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domingo, 10 de março de 2024

A Ceia do Senhor — A segunda ordenança da Igreja

Texto Áureo - I Co 11.26 - “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha”.

Verdade Prática - A Ceia do Senhor, como uma ordenança, celebra a comunhão do crente com o Senhor ressuscitado.

Estudaremos a Ceia do Senhor sob três perspectivas:

Primeira – Tem um olhar para trás, quando contemplamos Cristo, o Cordeiro de Deus (Jo 1.29), entregando-se em sacrifício vicário na cruz, provendo redenção, perdão à humanidade pecadora.

Segunda - É um olhar para o presente, quando reconhecemos a graça de Deus como meio eficaz para alcançarmos comunhão com Ele e com os irmãos aos pés do calvário e no domingo da ressurreição.  

Terceira – Contém um olhar para o futuro, quando mantém a esperança na Segunda Vinda de Cristo. De modo que a Ceia do Senhor é uma cerimônia que deve ser celebrada com reverência, júbilo e expectativa.

I. O Cerimonial da Ceia do Senhor na Tradição Cristã

1. No romanismo - Compreende de forma literal as expressões ditas por Jesus em referência aos elementos da Ceia do Senhor: “isto é o meu corpo” (Lc 22.19); “Este cálice é [...] meu sangue” (Lc 22.20).

O ensino da transubstanciação (alteração da substância) - Segundo esse entendimento, durante o cerimonial os elementos da Ceia se convertem no corpo e no sangue de Cristo.

2.A consubstanciação na tradição protestante luterana - Afirmam que o corpo físico de Jesus está presente no pão da Ceia. Contudo, negam que os elementos da Ceia, o pão e o vinho, se transformam no corpo e no sangue de Jesus, o Cristo. 

3. A posição pentecostal e em geral dos evangélicos – A exegese do texto é que o pão e o vinho não se convertem fisicamente no corpo de Jesus, nem está Jesus presente fisicamente neles.

Assim sendo, o pão e o vinho simbolizam o corpo e o sangue de Jesus. Contudo, Jesus se faz presente espiritualmente na cerimônia da Santa Ceia (Mt 18.20), e em memória celebramos a Ceia do Senhor conforme I Co 11.24-25.

Importante entender: A Ceia do Senhor é para sua Igreja, aos batizados, em comunhão com Deus, através de Cristo Jesus. Não visa conceder comunhão no ato da celebração via ato sacramental religioso.

Assim começou a Igreja Primitiva: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (At 2.42). 

*Veja mais detalhes abaixo nos subsídios.

II. O Propósito da Ceia do Senhor

1. Celebrar a expiação de Cristo – Aponta para o calvário, a celebração objetiva “anunciar a morte do Senhor” (I Co 11.26). Como Jesus ressuscitou, na Ceia proclamamos a vitória de Cristo na cruz:

a) Sobre o pecado, a morte e o Diabo (Hb 2.14,15).

b) Por intermédio da morte de Cristo na cruz e sua ressurreição, fomos justificados e reconciliados com Deus (II Co 5.21).

Rm 4.24-25 – “...cremos naquele que dos mortos ressuscitou a Jesus, nosso Senhor, o qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação”.

c) Portanto, na Ceia do Senhor a Igreja Cristã celebra a sua redenção (Jo 19.30).

Ap 5.9 – “E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação”. 

2. Proclamar a segunda vinda de Cristo - (I Co 11.26). Logo, há um sentido escatológico na celebração da Ceia do Senhor.

3. Celebrar a comunhão cristã – A tônica do apóstolo Paulo em I Co 11.17-34 objetiva ensinar o cerimonial da Ceia do Senhor, destacando o significado simbólico e espiritual da celebração.

Um detalhe histórico por influência da Páscoa Judaica (Mt 26.21,26; Lc 22.11-13) - Uma das tradições na Igreja Primitiva era a Festa Ágape, realizada antes da Ceia do Senhor. Todos traziam pratos prontos, bebidas de suas casas e juntos faziam um grande banquete. Só que a desordem, a irreverência foi tomando conta dessa ceia comum e coletiva.

A Ceia do Senhor não era um mero ajuntamento social de religiosos para comilanças e bebedeiras, sem ordem e decência. E ainda menosprezava quem pouco ou nada tinha para participar da refeição social. 

Em resumo: O propósito da Ceia do Senhor passa pela lembrança da expiação de Cristo, a sua ressureição, nossa comunhão com Ele e irmãos na fé, apontando para esperança da sua segunda vinda.

