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terça-feira, 21 de julho de 2020

Aceitar Jesus ou entregar a vida a Jesus Cristo?



“Aceitar Jesus” é uma expressão corriqueira de tom um tanto religioso nos púlpitos evangélicos e tem se tornado simplória, inadequada e diria até ingênua, uma vez que passa a ideia de “um Jesus coitadinho”, de alguém que precisa de nós, e não os homens, os pecadores dele. O Evangelho de Jesus é sentença de vida ou morte! 

Na verdade, tudo que foi criado, foi feito por Ele e sem Ele, nada do que foi feito se fez. Ele e o Pai são um (Jo 1.1-3;10.30).

O homem sem Jesus, sem um encontro, sem uma experiência pessoal com Ele, pelo vivo e único caminho, não terá acesso a Deus, o Pai (João 14.6). Sem Jesus, o homem não tem esperança de vida eterna, como afirmou Pedro:

João 6.68-69 – “...Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho de Deus”.

Em Mt 11.28-29, quem precisa de Jesus é chamado para ir a Ele, tomar o seu jugo (domínio, senhorio) e segui-lo. Quem não optar pelo seu jugo, resta-lhe o jugo do pecado sob a influência maligna do encardido (I Pd 5.8).

Mc 16.15-16 - A mensagem do evangelho deve ser crida para a salvação. Do contrário, a situação do pecador será de condenação.

Em I Tm 1.15 – Paulo escrevendo acerca do Evangelho da Graça, ele diz: “Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação: Que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”.

Alguns criticam a expressão “eu achei Jesus”. E retrucam, na verdade, Ele me achou, quem estava perdido era eu, não Ele.

Is 65.1 – Acerca de Jesus como o Messias que havia de vir e se manifestar em Israel, diz o texto que Ele foi buscado e achado por aqueles que não o buscavam (os gentios), um povo que não se chamava pelo seu nome e a este disse: “Eis-me aqui”. Sim, Ele foi dado também para luz dos gentios (Is 49.6; Lc 2.29-32;3.6; Jo 1.11-12).

Lc 14.25-27 - Aquele decidir seguir a Cristo, precisa o amar acima de tudo e de todos, negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz (submeter-se a Ele), para andar em suas pisadas, em amor e na verdade, cujo discipulado vai nos custar a vida. E primeiro, Ele deu a sua em prol da redenção do homem no calvário.

Mt 7.21-23 - Para seguir a Cristo, não basta a confissão só de lábios, precisamos dar frutos dignos de arrependimento e permanentes (Mt 3.8; Jo 15.16). Era a tônica do sermão de João Batista como o precursor do Messias.

Apocalipse 3.20 – “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo”. Analisemos:

Primeiro, o texto é uma mensagem direta à Igreja de Laodiceia, autossuficiente, espiritualmente morna, cega, miserável e nua, quando Jesus lhe fala amorosamente para que se arrependa daquela situação e retornasse à comunhão, ao relacionamento com Ele.

Segundo Ele não impõe, respeita a livre decisão das pessoas de se voltar para Ele ou não. É uma praxe divina, Deus atua, age onde acha lugar para trabalhar o convencimento da pecaminosidade humana. Salvação é para quem sede (Jo 7.37-39; Ap 22.17).

Deus sempre considerou o âmago do ser humano, até quando lhe propõe decisões e escolhas, para bênção ou maldição, para a vida ou para a morte (Dt 30.19; Js 24.15-16; Jo 6.60-68). Agora, uma verdade bíblica é cristalina: Deus não é de meio termo (Ap 3.15,16; 22.11).

Mt 28-18-20 -  Jesus, o nosso Salvador e Senhor, detém todo o poder no céu e na terra. E a missão primordial da Igreja é levar as Boas Novas de salvação a todas as gentes, fazendo discípulos e batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo.

Se a Igreja Cristã se dispor ao chamado “evangelho social”, realizar megas eventos de cunho social, prescindindo de sua missão espiritual que é “gerar filhos de Deus para eternidade”, terá falhado na sua missão essencial, de caráter e repercussão eterna (Jo 3.16; Atos 6.1-7).

O que o homem pecador (todos nós) precisa fazer para vir a Cristo, como o seu único Salvador e Senhor?

