(Resiliência da fé racional, o culto com entendimento)
Discordo!
(Por Ariovaldo Ramos)
Eu respeito o irmão e oro por ele, mas, discordo da forma como o Deputado está
conduzindo o mandato que recebeu de seus eleitores.
Nota do blog: O muito falar
leva a erros, em especial no fervor das discussões, como também quem interpreta
o verbalizado, dá o sentido que desejar na ótica do seu interesse.
Eu respeito os seres humanos
que optaram pela homossexualidade, mas, entendo que os direitos que estão a
reivindicar já estão contemplados nos direitos da pessoa humana, cobertos por
nossa Constituição, e que o que passa disso constitui reclamos por privilégios,
o que não é passível de ser concedido numa democracia, sob pena de
contradizê-la.
Eu respeito o direito das
uniões homossexuais terem garantida, pelo Estado, a preservação do patrimônio,
por eles construídos, quando da separação ou do falecimento de um dos membros
da união. Entretanto, discordo que seja possível transformar uma união
voluntária de duas pessoas do mesmo sexo, a partir de opção comum e particular,
em casamento, pois isso insinua haver um terceiro gênero na humanidade, o que
não se explicita na constituição do ser humano. Assim como não entendo que a
conjunção da maternidade e da paternidade, necessária para um desenvolvimento
funcional do infante humano, seja substituível por mera boa vontade.
Eu respeito e exerço direito
de pregar o que se crê, mas discordo do pregador, quando diz que (*1)Deus matou
John Lennon ou aos Mamonas Assassinas, por terem desacatado o Altíssimo, como
se o pecado humano não o fizesse desde sempre. A Trindade matou a todos os que
a desacatam, em todo o tempo, no sacrifício do Filho, manifesto por Jesus de
Nazaré (I Pd 1.18-20), na Cruz do Calvário, oferecendo a todos o perdão e a
ressurreição.
Nota do blog: (*1) - Aqui o pregador faz alusão à Lei da Semeadura, não a morte em delitos em pecados, na qual todos morremos desde Adão. Deus não se deixa ser zombado sem cobrar a conta no tempo dele.
Eu respeito o direito de ter
religião e o reivindico sempre, mas, discordo de tachar como agentes do inferno
quem não concorda com o que penso, como se Deus, por sua graça, não estivesse,
desde sempre, cuidando que a raça humana não sucumbisse à rebeldia inerente à
sua natureza, o que explica o triunfo do bem frente a maldade explícita. Por
isso discordo do pregador quando afirma que o sucesso de um artista, a quem
Deus, por sua graça, cumulou de talentos, como Caetano Veloso, só se explique
por ter feito pacto com o diabo. Como se ao adversário de nossas almas
interessasse qualquer manifestação do Belo.
Eu respeito e pratico o
direito ao livre exame das Escrituras Sagradas, conquistado pela Reforma
Protestante, e, por isso, enquanto respeito o direito do teólogo expressar suas
conclusões, discordo do teólogo quando suas considerações sobre o significado
de profecias do texto que amo e reverencio, não corresponderem ao que entendo
ser uma conclusão pautada pelas regras da interpretação bíblica, assim como, no
meu parecer, ferirem a uma das maiores revelações desse Livro dos livros: Deus
é Pai de todos, está em todos e age por meio de todos (*2) (Ef 4.6).
Nota do blog (*2) – É uma
referência à unidade da fé na Igreja, no corpo de Cristo. Deus é Criador de
tudo e de todos. Não é pai de todos os homens. Há criaturas e filhos de Deus.
Reconheço a qualquer ser
humano o direito de protestar contra o que não concorda, mas, nunca em
detrimento do direito do outro, o que inclui o direito ao culto. Uma coisa é
discordar do político outra coisa é cercear o direito do religioso, e de quem o
convide para participar de um culto da fé que pratica. Uma coisa é denunciar o
político por suas posturas, outra, e inadmissível, é atentar contra a
integridade física ou emocional dele e dos seus.
Não admito, contudo, como
cristão, ser sequestrado no direito de discordar, ou ser tratado como se fosse
refém das circunstâncias, sejam elas quais forem. Foi para a liberdade que
Cristo nos libertou (Gl 5.1).
Lamento que haja, entre os
cristãos, quem trate a nossa fé como se fosse frágil e necessitada de proteção.
Nossa fé foi preponderante na construção do Ocidente, e resistiu às mais
atrozes perseguições.
Nós sempre propugnamos pela liberdade.
Nós impusemos a Carta Magna ao Príncipe John, na Inglaterra; construímos o
Estado Laico na revolução americana, quando, numa nação majoritariamente
cristã, todas as confissões religiosas foram tidas como de direito. Nós lutamos
entre nós pelo fim da escravidão, seja na guerra da Secessão, seja por meio de (*3)
Wilberforce, premier Inglês, e de tantos outros movimentos. Nós denunciamos e
enfrentamos os que entre nós quiseram fazer uso da nossa fé para legitimar a
opressão. Os maiores movimentos libertários nasceram em solo cristão, e mesmo
quando renegavam ao que críamos, não havia como não reconhecer a nossa
contribuição à emancipação humana.
Nota do blog (*3) - William
Wilberforce (1759-1833) foi um político britânico, filantropo e líder do
movimento abolicionista do tráfico negreiro. Nativo de Kingston upon Hull,
Yorkshire, começou sua carreira política em 1780 como candidato independente,
sendo deputado do condado de Yorkshire entre 1784 e 1812 (Wikipédia – pesquisa em
13/02/2025).
“Finalmente, em fevereiro de
1807 – 20 anos após seu primeiro discurso pelo fim da escravidão –, foi
aprovada uma lei que abolia o tráfico negreiro em todo o Reino Unido e em suas
colônias. Sua luta, entretanto, estava longe do fim. Pelos 26 anos que se seguiram,
até sua morte, em 1833, William Wilberforce continuaria a trabalhar pela
erradicação do comércio de seres humanos e pela abolição do regime escravocrata”
(Revistashowdafe.com.br – pesquisa em 13/02/2025).
Nós construímos uma sociedade
de direitos, lutamos por e reconhecemos direitos civis, e não podemos abrir mão
disso; não podemos abrir mão da civilização que ajudamos a construir e a
solidificar, onde mulheres, homens e crianças são protegidos em sua integridade
e garantidos em seus direitos. Na democracia que ajudamos a reinventar, onde
cada ser humano vale um voto, tudo pode e deve ser discutido segundo as regras
da civilidade.
Nossa fé foi construída por
gente que foi a toda luta que entendeu justa, pondo em risco a própria vida, e
por mártires, por gente que se recusou a matar, por gente que não capitulou
diante do assassínio, pois nós cremos que Deus é amor, e que o amor de Deus é
mais forte do que a morte (Rm 8.38). E por amor a Deus e ao seu Cristo lutamos
pela unidade e pela liberdade da humanidade.
Adendo do blog: Discordar à parte das críticas, perseguições, inclusive da família e Igreja sob a liderança de quem sofre as pressões injustas, desonestas e mentirosas, é bem mais fácil.
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Ariovaldo Ramos é escritor, articulista e conferencista sobre a missão da
igreja. Foi presidente da AEVB (Associação Evangélica Brasileira), missionário
da SEPAL e presidente da Visão Mundial no Brasil. Atualmente é um dos
presbíteros da Comunidade Cristã Reformada, em São Paulo (SP).
Fonte: Site Revista Ultimato –
11 de abril de 2013 – Coluna Opinião.
Por Samuel Pereira de Macedo
Borges
Natal/RN, 13 de fevereiro de
2025.
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