III. O Modo de Celebrar a Ceia do Senhor

1. O que é participar “indignamente” da celebração da Ceia do Senhor? (I Co 11.27).

O termo português “indignamente” é a tradução do advérbio grego anaxiós. Indica a maneira ou modo como se faz ou como participa de algo.  Então, o advérbio está relacionado ao modo, a maneira como os coríntios estavam celebrando a Ceia do Senhor:

a) De maneira desordenada - Quando não esperavam um pelos outros, havia disputas e se embriagavam (I Co 11.18,21, 33-34).

b) De maneira irreverente - Quando comiam mais do que os outros, sem senso do sagrado na simbologia da Ceia; e desprezavam quem nada havia trazido para a ceia comum (I Co 11.22).

2. Uma celebração reverente - Se em lugar de um advérbio, que indica modo ou maneira, Paulo tivesse usado um adjetivo, que indica estado, qualidade ou natureza, então ninguém poderia participar da Ceia, pelo fato de que ninguém é digno (I Co 11.27). Como explicitado, não é esse o caso. Somente pela graça de Deus, podemos celebrar e participar da Mesa do Senhor.

3.Uma celebração de salvos em Cristo - Se a simples maneira irreverente de celebrar a Ceia atrai o juízo divino (I Co 11.27), o que dizer então de quem participa com pecados não confessados? Pecado não confessado atrai o juízo divino (Rm 6.23; I Co 15.56-57).

O Autojulgamento – Examine-se debaixo da Graça de Deus (I Co 11.28)

O cristão ao participar da Ceia do Senhor, faz-se necessário ter consciência do significado da sua simbologia, discernindo o corpo do Senhor, trazendo a memória o valor do sacrifício de Jesus no calvário. Senão, traz condenação sobre ele (I Co 11.27-29). A Ceia do Senhor não é uma simples refeição coletiva. 

I João 1.6-7 – “Se dissermos que temos comunhão com ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado”.

E em sendo Igreja, quando necessário, somos disciplinados pelo Senhor para não sermos condenados com o mundo (I Co 11.31-32).

4. Uma Celebração Festiva - A Ceia do Senhor celebra a morte e ressurreição de Jesus e não o seu funeral (I Co 15.1-4). Como disse Jó: “Eu sei que o meu redentor vive”. Deve, portanto, ser uma celebração reverente, na pureza (I Co 5.7-8), jubilosa e que expressa a morte tragada na vitória (I Co 15.54).

Alguém disse - A cruz de Cristo é o grito de Deus para a humanidade debaixo de  pecados:  Você não pode salvar a si mesma.

Conclusão

1. A Ceia do Senhor não é um sacramento, que de forma mágica concede graça aos que dela participam nem tampouco uma vacina para dar comunhão a quem não a tem com Deus.

2.A Ceia do Senhor é uma ordenança bíblica (Lc 22.19,20) para quem está reconciliado com Deus e nela celebramos a nossa redenção no Cristo ressuscitado, até que Ele venha (I Co 11.26).

3. A celebração da Ceia do Senhor dever ordeira, reverente e jubilosa, compreendo a sua simbologia e para dela participarmos somos dignos, mediante a graça de Deus.

4.Portanto, trata-se de um ato memorial que não pode ser celebrado de qualquer jeito, nem tampouco por quem vive deliberadamente em pecado (I Co 11.27-29; I Jo 1.6-7).

*Subsídios:

a) O pão e o vinho, como elementos figurativos na Ceia do Senhor, não comportam adoração como se fossem o próprio Cristo.

b) É antibíblico afirmar que a celebração da Ceia do Senhor (eucaristia), seja uma repetição do sacrifício de Jesus na cruz.

O sacrifício de Jesus no calvário foi completo, feito uma vez, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, não precisa ser repetido (Hebreus 10.10-12). Está consumado o plano da redenção para todo o que crê (João 19.30).

Quando Jesus disse em João 6.53-56, para comer da sua carne e beber do seu sangue, para termos vida eterna e permanecermos nele e ele em nós, os judeus ficaram confusos porque entenderam ao pé da letra (João 6.52). Contudo, Jesus, no contexto do discurso, transmitia verdades espirituais por metáforas.

a) Em João 6.35,48 declara “Eu sou o pão da vida”. Pão que mataria a fome de quem vem a Ele. E a sede de quem nele cresse. Claro, fome e sede espirituais saciadas, mediante a fé.

b) Em João 6.51 – Jesus faz menção a sua carne, o seu corpo que daria pela vida do mundo (a humanidade) na cruz.

c) De modo que quem se alimenta do “pão da vida” viverá por Ele (Jo 6.57).

d) Assim sendo, comer da sua carne e beber do seu sangue, significa absorver por fé o seu sacrifício na cruz em nosso lugar, na condição de Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, onde temos promessa de vida eterna (Jo 6.67-69;3.16).

Fonte: Lição 10 - EBD/CPAD - 1º trimestre de 2024.

Por Samuel Pereira de Macedo Borges 

Bacharel em Direito e Teologia.

Natal/RN, 10/03/2024.

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