Primeiro, requer uma entrega pessoal: Arrependimento de pecados, ao reconhecer o seu o estado espiritual, absorver por fé o sacrifício de Jesus na cruz, em seu favor, confessá-lo publicamente e submeter-se ao seu Senhorio. E de posse da vida eterna (Jo 3.36), segui-lo alegremente, vitorioso em Cristo.

Se alguém segue a Cristo, “vai de garupa”, não deve pegar nas rédeas de sua vida. Ele é o Senhor, Ele é dono, e amorosamente conduz as suas ovelhas. E, portanto, é a porta da salvação, o Bom Pastor (Jo 10.9-14).

Finalmente, Mateus 16.24-25, é enfático e exige renúncia ao próprio eu de quem queira ser o seu discípulo.

“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á”.

Então, eis o convite biblicamente mais adequado:

Quem deseja vir a Cristo, arrependido, entregando todo o seu viver, para alcançar o perdão de pecados, ter o privilégio do nome escrito no Livro da Vida e assim se tornar seu seguidor e discípulo, nascido de novo pela ação poderosa do Espírito Santo. Amém!

Hino 208 (harpa Cristã).

“Hoje queres te entregar a Jesus Cristo, ó cansado e triste pecador?

Para aquele que no gólgota foi visto, padecendo nossa culpa, nossa dor?

Vem a Cristo, vem a Cristo, que te chama com amor celestial..."

 

Por Samuel Pereira de Macedo Borges

Bacharel em Direito e Teologia

Natal/RN – Revisado em setembro/2024. 

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Quem são os escolhidos ou eleitos de Deus na Bíblia?



Escolher, escolhido, tem o sentido de eleger, eleito, respectivamente. Eleição, portanto, é um ato de escolha, preferência.

É muito comum vermos pessoas se achando ou se afirmando “escolhidas de Deus”. Outras, emitem palavras de bênçãos sobre pessoas como se estas fossem “escolhidas por Deus” sem nenhum critério bíblico, sem um exame mínimo do nível de relacionamento com Deus.

O termo escolhido deve estudado no contexto de cada texto onde encontrado.
Vejamos nas Escrituras quem são escolhidos, ou eleitos de e por Deus e quais são os seus propósitos.  

Is 42.1-3,6; Mt 12.18 - Jesus, escolhido, eleito o redentor -  Viria para restaurar as tribos de Israel, para luz dos gentios e salvação de Deus (Lc 2.25-38; 3.6), sobre toda a terra (Is 49.1-3,6-7). No Novo Testamento esta verdade redentiva é completamente revelada (Jo 3.36;14.6; At 4.12; I Tm 2.5). No Antigo Testamento, estava em processo gradativo de revelação.

At 4.11; I Pd 2.4,6-7 – Jesus, a principal pedra de esquina - Reprovada pelos homens e para com Deus eleita e preciosa. O salvador, pedra de fundamento da fé cristã (I Co 3.11;12.2). Quem nela crê não será confundido (Rm 9.33).

Ef 1.4 - Em Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29), todo salvo foi eleito nele, antes da fundação do mundo. Na presciência de Deus, o Cordeiro havia sido morto, em sacrifício propiciatório (I Jo 2.2; Hb 2.9) desde a fundação do mundo (I Pd 1.19-20; Ap 13.8).

Hb 12.2 - Enfim, Jesus é autor e consumador da fé, de todo o que nele crê para sua salvação.  Obviamente, envolve o Senhorio de Cristo e relacionamento com o crente.

Israel – Povo Eleito – Todos sabemos pelas Escrituras que é povo escolhido (Is 44.1-2), constituído povo de Deus a partir da chamada de Abraão (Gn 12.1-4; Is 41.8-10). São filhos de Deus por eleição, segundo a Soberania de Deus e irrevogável (Rm 11.29).

Na Monarquia em Israel, a pedido do povo (I Sm 8.1-22), vemos o trabalhar de Deus nas escolhas, especialmente, dos três primeiros reis, período nominado de Reino Unido. E com destaque para relação de Deus com Davi (I Sm 16.1, 12-13; Sl 88.3-4;89.19-20). 

I Cr 16.13 - Israel – Povo eleito, “o meu eleito” (Is 45.4).

Dt 4.32-40 - Israel, povo escolhido por Deus, em meio aos pagãos.  O texto declara que Deus nunca se revelou a nenhum povo, como se revelou aos Israelitas, descendentes de Abraão, Isaque e Jacó.

