POR ARTIGO - GIL
CASTELLO BRANCO - 25/02/2013 16:18
A democracia não tem preço,
mas o Legislativo brasileiro tem custo elevado. No ano passado, as despesas da
Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Tribunal de Contas da União (TCU)
atingiram R$ 9 bilhões, montante equivalente aos dispêndios integrais de seis
ministérios: Cultura, Pesca, Esporte, Turismo, Meio Ambiente e Relações
Exteriores.
Neste ano, somente os gastos
das duas Casas Legislativas, excluindo o TCU, deverão alcançar 8,5 bilhões.
Assim sendo, chova ou faça sol, trabalhem ou não suas Excelências, cada dia do
parlamento brasileiro custará R$ 23 milhões, ou seja, quase um milhão por hora!
Estudo realizado no ano
passado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com a União
Interparlamentar revelou que o congressista brasileiro é um dos mais caros do
mundo. No campeonato de 110 países, o Brasil ganhou a medalha de prata no
ranking dos custos por parlamentar, atrás apenas dos Estados Unidos. Na
classificação dos custos por habitante, ocupamos a 21ª posição.
Dentre as Casas, a vilã do
momento é a Câmara que custou aos contribuintes R$ 4,3 bilhões em 2012,
montante superior em R$ 400 milhões à média de R$ 3,8 bilhões dos últimos dez
anos. Já no Senado, em função dos escândalos de 2009, as despesas vêm caindo e,
no ano passado, foram as menores desde 2010, totalizando R$ 3,4 bilhões.
Considerando os 15.647
servidores da Câmara e os 6.345 do Senado, o Congresso é uma "cidade"
com quase 22.000 funcionários efetivos e comissionados. A título de comparação,
dentre os 5.570 municípios do País, apenas 27 % possuem mais habitantes. Em
2012, o custo de "pessoal e encargos sociais" no Congresso Nacional
foi de R$ 6,4 bilhões, o que correspondeu a 84% da despesa global. A conta
inclui salários, gratificações, adicionais, férias, 13º salário e outras
vantagens. Só pelo trabalho noturno, Câmara e Senado pagaram R$ 4,5 milhões em
2012.
Comparativamente, o
Legislativo é o campeão de salários médios entre os Poderes. Em dezembro de
2012, segundo o Ministério do Planejamento, a média salarial do Legislativo foi
de R$ 16,3 mil, mais do que o dobro dos R$ 6,7 mil que ganham os servidores do
Executivo. No Judiciário, a média é de R$ 13,5 mil.
Por vezes, as despesas do
Parlamento são extravagantes e curiosas. No ano passado, somente com horas
extras foram pagos R$ 52 milhões. A Câmara dos Deputados foi responsável por R$
44,4 milhões desse montante. O Senado comemorou a economia de R$ 35 milhões que
obteve após implementar o "banco de horas". A ideia poderia ser
adotada pelos vizinhos. Outro absurdo é a existência de 132 apartamentos
funcionais vazios, aguardando uma reforma que não tem data para começar,
enquanto são gastos R$ 8,3 milhões/ano com os pagamentos de auxílio-moradia a
parlamentares.
Na semana passada,
pressionado por manifesto popular com 1,6 milhão de assinaturas, o presidente
do Senado anunciou corte de R$ 262 milhões nas despesas da Casa, a começar por
500 funções de chefia e assessoramento. Já era tempo. A gastança é tal que no
último ano as gratificações por exercício de cargos e funções totalizaram R$
683,1 milhões, quase três vezes o montante dos salários que alcançou R$ 249,2
milhões. Ao que parece, o Senado além de muitos índios tem centenas de
caciques.
Além disso, o novo
presidente afirmou que reduzirá gastos com serviços médicos e terceirizados.
Apesar das boas intenções, até o momento a contenção de despesas limitou-se à
demissão de duas estagiárias. A intenção de Renan Calheiros é, por meio da
transparência, reaproximar o Senado da sociedade brasileira. É bom que comece
pelo próprio gabinete, informando, por exemplo, quais os serviços que lhe
presta escritório de advocacia em Alagoas que recebe há mais de um ano R$ 8 mil
mensais da chamada "verba indenizatória".
Enfim, há muito o que
melhorar no Congresso Nacional. A redução das despesas é necessária, mas não é
o mais importante. Urgente é que os princípios constitucionais de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência sejam aplicados tanto pelas
Casas quanto pelos deputados e senadores. O Judiciário pode auxiliar julgando
os quase 200 parlamentares que respondem a inquéritos ou ações penais no
Supremo Tribunal Federal. Na pauta, crimes contra a administração pública,
homicídio, sequestro e tráfico. O saneamento do Legislativo é essencial para
conter o desgaste progressivo de sua imagem. Afinal, a democracia não tem
preço. Pior do que o atual Congresso Nacional só a sua ausência.
Gil Castello Branco é
economista e fundador da organização não-governamental Associação Contas
Abertas.
Fonte: oglobo.globo.com,
pesquisa em 30/09/2014.
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