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sábado, 22 de outubro de 2022

Escultura Arte, Imagem de Escultura Religiosa, Iconolatria e Iconoclastia no Império Bizantino

O Império Bizantino (395-1453 d.C.)

    Igreja Santa Sofia - Istambul/Turquia

Surgiu a partir da divisão do Império Romano feita pelo imperador Teodósio, em 395, correspondendo à parte oriental. Sua capital era Constantinopla, antiga cidade grega Bizâncio, que, por conta da sua posição geográfica, possibilitou o desenvolvimento do comércio e o Império oriental se expandiu.

Voltando no tempo, nos dois primeiros séculos da Era Cristã, a Igreja Primitiva esteve sob perseguição serrada do Império Romano. Os apóstolos tinham respeito às autoridades constituídas, mas não comungavam do culto aos césares. *O Cânon Sagrado do Novo Testamento estava em formação. Muitos cristãos pagaram com suas vidas a fé que professavam. E só quando foi promulgado, por volta de 313, o Édito de Milão é que foi proibida à perseguição dos cristãos. E por volta de 380 d.C. o imperador Teodósio oficializou o Cristianismo religião do Império Romano.

A Igreja Cristã recebeu o nome de Católica somente no ano 381, no concílio de Constantinopla com o decreto “CUNCTOS POPULOS” dirigido pelo imperador romano Teodósio (documentário o Estado do Vaticano – Pr. Lauro de Barros Campos).

*Em 397 d.C. no III Concílio de Cartago, ocorreu o reconhecimento definitivo e fixação do cânon do Novo Testamento. Foram quase 400 anos exames e amadurecimento pelos pais da Igreja, fazendo distinção entre o que era de inspiração divina e o que era apócrifo.

Com a queda do Império Romano Ocidental, em 476 d.C. saqueado pelos bárbaros, o Império Bizantino passou a ser o herdeiro das tradições romanas e sobreviveu mais mil anos.

O auge do Império Bizantino aconteceu no reinado de Justiniano (527-565 d.C.), que aumentou o seu território, além de ter compilado as leis romanas, criando o Código de Direito Civil.

Em 1.054 d.C. ocorreu o Cisma do Oriente e a Igreja Bizantina recebeu o nome de Igreja Católica Ortodoxa. O Império Bizantino sucumbiu em 1453, quando os turco-otomanos conquistaram a capital Constantinopla, último reduto do Império.

A Iconolatria Bizantina

A partir do século VI, quando o cristianismo já era a religião oficial do Império Bizantino, havia um grave surto de iconolatria (adoração de imagens) nos domínios do império. Existia uma mistura popular de resquícios dos antigos ritos dedicados aos ídolos pagãos, greco-romanos, com a veneração das imagens que representavam as personagens principais do Cristianismo.

A ortodoxia cristã dos primeiros séculos admitia a veneração de imagens sacras pelo fato de elas representarem o Cristo, a Virgem etc., e não propriamente encarnarem a pessoa deles. Desse modo, a veneração era autorizada, a idolatria (esta, sim, considerada um pecado), ou iconolatria, é que era proibida”.

O vocábulo ortodoxia define a corrente doutrinária, teológica firmada de acordo com as revelações divinas, conforme ao texto das Escrituras Sagradas. Então, a bem da verdade, a ortodoxia bizantina era uma pseudo ortodoxia. E estava pautada no Magistério da Igreja Romana e Bizantina, não na doutrina dos apóstolos primitivos.  E até hoje continua a veneração de imagens, de ícones religiosos, tanto pela Igreja Católica quanto pela Ortodoxa.

O que foi a Iconoclastia Bizantina? Consequência da Iconolatria

Foi um fenômeno político-religioso ocorrido no Império Bizantino nos os séculos VIII e IX, entre 726-843 d.C.

Mas que tipo de imagem era destruída no período em questão do Império Bizantino? Imagens que representavam as principais personalidades do cristianismo, a começar pelo próprio Cristo, seguido pela Virgem Maria, apóstolos, santos, mártires e anjos. E por que tais imagens religiosas passaram a ser destruídas? 

Leão III e Constantino V - Institucionalização da Iconoclastia

Os patriarcas e bispos do Oriente tentaram por um bom tempo reverter a iconolatria por meio da pedagogia litúrgica e das explicações sobre o que, de fato, as imagens representavam. Porém, no século VIII, ascendeu ao trono bizantino Leão III, o Isáurico, que governou de 717 a 741.

Convicto do caráter nocivo da veneração de imagens, Leão III começou a defender a institucionalização da iconoclastia a partir do ano de 726. O período mais violento em que vigorou a proibição da veneração de imagens ocorreu durante o reinado do filho de Leão III, Constantino V.

“A partir do concílio iconoclasta, reunido em Hiéria em 754, Constantino V lançou-se numa verdadeira perseguição. As esculturas foram arrancadas à força, os mosaicos cobertos de cal, os afrescos raspados, e os livros dos partidários das imagens queimados. Multiplicaram-se as prisões, destituições de cargos e deportações...”.