Ne 9.7-8 – Povo eleito a partir de Abraão, com quem fez aliança, prometeu e lhes deu a terra de Canaã para habitação.

Is 41.8-10 – Povo eleito, semente de Abraão, amigo de Deus. Israel como um servo escolhido, a quem Deus ajuda e sustenta com a destra da sua justiça.

Sl 33.12 - Davi tinha plena consciência de ser parte de um povo escolhido, herança de Deus. 

Sl 65.4 – Segundo Davi, um escolhido era um Bem-aventurado.

Sl 100 – No Livro dos Cânticos de Israel, inicia convidando a todos os moradores da terra a celebrar com alegria ao Senhor. Todavia, é um salmo que declara a chamada específica da nação de Israel (Sl 100.3), que muitos espiritualizam e aplicam também à Igreja Cristã. 

Rm 9.4 – Israel, Guardião dos Oráculos Divinos – “...dos quais é a adoção de filhos (por eleição), a glória, os concertos, a Lei, o culto (mosaico) e as promessas e pais de Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos...”

Is 10.22-23; Rm 9.27;11.5 – O remanescente de Israel, parece ter um cunho escatológico, e mais precisamente, no final da Grande Tribulação. Zc 13.7-9, faz referência a duas partes extirpadas e a terceira parte restará nela, ou seja, na terra de Israel. Entendemos ser na reta final da GT no contexto do Oriente Médio (Zc 12-1-14).

Mc 13.19-20, Mt 24.22,31 – No seu sermão profético Jesus faz menção aos escolhidos (judeus no contexto da Grande Tribulação), e aqueles dias serão abreviados por causa deles. Pelo escopo geral das Escrituras, entendemos que Deus voltará a tratar diretamente com Israel, logo após o arrebatamento da Igreja.  Vivemos a Dispensação da Igreja desde o Dia de Pentecostes.

Em síntese, propósitos da Eleição (escolha) de Israel:

1.Para receber, transmitir e preservar as revelações divinas (Dt 4.5-8, Rm 3.1-2; Rm 9.4).

2.Dá testemunho da unidade da Divindade em meio a idolatria politeísta (Dt 6.4; Is 43.10-12).

3.Serviria para ilustração da bênção daqueles que servem ao verdadeiro Deus. (Dt 33.26-29; Ml 3.16-18).

4.E ser o canal humano para a vinda do Messias (Gn 21.12; 28.10,14; 49.10; II Sm 7.16-17; Is 7.13-14; Rm 9.4-5; Atos 13.22-23).

A Igreja – Eleita em Cristo Jesus (Ef 1.3-4; II Co 5.17), segundo a presciência de Deus (I Pd 1.2).

Deus, no coletivo, elegeu a Igreja desde a eternidade, antes da fundação do mundo, segundo a sua presciência (Ef 1.4; I Pd 1.2).

A eleição para a salvação em Cristo é oferecida a todos (Jo 3.16; I Tm 2.4-6; Rm 1.16). Portanto, a Eleição é Cristocêntrica. 

E torna-se uma realidade para cada pessoa de acordo com seu prévio arrependimento e fé (Mc 1.14-15; Ef 1.13;2.8; 3.17).

I Ts 1.4 – Paulo afirma à Igreja de Tessalônica – a vossa eleição é de Deus.

II Pd 1.10 – Pedro admoesta, aos irmãos, a fazer cada vez mais firme a vocação e eleição.  

Cl 3.12 – Paulo nomina a Igreja em Colossos, como eleitos de Deus, santos e amados... 

I Pd  2.9 – a Igreja é chamada de geração eleita, sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido....

Tito 1.1 – Paulo afirma que era servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus...

Textos diversos relacionados ao tema – Breves comentários:

Mt 22.14 – “Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”. 

Mt 22.1-14 – O texto e contexto trata da Parábola das Bodas, aplicada por Jesus aos judeus de seus dias, antevendo a rejeição de sua mensagem.  Muitos judeus ficaram de fora na festa do filho do rei (Vv. 2), por falta de dignidade dos convidados (Vv 8); outros foram convidados (Vv. 9-10, Mc 16.15-16 - os gentios). Porém, todos deverão estar na festa com vestes espirituais (Vv 11), vestidos da justiça de Cristo, pela graça. 

O fato de Israel, no coletivo, possuir uma chamada/escolha soberana de Deus, desde Abraão (Gn 12.1-4), não outorga salvação individual e automática a todos os judeus.

