Fantástico - Edição do dia
16/08/2015
http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/08/procuradores-lancam-projeto-de-lei-com-10-medidas-contra-corrupcao.html
http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/08/procuradores-lancam-projeto-de-lei-com-10-medidas-contra-corrupcao.html
Procuradores
lançam projeto de lei com 10 medidas contra corrupção
Para combater o roubo aos
cofres públicos, os procuradores da Operação Lava Jato lançaram, nas redes
sociais, projeto de lei.
O Brasil perde mais de R$ 50
bilhões todos os anos com a corrupção. Para combater o roubo aos cofres
públicos, os procuradores da Operação Lava Jato lançaram, nas redes sociais, um
projeto de lei que foi muito citado nas manifestações deste domingo (16). São
dez medidas, muitas delas paradas há décadas no Congresso, que, se virarem lei,
podem acabar com essa triste história de que no Brasil a corrupção compensa.
Nas salas de um edifício em
Curitiba, funciona a força-tarefa da Procuradoria da República para a Operação
Lava Jato. Eles ajudaram a mandar 105 pessoas para a prisão. E 30 já foram
condenadas. Até agora, R$ 870 milhões foram devolvidos pelos corruptos.
Mas o grupo acha que para
combater a roubalheira de forma mais eficaz é preciso mudar as leis. Para isso,
está à frente de uma campanha que propõe dez medidas contra a corrupção.
“O juiz Sérgio Moro, os
procuradores e delegados da Lava Jato já assinaram, assine você também e colha
assinaturas”, diz o vídeo da campanha.
A percepção que o brasileiro
tem da corrupção é alta. No ranking internacional, em uma escala até cem,
quanto menor a nota, maior a corrupção. A do Brasil é 43. A Fiesp, a Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo, estima que todos os anos a corrupção
leva entre R$ 50 bilhões e R$ 80 bilhões dos cofres públicos. Dinheiro
suficiente para construir dez escolas de ensino fundamental em cada um dos
5.570 municípios do Brasil.
Os procuradores da República
que tocam a Operação Lava Jato sabem bem o impacto que uma nova legislação pode
provocar. O acordo para a colaboração premiada, que ficou conhecido como
delação premiada, já existia. Mas foi uma nova regulação, há apenas dois anos,
que tornou mais difícil contestar esses acordos na Justiça.
Algumas das medidas
propostas não são novas. Foram inspiradas em projetos de lei que estão parados
há décadas no Congresso.
São 528 projetos de lei de
combate à corrupção que estão praticamente engavetados no Congresso Nacional.
Um deles é de 98. A maioria não chegou sequer nas comissões de análise. Em
2013, no auge das manifestações, um outro foi tirado da gaveta. Ele inclui na
lei dos crimes hediondos a corrupção passiva e ativa. Foi aprovado pelo Senado
e mandado para Câmara dos Deputados, onde está parado até hoje.
A
ONG Contas Abertas monitora a tramitação dos projetos.
“Eu acho que os nossos
parlamentares não aprovam esses projetos de lei justamente porque em muitos
casos isso poderia significar um tiro no pé. Muitos desses projetos fariam com
que alguns desses deputados ou alguns desses senadores fossem presos inclusive
pela nova legislação”, diz Gil Castello Branco, secretário-geral da Associação
Contas Abertas.
O projeto das dez medidas,
de iniciativa popular, precisa reconhecer 1,5 milhão de assinaturas em pelo
menos cinco estados e não dispensa a aprovação do Congresso. Mas bota pressão.
“Eu sou favorável a essa
iniciativa e acho que tem alguns aspectos extremamente positivos que melhoram
muito a nossa legislação”, afirma Mendes Thame, deputado federal (PSDB), Frente
Parlamentar Mista de Combate à Corrupção.
Entre as propostas, quando o
desvio supera cem salários mínimos, é crime hediondo, equiparado a roubo
seguido de morte.
Fantástico: Não é exagero ou
corrupção mata?
Deltan Dallagnol, procurador
da República: Não tenho dúvida de que a corrupção mata, de que a corrupção tira
o remédio, a comida e a escola do brasileiro. O que nós vemos hoje é que embora
a corrupção seja tão grave ela é um crime de baixo risco e de alto benefício.
Fantástico: Então, no
Brasil, a corrupção é um crime que compensa?
Deltan Dallagnol:
Infelizmente, no Brasil, do modo como o nosso sistema funciona hoje a corrupção
é sim um crime que compensa.
Uma das razões é que a pena
mínima, de dois anos, é cumprida em regime aberto, com serviços comunitários. A
pena mínima para roubo, por exemplo, é o dobro: quatro anos.
“Por que para roubo é o
dobro da pena mínima, quando um outro crime contra o patrimônio, como a
corrupção, que afeta às vezes milhões de pessoas, tem uma pena menor?”, diz
Ivar Hartmann, professor de Direito da FGV.
“Hoje a pena da corrupção é
uma piada e uma piada de mau gosto”, destaca Deltan Dallagnol, procurador da
República.
A proposta é que quanto mais
dinheiro for roubado, maior seja a pena. E para recuperar o dinheiro,
comprovado o desvio e o enriquecimento ilícito, não seria preciso demonstrar na
Justiça qual foi o ato de corrupção que levou ao pagamento da propina.
Além disso, dinheiro e bens
vindos da corrupção poderiam ser confiscados, como já acontece nos casos de
tráfico de drogas.
A condução dos processos
ficaria mais rápida, evitando a prescrição dos crimes, como aconteceu com o
Propinoduto. Fiscais da Receita do estado do Rio permitiram a sonegação de
impostos em troca de propina. O caso é de 2002. Os fiscais foram condenados em
primeira instância. Mas o recurso está agora na terceira instância. E tem uma
quarta pela frente. E o crime de corrupção já prescreveu.
“É como se a corrupção nesse
caso, embora comprovada e comprovados quem foram os seus autores, jamais
tivesse existido”, explica Deltan Dallagnol.
Fantástico: A demora de
um processo para ser julgado na Justiça também cria essa sensação de
impunidade?
Deltan Dallagnol: Se o
meu filho cometer uma travessura e eu virar para o meu filho e falar ‘filho,
papai não gostou do que você fez. Papai, por isso, vai te colocar de castigo’.
Daqui a 12 anos, não só meu filho vai virar um transgressor profissional, mas eu
vou estragar a arma dele, porque eu vou criar na minha casa um ambiente em que
as regras não funcionam.
A anulação de processos
também ficaria mais difícil. Evitando desfechos como o da Operação Satiagraha,
que investigava crimes financeiros envolvendo o banqueiro Daniel Dantas. A ação
foi anulada e o banqueiro solto porque as provas foram apreendidas no terceiro
andar de um prédio, não no 28º, como constava do mandado de busca e apreensão.
“Advogados erram, promotores
erram, juízes erram. Mas você não derruba um prédio inteiro porque você
encontrou um furo no encanamento. Você conserta o furo e segue em frente”,
afirma Deltan Dallagnol.
Outra proposta dos
procuradores é criminalizar o caixa dois de campanhas eleitorais e a
responsabilização dos partidos políticos. E, finalmente, programas de prevenção
para treinar servidores, fiscalizá-los e divulgar campanhas para criar no povo
uma cultura contra a corrupção.
“A gente precisa de
democracia, precisa de um bom aparato de leis, precisa de instituições que estejam
funcionando para poder fazer boas investigações, mas a gente precisa de um
cidadão que procure zelar pelo seu voto”, defende o cientista político da
PUC-Rio Ricardo Ismael.
Fonte:g1.globo.com/fantástico/noticia/2015/08
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