(Jurista, político brasileiro baiano - 1849-1923)
A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si
mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento. Não é esse jogo da intriga, da
inveja e da incapacidade, a que entre nós deu a alcunha de politicagem. Esta
palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado.
Não há dúvida que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e
ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que seus consoantes. Quem lhe
dará com o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria? Politicalha?
Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima como um ferrete e desperta ao
ouvido uma consonância elucidativa.
Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se
relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente.
A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras
morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis.
A Politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses
pessoais. Constitui a política uma função, ou um conjunto das funções do
organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e
senhora de si mesma. A Politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos
povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A POLÍTICA é
a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de
moralidade estragada.
Rui Barbosa, em 18 de janeiro de 1917.
Postado por Samuel P M Borges - Natal RN - 07/10/2012.
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