Mt 21.32 – Pela falta de arrependimento e fé, Jesus foi deixando claro, por parábolas, aos judeus, que eles estavam perdendo a bênção do Reino de Deus, por um tempo (Mt 21.31;Rm 11.11-12,15,25), mesmo sendo o povo da promessa, por causa de sua incredulidade (Mt 21.32).

Mt 21.33-46 - Príncipes dos sacerdotes e fariseus foram considerados por Jesus lavradores maus. 

Mc 16.15-16 - A salvação é ofertada, pela pregação do evangelho a todos. Porém, serão salvos em Cristo, os que aplicarem fé na mensagem da cruz (Rm 1.16;10.16). 

Rm 10.16 – O braço do Senhor se manifesta sobre os que creem no Evangelho, uma vez que a fé vem pelo ouvir (Rm 10.17). Ou melhor, a pregação tem efeito, pelo convencimento para arrependimento e leva o pecador à salvação em Cristo, quando existe fé, o ato de crer (Ef 1.13). Em Ef 2.8 o dom, a dádiva é a salvação, não a fé. Esta cabe ao homem confessá-la, exercitá-la em Cristo, o salvador. E se desse fé a uns, a outros não, estaria incorrendo em acepção de pessoas. 

A Eleição, a Fé e a Expiação em poucas linhas

É relevante compreender à luz das Escrituras:  Como frisei acima, a eleição é coletiva para o corpo de Cristo, a Igreja. A responsabilidade de responder positivamente ao chamado de Deus pela graça é individual. A graça capacita a crê todos os homens que ouvem atentamente a pregação do evangelho. Jesus disse: “Se alguém tem sede, que venha a mim e beba” (Jo 7.37-38). Como a vontade perfeita, plena de Deus era salvar a todos os homens, vindo ao conhecimento da verdade (I Tm 2.4), a graça de Deus precisa ter estudada e crida em três aspectos: Preveniente, subsequente e universal.  Sem a graça de Deus, o homem caído só poderia externar a pobre fé natural, genérica, não a salvífica.  

Por outro lado, este mesmo homem caído é instruído a buscar a Deus, o Senhor, enquanto se pode achar (Is 55.6-7). O homem precisa assumir o seu estado, confessá-lo e deixá-lo para alcançar misericórdia (Pv 28.13). Nestes termos, diz respeito à responsabilidade individual que no seu bojo, o pai não responde pelo filho, nem o filho pelo pai (Ez 18.20). "A alma que pecar, essa morrerá".

Sem sombra de dúvidas, a graça divina tem efeito eficaz quando a pregação do evangelho é recepcionada nos corações dos que a ouvem para segui-la e obedecê-la (Mc 16.15-16; Hb 4.2).

Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do Mundo (da humanidade). O Espírito veio para convencer o mundo (humanidade), do pecado da justiça e do juízo. Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo (II Co 5.19). Em I João 2.2 – “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”. Isto é, o sacrifício de amor por todo o mundo (da humanidade) de João 3.16 é suficiente para salvar a todos os homens. As Escrituras não comportam o ato da expiação limitada. Voltemo-nos às Escrituras. 

*Expiação – O ato de purificar, expiar, pagar pelas culpas e pecados. Por meio da Expiação de Jesus Cristo, na cruz, todo crente é purificado da mancha e da culpa dos seus pecados e reconciliados com o Pai Celestial (Jo 1.29; II Co 5.19; Ef 2.1;I Jo 1.7; 2.2; I Pd 1.18-19; Ap 5.8-9).

Mt 7.13-14 - A porta é estreita e apertado o caminho.....para salvação. De fato, a salvação é pela graça de Deus, porém não é barata. Tem inestimável valor espiritual.

Lc 18.7 – No texto os escolhidos de Deus, a quem Ele fará justiça, atenderá as suas orações, são todos os salvos em Cristo Jesus. E que perseveram na oração. Ao pecador temente, obediente, a este Deus ouve (João 9.31).

Rm 8.33 – Quem pode ser contra os escolhidos de Deus? Estes escolhidos são todos os salvos, justificados por Jesus, pelos seus méritos no calvário, mediante o que preceitua Rm 8.1 – “...nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus...”. E o determinante é está em Cristo.

