um melhor cristão, profissional, filho, amigo(a), irmão e claro noivo(a). Não
acredito que o outro seja responsável por isto, mas acredito que somos
influenciados por nossos relacionamentos. Gosto de testemunhar que me torno uma
pessoa melhor na medida em que me relaciono com Fábio (meu esposo), e me
esforço para que a recíproca seja verdadeira.
Ultimato – Um dos seus
ministérios é realizar cursos sobre matrimônio em igrejas. Quais as
dificuldades mais frequentes que você encontra entre as pessoas que participam
de seus cursos?
Leonora - Uma das maiores
dificuldades é a que eu citei acima, que é do paradigma de que eu sou
responsável de fazer o meu cônjuge feliz, e vice-versa. Fico impressionada
quando vejo o quanto os líderes ainda reforçam esta ideia nas cerimônias de
casamento e aconselhamento matrimonial: de que o outro seja responsável por sua
felicidade. Quebramos este paradigma enfatizando que o outro não pode ser
responsável por minha felicidade. A felicidade deve ser fruto de uma realização
pessoal, alcançada pela obediência e pelo entendimento de que cada um foi
criado com dons e talentos dados por Deus de maneira singular. O exemplo é da
mulher samaritana: enquanto fazia dos seus relacionamentos a fonte de sua
felicidade, ela não foi saciada; Jesus é a fonte que gera esta felicidade.
Outra
dificuldade é acreditarem que pelo fato de serem cristãos, estão “blindados” em
relação a muitas questões que um não cristão enfrenta. Se estão passando por
problemas, é “ataque do inimigo”. Acredito que haja, sim, lutas espirituais,
mas é grande o número de pessoas que transferem para o diabo lutas que são
naturais de um relacionamento conjugal, que os levarão ao crescimento, caso
enfrentem-nas como desafio da fase que estão vivendo.
Ultimato - Você acha
que as igrejas locais estão preparadas para ajudar casais em crise? Se sim, o
que elas têm feito de bom? Se não, o que falta?
Leonora - Creio que
muitas das igrejas têm se empenhado para ajudar os casamentos em crise, mas
percebo que ainda falta muito uma visão mais real de como ajudar estes casais a
crescerem e a colocarem em prática os princípios e conceitos que lhe são
passados. Um exemplo é quando dizem que o casamento é para revelarmos a “imagem
de Deus”. Ótimo! Perfeito! Mas como ajudá-los no seu dia a dia a encarnarem
esta realidade? Como um casal revela um Deus invisível, tornando-o visível em
suas relações? Outra questão que observo é que existem igrejas que fazem muitos
eventos. Eu gosto de dizer “é-vento”, porque quando durante estes eventos as
pessoas sentem-se tocadas, mas depois o vento leva a empolgação. Falta um
acompanhamento, pequenos grupos ou células que ajudem estes casais a
permanecerem em Jesus, para que estejam juntos de forma saudável e não unidos
por uma religiosidade.
Ultimato – Você é
vice-presidente da EIRENE do Brasil. O que exatamente esta associação faz? Como
ela pode servir às igrejas?
Leonora - A Eirene do
Brasil visa buscar a criação de um ambiente familiar saudável e, para isso,
investe no treinamento e certificação de pessoas que possam se especializar
neste trabalho. Atualmente esta organização tem atuado no treinamento de
assessores familiares (pessoas leigas com chamado para atender à família em
seus multiformes aspectos) e profissionais da área de ajuda na arte da terapia
familiar, tendo como base os enfoques sistêmicos e psicoteológicos. Além disso,
diversos seminários têm sido realizados, contribuindo assim para a divulgação
desta visão ministerial, voltada para a família. A formação de centros de
atendimento à família em diversas regiões do país também tem sido estimulada
pela Eirene, além de vínculos e convênios firmados entre a organização e
instituições de ensino para o desenvolvimento de programas de especialização na
área de família.
Ultimato – Para terminar,
qual sua expectativa com o lançamento de Antes de
Casar?
Leonora – Minha
expectativa é que muitos casais entrem mais conscientes em seus relacionamentos
conjugais. Que se responsabilizem antes mesmo de se casarem pelo relacionamento
conjugal e que aprendam que casamento não é para fazer o outro feliz, mas para
a entrega do amor contínuo, fazendo desta união uma oportunidade de somar as
felicidades preexistentes em cada um dos cônjuges. Casamento é para refletir a
imagem de Deus, e esta imagem divina é revelada através do perdão, alegria,
paciência, bondade. Ou seja, o Deus invisível se torna visível quando há estas
práticas em um lar. Portanto meu convite é: antes de casar, vamos conversar?
• Sobre a autora:
Leonora Ciribelli é casada e
tem dois filhos. É psicóloga clínica especialista em família e vice-presidente
de EIRENE do Brasil, uma associação de profissionais cristãos que trabalham em
favor do desenvolvimento, fortalecimento e defesa da saúde integral da família.
Junto com o marido, o pastor Fábio Ciribelli, idealizou o curso de noivos
“Antes de Casar, Vamos Conversar?”. Ambos ministram cursos e palestras na área
de família por todo o Brasil.
Fonte:
http://ultimato.com.br/sites/blogdaultimato
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