Quando vier o que é perfeito,
quando vier o que é completo, o que é imperfeito e incompleto desaparecerá.
Acontece, porém, que quando vier o que é perfeito, o que é completo, muitas
coisas boas do presente não precisarão desaparecer, ser jogadas no lixo ou
enterradas numa cova mortuária. Embora não necessárias no futuro, elas merecem
respeito porque foram muito úteis no presente processo ou na presente história
da salvação. Estas coisas deverão ser arquivadas em sinal de reconhecimento e
gratidão. Não há melhor lugar para elas do que o estojo de lembrança ou o
porta-joias. Quem sabe, cada um de nós poríamos no memorial da salvação pelo
menos estes quatro porta-joias:
O porta-joias da Palavra
Aqui eu guardo a Palavra de
Deus. Ela me ajudou muito. Foi o livro que eu mais li. Desde a infância. A vida
inteira. Há um filete de sangue que percorre toda a Bíblia. Do Gênesis ao
Apocalipse. Desde o sangue dos animais sacrificados para que de suas peles Deus
cobrisse a nudez de Adão e sua mulher (Gn 3.21) até as duas últimas referências
ao sangue do Cordeiro, que tornou brancas as roupas da grande multidão que
ninguém podia contar e que eram de todas as nações, tribos, raças e línguas (Ap
7.9-17; 12.11). Essa Palavra testifica de Cristo e me levou a ele. Ela me
mostrou a grande destruição e a grande reconstrução, a grande queda e a grande
salvação.
O porta-joias da fé
Aqui eu guardo a fé, a
consistência do que eu esperava e a certeza daquilo que hoje vejo e agarro com
as mãos, quando isso era outrora impossível. Por meio dessa fé eu me aproximava
de Deus e o aguardava. Era por meio dessa fé que eu via meu pecado sobre Jesus,
era por meio dessa fé que eu via a cruz vazia e a sepultura vazia, era por meio
dessa fé salvadora que eu via Jesus à direita de Deus, era por meio dessa fé
que eu via o que hoje estou vendo sem a ajuda dela. A fé sempre foi para mim
como o cano que liga a caixa d’água à torneira ou como o fio que liga o gerador
de energia à tomada.
O porta-joias da esperança
Aqui eu guardo a esperança.
Quantas vezes a minha esperança batia as asas e ia embora, deixando-me sozinho
frente à dor. Quantas vezes a minha esperança batia as asas outra vez e voltava
para mim! No deserto eu não tinha esperança, no fundo do abismo eu não tinha
esperança, no vale da sombra da morte eu não tinha esperança, na tristeza eu
não tinha esperança, no abandono eu não tinha esperança. Mas, porque “o amor de
Deus não se acaba, e a sua bondade não tem fim”, somente por causa disso, eu
voltava a ter esperança e aguardava em silêncio a ajuda do Senhor (Lm 3.21-26).
A esperança me levava para bem longe, para um futuro distante, mas
esplendoroso, onde hoje estou!
O porta-joias da confissão
Aqui eu guardo a confissão.
Quantas vezes eu precisei dela para dizer ao Pai que havia pecado pela primeira
vez, pela segunda vez, pela sétima vez, pela 490ª vez. Quantas vezes confessei
e quantas vezes ele perdoou os meus pecados e me purificou da minha injustiça!
Como pecador, quase todas as minhas orações começavam com a oração do
publicano: “Senhor, tem misericórdia de mim!”. Além da pecaminosidade interior,
além do pecado desejado, além do pecado cometido, além do pecado ainda não
visualizado – eu confessava a minha fragilidade, a minha incapacidade, a minha
impossibilidade de superar determinadas fraquezas. Por meio da confissão – e só
por meio dela – eu mantinha a higiene da alma.
Fonte:
Revista Ultimato maio-junho 2013 – Edição
342.
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