Chamada geral para salvação (Mc 16.15-16; Jo 3.16; Rm 1.16) versus Chamadas Específicas – Dentro ou no curso do Plano Divino Redentivo, vemos nas Escrituras que Deus age, trabalha por  soberania com chamadas e escolhas específicas, segundo os seus propósitos eternos. No coletivo com a nação de Israel e individualmente com algumas pessoas. A Igreja, em Cristo e por Cristo, somos escolhidos (Ef 1.4). A Eleição envolve a fé salvífica (Ef 1.13.2,8; 3.17). Não basta uma fé genérica em Deus sem andar com Ele (Gn 5.24).

Exemplos de chamadas específicas:

De Abraão – Gn 12.1-4 – Com propósitos soberanos e eternos para constituir a nação de Israel. Com Isaque e Jacó foram ratificações do que Deus prometera a Abraão.

De José, filho de Jacó – Gn 37-50 – Até José só entendeu o trabalhar soberano de Deus, no fim dos seus dias, pois visava salvar, perpetuar a nação de Israel. Ou seja, tudo o que se passara com ele, estava muito além de seus interesses e temor pessoal a Deus. 

Do profeta Jeremias –  Jr 1.4-5 – Jeremias no meio de um povo escolhido, recebe um chamado específico para profeta em Israel e para com as outras nações. Uma chamada dessa natureza dá certamente muito mais segurança a quem é vocacionado para servir ao Senhor. Porém, não é com todos que Deus agia e age e assim.

A chamada dos doze discípulos (aprendizes, depois apóstolos) – Lc 6.12-16; Jo 6.67-71;15.16 – Jesus para compor o grupo dos doze, nem mais, nem menos, declara em João 15.16 que foi uma escolha dele, embora não tire a responsabilidade de nenhum deles pelos seus atos, ações e omissões. Daí, entre eles tinha até um traidor. Pedro negou a Jesus. Essa chamada muitos aplicam à igreja em geral, mas se trata de uma chamada específica.
No início do ministério de Jesus, Ele os escolheu. Hoje, somos escolhidos, eleitos em Cristo ao ouvir a palavra da verdade, o evangelho da salvação, e nele crê (Ef 1.4,13). Em atos 1.15-26, vemos os apóstolos, fazendo a escolha de Matias, para recompor o ministério e apostolado. De modo que, simbolicamente, na Bíblia o número 12 é uma representação tanto da totalidade de Israel, como da Igreja Cristã. Creio piamente que os 24 anciãos de Ap 4.10-11, representa Israel e a Igreja, no mundo espiritual, diante do Trono de Deus.

O Apóstolo Paulo – At 9.3-6;15-16 – Recebeu também uma chamada especifica. Podemos afirmar que Deus o escolheu a dedo (At 9.15-16) para pregador, apóstolo e doutor dos gentios (Rm 11.13; I Tm 2.7; II Tm 1.11). E foi o canal humano que Deus capacitou para fazer a transição do Judaísmo para o Cristianismo, debaixo de muita perseguições e sofrimentos por causa do Evangelho de Jesus (II Tm 1.12; 2.10).  Ele falando como judeu, em meio a rejeição do messias pelas autoridades religiosas de Israel, narrava o seu encontro pessoal com Jesus como o abortivo (nascido antes do tempo) e afirmava não ser digno de ser chamado apóstolo, pois havia sido um perseguidor da Igreja (I Co 15.8-9).

É importante frisar: Uma chamada específica da parte de Deus é muito honrosa, entretanto envolve maior responsabilidade de quem a recebe (Rm 1.1,14,16; I Co 9.16).

Diante do que dissecamos, cabe-nos, humildemente, tirar algumas conclusões acerca do termo escolhidos, eleitos de Deus e por Deus:

Deus tem a prerrogativa soberana de fazer escolhas específicas com propósitos salvíficos, sem em nenhum momento ferir o seu caráter justo e santo, nem atropelando o livre arbítrio dado aos homens (Gn 4.7; Jó 1.1; Dt 30.15-19; Ec 12.13-14; Mc 16.15-16).

Sl 139.1-24 – Davi, no Livro dos Cânticos de Israel, em linguagem poética disserta sobre a Onipresença e a Onipotência de Deus e faz destaque nos versículos 13-16 acerca do milagre e da geração da vida. O texto não trata de seletividade por Deus para destino A ou B do ser que Ele o criou à sua imagem e semelhança. O que se pode frisar é que Davi foi um escolhido por Deus para ser rei em Israel, com chamada específica no contexto de um povo eleito. Porém, não aplicável a outras pessoas genericamente.

