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terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Graças a Deus por tudo?

 

A gratidão é uma virtude cristã que revela humildade, bem como dependência total de Deus acerca do que acontece em nossas vidas.

Em I Tessalonicenses 5.18 está escrito: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”.

Em Romanos 12.1-2 – O apóstolo Paulo trata do culto com entendimento, dirigindo-se à Igreja de Jesus em Roma, apresenta condicionantes (não se conformar o mundo e transformação pela renovação da mente), para que seja experimentada a vontade de Deus que é boa, agradável e perfeita. Ou seja, traduz o desejo de Deus para com o seu povo, aos que o servem e o adoram.

I Ts 5.18, não significa dá graças a Deus por tudo que nos acontece de bom e de ruim - Mas, em tudo, apesar de circunstâncias negativas, devemos permanecer gratos, adoradores aos pés do Senhor, confiando, esperando nele (Jó 1.20-22).

A vontade de Deus para os cristãos é que mantenhamos postura de gratidão, independente dos infortúnios da vida. Tornar-se ingrato por causa das tribulações e adversidades, é um retrocesso na fé cristã, é colocar em dúvida a bondade e a providência de Deus.

Gênesis 50.19-20 – Entendeu José: “É verdade que vocês planejaram aquela maldade contra mim, mas Deus mudou o mal em bem para fazer o que hoje estamos vendo, isto é, salvar a vida de muita gente” (NTLH).

Jó 2.9-10 - O que disse Jó para sua esposa, após ela dizer “amaldiçoa a Deus e morre”. Ele replicou, falas como uma doida e concluiu: “receberemos o bem de Deus e não receberíamos o mal? Foi uma dedução dele, diante de tamanha provação existencial, no primeiro momento.

Adiante, muito se esforçou, questionou para entender o que se passava, embora tenha afirmado: "Ainda que ele me mate, nele esperarei; contudo, os meus caminhos defenderei diante dele" (Jó 13.15). E finalmente, se rende perante Deus (Jó 42.5-6).

A explicação hermenêutica precisa, plena da realidade teológica que o fiel Jó enfrentou e venceu, estava no mundo espiritual. Tinha o agente do mal diretamente envolvido (Jó 1.12; 2.4-7) e Deus soberano na sua permissividade, bem como para o restituir (Jó 42.10-11).

Jesus veio ao mundo e prometeu, aos que o seguem, vida abundante (Jo 10.10). E no mesmo evangelho, revelou que aqui enfrentaremos reveses (Jo 16.33). É falso o evangelho de que a vida com Jesus é só vitória. Porém, a sua vitória sobre o mundo incrédulo e sobre aquele que detinha o império da morte (Hb 2.14), garante-nos êxito aqui e na eternidade. Glórias, portanto, ao seu nome!

O mal que nos sucede ou acontece, geralmente não provém de Deus. E não aponta diretamente para sua permissividade e sim para violação (desobediência) da sua vontade moral. É um mal consequente.

O Senhor trouxe o mal sobre e em Israel, várias vezes, como vara de juízo e correção (I Rs 9.9; 14.10). Todavia, afirmou em Jeremias 29.11:

“Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais”.

Antes de afirmarmos que algo foi permissão de Deus, perguntemo-nos primeiro, estamos dentro, atendendo a sua vontade moral? Temos pedido a Deus sabedoria para viver o existencial nas suas múltiplas áreas de competências?

Tiago 4.13-17 – Trata da falibilidade dos projetos humanos para o amanhã – Nem sabemos se vivos estaremos. A Exegese do texto não dá base para se afirmar que tudo que acontece no mundo espiritual e no mundo dos homens é permissão de Deus. Ao invés de defender um determinismo, direto ou indiretamente transferindo responsabilidade para Deus, Tiago chama os homens à responsabilidade dos seus atos: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado” (Tg 4.17).

Neste ponto o filósofo hispânico-romano Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) estava certo.


As Escrituras atestam que toda boa dádiva e todo dom perfeito vem de Deus (Tg 1.17). O versículo anterior parece-nos logo esquecido no contexto da declaração do verso 17. “Não erreis, meus amados irmãos” (Tg 1.16). 

Willian Tyndale dizia: “A bondade de Deus é a raiz de toda a bondade; e a nossa bondade, se é que temos alguma, floresce da bondade dele”.

E diante dessa breve reflexão, coloco em paralelo dois termos:

Masoquismo - É uma tendência ou prática pela qual uma pessoa busca prazer ao sentir dor, sofrimento ou imaginar que o sente, afundando no buraco da futilidade.

Sadismo – É a satisfação, prazer com a dor alheia. E não tem conotação exclusivamente sexual.

Há enorme diferença entre enfrentar o dia mau, o dia da adversidade com resignação, com fé, com a armadura de Deus, do que ficar curtido o sofrimento e as tragédias da vida (Ec 7.14; Ef 6.13; Rm 5.13; II Co 12.10). Tudo o que passarmos sob o prisma de Cristo, à sombra da cruz, não será fútil, sem significado, será útil, somará na batalha da fé.

De modo que acredito, segundo a Palavra de Deus, a Fé Cristã não é masoquista nem sadista.

Por Samuel Pereira de Macedo Borges

Bacharel em Direito e Teologia

Natal/RN, 17/12/2024.

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