Fim da Iconoclastia

A veneração de imagens voltou a ser permitida no Império Bizantino com a ascensão da imperatriz regente Teodora (esposa de Teófilo e mãe de Miguel III, de quem foi regente de 842 a 855, após a morte do marido), no ano de 843.

Então, o que é um Iconoclasta?

O uso deste termo deriva do vocábulo grego “eikonoklastes” que se refere precisamente a um destruidor de imagens.  Então, está relacionado à atitude de um iconoclasta que é visava banir qualquer tipo de adoração a uma imagem religiosa nos dias do Império Bizantino.

Modernamente, o termo iconoclasta passou a ser utilizado, aplicado ao indivíduo que é contrário ao culto de imagens de esculturas, consideradas sagradas nos  vários segmentos religiosos, inclusive no Catolicismo.

Convém esclarecer que esse entendimento do vocábulo iconoclasta não justifica a idolatria, cuja prática religiosa é amplamente condenável nas Escrituras Sagradas, tanto no Antigo, como no Novo Testamento.

Segundo C. S. Lewis, professor universitário, escritor, romancista, poeta, crítico literário, ensaísta e teólogo irlandês (1898-1963), falando de oração, introspecção, dizia: Deus é um iconoclasta quando destrói os ídolos que criamos em nossas pobres mentes, imaginários inconsistentes na medida que dele buscamos nos aproximar.

Por outro lado, Deus não é um iconoclasta porque separa a “escultura arte”, uma memória histórica e estética, da imagem de escultura de cunho religioso, a qual abomina, porque lhe desvia o culto, a adoração que só a Ele é devida, em qualquer época e cultura. A verdade bíblica da exclusividade da adoração a Deus está muito bem definida nas Escrituras. 

Santuário do Bom Jesus Matosinhos - um legado da arte de aleijadinho

A Mitologia dos deuses

Povos antigos, na ignorância espiritual, por não conhecer o verdadeiro Deus, Criador de tudo e de todos, fragmentaram as origens e o poder de Deus em vários deuses. E ocorre que um deus da origem a outro com explicações estapafúrdias. Os deuses são diminutos restritos por áreas: um é do sol, outro da chuva, outro do ar, outro da lua, outro das colheitas, etc...

Por exemplo, no mito dos gregos, na Teogonia de Hesíodo, contemporâneo de Homero, poeta que se diz que viveu no século VIII a.C., narra que o mundo surge com o nascimento dos numerosos deuses que o constituem. E do conjunto de inumeráveis deuses...se chega ao governo, poder e sabedoria suprema de Zeus.

Na origem do universo, estão três deuses primordiais: Caos, Terra e Eros.

Há três grandes linhagens dos mitos: a descendência do Caos, a do Mar e a do Céu.

Observar que estágios da Criação e das criações de Deus, no relato do Gênesis, se fundem em deuses dos mitos gregos.  

Então, a Teogonia nos conta como o mundo surgiu a partir dos primeiros deuses, seus amores e suas lutas. Teogonia significa "o nascimento dos deuses".

É, em verdade, completamente destoante da fé e da esperança cristã racionais (Rm 12.1).

I Pedro 3.15 – “...e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós”.

Escreveu o apóstolo Paulo em Atos 17.29 – “Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a Divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens”.

Paulo estava em Atenas, no areópago, pregando o evangelho de Cristo, opondo-se à idolatria e superstição dos gregos, perdidos em seus mitos e apresenta-lhes o Deus Desconhecido, o Criador do mundo e tudo que há nele (Atos 17.22-24).

O nome Deus na Teologia Bíblica

Deus e deuses -  Consideremos, nas Escrituras escreve-se Deus (Hb. El, Elá, Eloim) com “D” maiúsculo. Quando se escreve com “d” minúsculo, refere-se aos deuses falsos, aos ídolos ou ao diabo (Êx 20.3-5,23; Sl 115.1-13; II Co 4.4). Na verdade, Deus tem vários nomes, inclusive nomes compostos, que manifestam o seu caráter, sua pessoa conforme o momento ou estágio da sua revelação progressiva à Humanidade. Não abordaremos neste artigo.

A adoração de imagens, ídolos vinculados à religião, aos deuses e criaturas na mitologia tem sido uma prática constante do homem desde sua presença na Terra. A isto chamamos de idolatria pagã. Contraria a fé monoteísta revelada no culto mosaico, onde encontramos suas bases no decálogo dado por Deus aos hebreus (Êxodo 20.1-17).

A Escultura Arte

É muito comum a exposição pública de esculturas de artes históricas, estéticas, culturais e decorativas, principalmente nas cidades europeias.  É a arte, não objeto de culto ou adoração. 

“Arte é a mistura única de habilidade, emoção, cultura e imaginação”.

“Um belo corpo perece, mas uma obra de arte não morre” – Leonardo Da Vinci.