Deus não faz acepção de pessoas, seja no âmbito material ou espiritual (Dt 10.17; II Cr 19.7; At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; I Pd 1.17). Jamais precisará fazer algo como média com os humanos.

É tolice falhos humanos se sentirem diante de Deus, “queridinhos dele”, e em pecado continuadamente, sem arrependimento, e sem um sério relacionamento com Ele.

Existem, pelo menos, três erros críticos a serem evitados a respeito do vocábulo escolhidos ou eleitos:

1.Não respeitar a especificidade da chamada coletiva e a individual;

2.Aplicar chamadas divinas, diretivas, de forma genérica a outras pessoas;

3.E terceiro, aplicá-las a si mesmo, principalmente quando é de bênção, em especial, para salvação. Pode até ser pecado de autopiedade, quando somos ensinados andar na piedade.

Fontes:
Bíblia Sagrada.
Anotações pessoais do blogueiro.
As Parábolas de Jesus e a Resposta Humana – Uma análise a partir da soteriologia arminiana – Carlos Kleber Maia – Editora Santorini 2022. 1ª Edição.


Por Samuel Pereira de Macêdo Borges
Bacharel em Direito e Teologia
Natal RN – 16/07/2020.  Revisão em 03/01/2023.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

A Vontade de Deus em Quatro Aspectos



Deus deu ao homem o Livre Arbítrio – a soma da liberdade de decidir com a responsabilidade pelas escolhas consumadas em todo o seu viver (Gn 4.6-7; Rm 12.21;14.12).

Na sua Vontade Desejo (Ez 33.11; Mt 23.37; Rm 11.32; I Tm 2.4; II Tm 3.16-17; II Pd 3.9) - Deseja, porém não determina que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (o tempo verbal para Deus é sempre o presente). E sendo Jesus o único mediador entre Deus e os homens (I Tm 2.5). 

Na sua permissividade (Gn 4.7;30.19; Js 24.15; Jn 1.3; Mt 26.34-35) - Deus ver ocorrer acontecimentos, experiências no meio dos humanos, muitas vezes, contrários à sua natureza benigna e amorosa, todavia, sem surpresas. Contempla em sua longanimidade transgressões a sua Vontade Moral – Padrão Ético para os homens, facultando ciclos de oportunidades para que, na sua individualidade, o homem se arrependa (Ez 18.23; At 17.30; I Tm 2.3-4; Tito 2.11-12; Ap 2.21).

O plano salvífico está pautado na Eleição, Predestinação (Ef 1.4,5; Rm 8.28-30) e na Presciência Divina (At 2.23; Rm 8.29ª; I Pd 1.2) - Não existe determinismo inconsequente, há sim violação a sua Vontade Moral (Jo 3.19; Rm 3.23; 6.23). Não encontramos nas Escrituras Plano Divino para condenação.

Finalmente, na sua Soberania (Sl 93; Jó 42.1-2; Is 40.15,17; Pv 16.4-6) - Ele cumprirá todos os seus desígnios e propósitos no plano material e espiritual, para com toda a sua Criação, sem usurpar a liberdade, sem atropelar a consciência humana em suas decisões e opções. Para Deus não existe passado nem futuro, tudo é presente. Glórias a Ele eternamente.

Samuel Pereira de Macedo Borges  

Bacharel em Direito e Teologia

Natal/RN, junho/2012 - Revisão em agosto/2024.


Subsídios:

Na Vontade Soberana (Jó 42-1-2; Is 43.13;46.9-11; Dn 4.17,35, Hb 2.4; Ap 17.17...).

1.Desenvolve-se no seu Plano Divino através dos séculos. Vejamos: Por volta de 2.100 a.C nasce Abraão e aos 75 anos recebe a promessa de que a partir dele Deus constituiria o povo judeu (Gn 12.1-4). Aos 100 anos de vida (Gn 21.5), nasce Isaque. Isaque aos 60 anos gera Esaú e Jacó (Gn 25.56). Em Gn 26.1-5, Deus confirma a promessa a Isaque. Abraão morre por volta de 1.925 a.C (Gn 25.7) E Isaque em 1.820 a.C (Gn 36.29). Em Gn 35.9-12, Deus ratifica a promessa a Jacó, e a partir dele se compõe a nação de Israel em doze tribos (Gn 49.1-33). Morre Jacó aos 147 anos no Egito (Gn 47.28), por volta de 1.793 a.C. Então, havia se passado 232 anos, do momento da chamada de Abraão à morte de Jacó e as promessas de Deus, soberanamente de pé e cumpridas. Deus pela sua soberania, elevou José a governador no Egito aos 30 anos (Gn 41.46), visando dá livramento a Jacó e os seus, e morre aos 110 anos, convicto de que Deus faria o seu povo subir da terra do Egito (Gn 50.15-20;22-26).  

2.Tem alcance para com Israel, os Gentios e a Igreja.

3.Ela não é influenciada. Tem independência plena (Gn 18.14; Jó 42-1-2; Is 43.13; Lc 1.37). E está muito além das possibilidades humanas.

4.Ela envolve propósitos de ordem eterna. Deus age por soberania, fazendo chamadas específicas, coletiva (Is 43.1,9-13), individuais (At 22.13-14), com missão determinada, com propósitos de geração a geração, ou seja, de longo alcance.

5.Pode ser executada com atos de misericórdia ou de juízo (Mq 7.18-20; Jr 51.29; Hb 10.31).

6.Quando expressa, tem caráter irrevogável. Deus não precisa de plano B. Assim é a chamada específica da nação de Israel (Ez 36.22-24; Is 54.7-8; Rm 11.29).

7.Ela se cumpre na plenitude dos tempos (Mc 1.15; Gl 4.4; Atos 17.26).

8.Não tem a ver diretamente com particularidades pessoais dos humanos (Is 55.7-11; Sl 92.5;139.17). A hipérbole, figura de linguagem, utilizada por Jesus em Mt 10.30 – “E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados” - visa realçar que Deus cuida de quem tem uma relação filial com Ele.

9.Enfim, a vontade soberana de Deus ninguém altera o seu curso e o seu cumprimento.

a) Quanto a sua Criação, Ele a controla, governa por meio de leis universais estabelecidas, seja da Física, da Química, da Biologia...e independe de fé humana. 

b) Na soteriologia, no Plano da Redenção, no primeiro momento, foi decisão amorosa, independente, incondicional e soberana de Deus prover salvar aos homens(Gn 3.15; Rm 9.15-16;11.32). Na oferta da salvação, há condicionantes, mediante a graça salvadora, o homem precisa exercitar o arrependimento e fé (Jo 3.16; Rm 6.23; Ef 2.8).

A Vontade Moral (Gn 3.17; Êx 20.1-17; Mc 3.35; Ef 6.6; Hb 13.21...).

1.O que afeta aos homens, indistintamente é a violação à sua vontade moral - padrão ético de conduta para por ele viver e se relacionar com Deus - Se transgredida, começamos a sofrer nesta vida as consequências. E na eternidade, o acerto final de contas, notadamente, se o homem deu ou não crédito a oferta gratuita de redenção, pela pregação evangelho de Jesus (Jo 12.47-48).

2.Ela revela o ideal de Deus para o comportamento angelical (Hb 1.14; II Pd 2.4; Ap 12.7-9 – juízo por rebelião), para com Israel a quem entregou a Lei diretamente (Êx 20.1-7; Is 43.10-12; Jr 29.11) e aos homens em geral (Sl 143.10;Mc 16.15-16; Rm 1.16;6.23; II Ts 1.7-8;II Tm 3.16-17).

3.Pode ser obedecida, violada ou transgredida (Ex 19.5-8; Rm 10.16).

4.Ela expressa padrões divinos de pureza, integridade e amor para ser vivida diante dele e nas relações humanas (Hb 12.14; I Jo 3.1-4).

5.É contrária a toda diversidade de pecados, sejam eles explícitos ou implícitos, públicos ou ocultos.

6.Pela sua misericórdia e graça, Deus dá tempo ao homem para se submeter a ela ou não, mediante o arrependimento e fé (Mc 1.14-15; At 17.30).

7.Ela põe à prova o livre-arbítrio do homem, pela pregação do evangelho, em especial para a salvação. É crê ou não crê (Jo 3.16). E portanto, não é compulsória ser obedecida.

A Vontade Permissiva (Gn 4.7;30.19; Js 24.15; Jn 1.3; Mt 26.34-35...).