Êxodo 25-17-22 - No tabernáculo, dentro do Santo dos Santos tinha duas esculturas de querubins, compondo o propiciatório que servia para cobrir, tampar a arca do concerto. A arca simbolizava a justiça e presença de Deus no santuário judaico. Porém, não era objeto de adoração. Quando o Sumo-Sacerdote entrava, uma vez por ano, no Santo dos Santos com o sangue da expiação, por ele e pelo povo, a glória de Javé tomava conta do ambiente, de modo que era de menor importância no lugar haver esculturas, uma vez que a manifestação da glória do Deus vivo de Israel, do eterno, ofuscava tudo que era objeto material no Santo dos Santos.

Nenhuma escultura, seja de arte histórica ou de caráter religioso pode ser objeto de veneração ou adoração. Só Deus deve ser adorado, em espírito e em verdade. Não foi Moisés quem assim determinou, mas o próprio Deus estabeleceu na Lei  (Êxodo 20.1-17) e reafirmado por Jesus em João 4.24, no seu ministério de ensino, na propagação do Reino de Deus.

A fé monoteísta foi instruída rigorosamente para fazer distinção entre o culto ao Deus Verdadeiro em relação aos deuses do paganismo antigo. Daí a expressão divina: “Não terás outros deuses diante de mim...” (Êxodo 20.3-5).

O fato de teólogos católicos condenarem o Monofisismo e o Nestorianismo, não serve de sustentação para o grave erro doutrinário da idolatria católica e ortodoxa.

O Monofisismo (doutrina que defendia ter Jesus só uma natureza: a divina. E afirmavam que a sua humanidade era apenas aparente, ideia gnóstica). Enquanto o Nestorianismo (de Nestório, patriarca de Constantinopla) não admitia a união hipostática das duas naturezas, uma divina e outra humana, em Jesus Cristo.

Jesus era e é Deus e se tornou homem na encarnação do verbo.

Jesus como homem tinha Maria sua mãe e José o seu pai adotivo. Em sua natureza divina tem o Pai, mas não tem mãe. Como homem estava despido da glória da Divindade, não da sua Divindade (Filipenses 2.6-11). Ele era e é Deus (João 1.1-3,14). E como Deus é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criação. E tudo criado por ele e para ele (Colossenses 1.14-19). E tudo está entregue em suas mãos (João 3.35).

O mistério da unidade da Trindade em três pessoas distintas, em essência, caráter e forma está presente nas Escrituras desde o Gênesis 1.1-2,26.

Jesus disse: “Eu e o Pai somos um” (João 10.30). E o Pai é maior do que eu (João 14.28). Considerando essa hierarquia entre o Pai e o Filho, podemos afirmar: Jesus Cristo é Deus. Entretanto, Deus, o Pai, não é Jesus. São pessoas distintas na unidade da Divindade.

E chegará o momento, na plenitude dos tempos, quando o Filho de Deus entregará tudo ao Pai (I Coríntios 15.24-28).

Não fazer distinção entre as duas naturezas, uma divina e outra humana, na pessoa de Jesus Cristo, é negar a sua encarnação. E quem assim o faz é o espírito do anticristo (I João 4.2-3).

A Idolatria à luz da Bíblia – Para saber da sua natureza abominável e condenável basta crê no que está escrito.

Êxodo 20.3-6 – “Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor, teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia em milhares aos que me amam e guardam os meus mandamentos”.

Isaías 42.8 – “Eu sou o Senhor: este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor, às imagens de escultura”.

A Idolatria é uma prática carnal tal qual a prostituição e outros pecados listados aos gálatas. Não é expressão de fé aceita, aprovada por Deus.

Gálatas 5.19-21 – “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus”.

Romanos 8.8 - "Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus".

Romanos 8.5-9 – O termo carne diz respeito a natureza humana caída, escrava do pecado, o homem natural que não tem visão e nem discernimento espiritual, morto em delitos e pecados, em se tratando de fé não distinguem a luz das trevas. Não precisa de uma religião, necessita nascer de novo (João 3.5-8) e seguir a Cristo, pois quem o segue terá a luz da vida (João 8.12).

Apocalipse 22.14-15 – “...Ficarão de fora (do direito a árvore da vida e do acesso a nova Jerusalém) os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira”.


Por Samuel Pereira de Macedo Borges

Bacharel em Direito e Teologia

Natal/RN, 22/10/2022

Fontes da Pesquisa:

HIGA, Carlos César. "Império Bizantino"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/imperio-bizantino.htm. Acesso em 11 de outubro de 2022.

Juliana Bezerra - Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.

FERNANDES, Cláudio. "O que foi a iconoclastia bizantina?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foi-iconoclastia-bizantina.htm. Acesso em 18 de setembro de 2022.

https://www.infoescola.com/mitologia-grega/teogonia-de-hesiodo/ - Ana Paula de Araújo.

Cisma do Oriente - Fonte: https://www.todamateria.com.br/ - Pesquisa em 11/10/2022.

Referência autoral (APA): Editora Conceitos.com (abril 2015). Conceito de Iconoclasta. Pesquisa em 11/10/2022.

Bíblia Sagrada Edição Revista e corrigida no Brasil.

Claudionor C. Andrade - Dicionário Teológico – CPAD – 4ª edição 1997.

 

 

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