1.Caracteriza-se pelo que não é taxativamente violação à sua vontade moral.  E ocorre para o bem ou para o mal, mediante decisões e opções humanas, de ordem material e espiritual, ora errando, ora pecando, saindo fora do caminho apontado. Convém esclarecer que há erros humanos que não são pecados, todavia todo pecado é um erro.

2.Tiago 4.13-17 – O apóstolo Tiago escreveu a respeito daquilo que projetamos, maquinamos realizar. Porém, não sabemos do amanhã. E por isso, devemos contar com Deus em nossos sonhos e planos para o futuro, seja de curto, médio ou de longo prazo. E conclui dizendo: “Se o Senhor quiser e se vivermos, faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15).

Entretanto, o texto tem sido mal aplicado para justificar as fatalidades, as tragédias humanas, como se fossem permissividade divina. A exegese do texto nada diz, nada revela sobre eventos da espécie.

E em Tg 4.17 – Declara que fazer o bem está dentro da vontade de Deus em todo o tempo e sabendo fazer e não o faz, peca-se por omissão. 

3.Em Atos 16-6-7 - Vemos o Espírito Santo não permitindo ações missionárias em determinados lugares. E parece-nos mais uma diretiva divina do que uma negativa de permissividade.

4.A permissividade divina, em geral, nem sempre confere com o ideal divino para com o homem/humanidade.  

5.Da Bíblia aprendemos, ao nos deleitamos em Deus, em seus preceitos, Ele de sua parte cumpre, atende desejos do nosso coração (Sl 37.4; Pv 16.3). Assemelha-se à relação de Pai para filho obediente.

6.Na vontade divina permissiva, explica-se grande parte do sofrimento humano, causando “pesar” ao Deus Criador (Gn 6.6), isto dizemos em linguagem antropopática.

7.Acontecimentos, fatos trágicos, no mundo material e espiritual, estão mais afetos à violação da sua vontade moral e não significa ausência divina sobre o que criou. Os homens é que ignoram a Deus.

8.A permissividade divina não é Deísmo – Crença de que o Universo foi Criação de um Ser Superior, dedução da razão humana, porém entregou a Criação à própria sorte.  

9.A vontade permissiva vemos nos atos de Jonas (Jn 1.1-2), quando contrariou o chamado divino e escorregou pela desobediência, fugindo para Társis, ao invés de ir evangelizar a cidade de Nínive. E o faz no segundo momento. Se Deus estivesse agindo por soberania, Jonas não teria fugido um milímetro do que Deus estava executando. E assim, Deus prossegue com Jonas, para demonstrar que sua misericórdia é sobre todo aquele que se arrepende. Sem exclusividade ou acepção de pessoas, de cor, raça, etc.

Deus muda de propósito (Jn 4.2,11), e deixa de executar juízo, onde houver arrependimento, mudança de atitude do homem, uma vez que Deus tem prazer em exercer a misericórdia (Mq 7.18).

10.Vemos a permissividade divina na figura do Pai (Lc 15.12) e do filho pródigo, nas suas atitudes (Lc 15.12-14), seguiu o curso de seu coração. Depois cai em si (Lc 15.17-21).

11.Enfim, também é perceptível a vontade divina permissiva nas negações de Pedro, fatos que Jesus revelou a Pedro antes de ocorrerem (Mt 26.34-35). E nem por isto isentou a Pedro de seus atos de fraquezas.

A Vontade Desejo (Ez 33.11; Mt 23.37; Rm 11.32; I Tm 2.4; II Tm 3.16-17; II Pd 3.9).

1.No âmbito geral das Escrituras, o desejo de Deus é, sem imposição, que todos os homens sejam salvos e venham ao conhecimento da verdade. E Jesus a personificação dessa verdade e o único mediador entre Deus e os homens (I Tm 2.5), o qual se deu por preço de redenção por todos os homens, no calvário (I Tm 2.6; Rm 3.25; Hb 2.9; I João 2.2). Entretanto, só terá efeito propiciatório, remissão de pecados na vida de quem exercitar a fé salvífica (Rm 10.16-17), cuja fé envolve um relacionamento com Deus (Hb 4.2;11.6; I Pd 1.18; I Jo 1.7). 


Por Samuel Pereira de Macedo Borges

Natal/RN, julho/2020 - revisão em agosto/2024.
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