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sábado, 18 de abril de 2020

A fé para salvação é um dom de Deus?



Neste artigo, desejamos tratar da fé salvífica, ou salvadora como chamava Calvino (1509-1564), teólogo cristão francês, não de modo exaustivo, como alguns teóricos do calvinismo fizeram, tal como Thedore Beza (1519-1605), discípulo e sucessor de Calvino em Genebra, com menção a tantos textos das Escrituras, no capítulo “a Fé Cristã", de um dos seus livros, que do ponto de vista da exegese bíblica contemporânea ficou muito a desejar.

No presente trabalho citarei textos mais objetivos, prendendo-me às Escrituras, na simplicidade do Evangelho de Cristo Jesus. Que o Espírito Santo seja o agente discernidor da compreensão da Palavra de Deus.

Primeiro ponto a observar é que não se crê naquilo que se não se conhece. E essa é a razão primária porque o evangelho de Jesus, deveria ser anunciado a todas as gentes.

Marcos 16.15-16.  
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”.

Hebreus 11.6 – “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam”.

Este texto ensina a necessidade da fé para se aproximar de Deus, sem ela ninguém lhe agrada, ou seja, não terá a sua atenção. E evidencia da parte do homem, buscar a Deus. O reencontro do homem com Deus é uma via de mão dupla (Is 55.6-7). A salvação é para todos, faz-se necessário ter sede de salvação (IS 55.1; Ap 22.17).

Por toda a Bíblia,  está explícito e implícito o intento, o desejo de Deus em salvar, e na primeira oportunidade o Espírito Santo passa a atuar no  pecador para o convencimento do pecado (incredulidade), da justiça, e juízo (João 16.9-11). É a ação do Espírito quem capacita o pecador a crer, o que alguns chama de Graça Preveniente. Existem ainda outros dois aspectos da graça: A consequente e a Universal. Não são, propriamente, objetos dessa postagem.

Apesar da queda espiritual desde o Éden (pecado original), o homem não perdeu totalmente a imagem e semelhança com o seu Criador. Ela está maculada, mas ainda há uma centelha na sua consciência (faculdade do espírito humano), que ao agir nela o Espírito Santo, pela pregação do evangelho, pode sim, despertá-lo para Deus. A quem chame essa voz dentro do homem, mesmo caído, de graça predisponente.  Este é outro ponto discutível, não me estenderei aqui.

Prosseguindo, veremos que existe na Bíblia a fé em vários aspectos.   No NT o verbo pisteuô (creio, confio), e o substantivo pistis (fé), ocorrem cerca de 480 vezes.

Vejamos cinco aspectos da Fé Cristã:

Tg 2.14,17 - Fé comum ou natural – É a aceitação genérica num ser superior, e até de certas verdades acerca de Deus, porém não acompanhada de frutos dignos de arrependimento e nem de longe parece com a fé cristã que vence o mundo incrédulo, de I Jo 5.4. Esta fé não passou pela peneira do arrependimento de Mc 1.14-15, “Arrependei-vos e crede do evangelho”.

I Co 12.9 –  A Fé como um dom – Os dons espirituais, são ferramentas espirituais dada à Igreja Militante, no cumprimento da sua missão na terra. Quem recebe o dom de fé, é como um “plus” no exercício da fé, e por ele Deus pode operar o sobrenatural, milagres, curas, etc. E sempre para o que for útil (I Co 12.7).

Gálatas 5.22 – A fé fruto do Espírito – É outra dimensão da fé, que se manifesta no corpo de Cristo, na vida do salvo que se deixa guiar e anda sob o comando do Espírito Santo (Gl 5.16).

Efésios 2.8 - A fé salvífica, ou fé para salvação – O texto trata da salvação pela graça, sem méritos humanos, mediante a fé, pois não se pode cogitar nenhuma promessa de Deus para quem não crê, muito menos a maior delas, a salvação eterna.

Muitos tem ensinado que a fé um dom de Deus, com base em Ef 2.8; Hb 12.2, Judas Vv 3. Então indagamos, Deus dá a uns e a outros não? Pois é certo que muitos não serão salvos (Ap 20.11-15).

Se assim o fizesse, não estaria Ele fazendo acepção de pessoas, para salvação e outros para condenação eterna? Ou a fé para salvação é uma resposta da livre vontade do homem, confessando-se pecador, e buscando a graça salvadora de Deus?

Mc 16.15-16 - Na pregação do evangelho cabe ao homem dá crédito ou não a sua mensagem. Está implícita a responsabilidade do homem. O dever cristão é pregar a palavra, já na condição de salvos em Cristo. Dando de graça o que de graça recebeu.

De acordo com Hebreus 4.2, as boas novas, a mensagem da cruz, poder de Deus para salvação (Rm 1.16), só surtirá efeito positivo em quem a ouve e dá crédito ao evangelho (IS 53.1). Está, portanto, evidente a responsabilidade do homem em exercitar fé para salvação. 

Enfim, o ato de crê para salvação é produzido pela pregação do evangelho, conforme menciona o Apóstolo Paulo em Rm 10.17 – “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus”.

Hb 12.2 – “Olhando para Jesus autor e consumador da fé...” Só o restante do que está escrito no versículo já o habilita a ser autor e consumador da nossa fé e de todo aquele que absorver por fé o seu sacrifício substitutivo e insubstituível no gólgota (Jo 3.16; Rm 5.2). Veja o artigo completo: https://samuca-borges.blogspot.com/2020/04/jesus-autor-e-consumador-da-fe-crista.html

Efésios 2.8 (Comentário bíblico expositivo Warren W. Wiesbe – 1929-2019 - pastor e escritor, conferencista americano), segundo o Pr Warren:

“No grego, o demonstrativo isto em Ef. 2.8 é neutro; enquanto a fé é substantivo feminino. Logo, isto não pode se referir a fé. Refere-se, antes, à experiência da salvação em sua totalidade, inclusive a fé. A salvação é dádiva, não uma recompensa”.

Fl 1.27; I Tm 1.18-19;6.12 – A Fé dada aos santos (Jd  Vv 3) -  Refere-se ao evangelho proclamado por Jesus e pelos os apóstolos. É a verdade estabelecida e inalterável, comunicada pelo Espírito Santo e incorporada ao NT, que levou à salvação. E por conseguinte ao  serviço.

Jd Vv 3 - Batalhar (gr. Epagonizimai) – Descreve a luta que o crente fiel deve travar na defesa da fé.

Em outras palavras: A fé a que se refere Judas não é a fé individual, confessional para salvação pessoal, na verdade abarcava todo o arcabouço doutrinário da Igreja Cristã em formação debaixo de severas lutas e perseguições (Fp 1.27; I Tm 1.5,18-19;6.12).

II Ts 3.2 – “A fé não é de todos” – O que Paulo quis dizer é que nem todos os homens dariam crédito ao evangelho (Is 53.1), a proposta de redenção mediante o calvário, onde se efetivou pela graça salvadora para os crêem (Jo 3.16; 3.36; Rm 1.16), sejam judeus ou gentios.

Até em Israel, guardiões dos oráculos divinos, povo das promessas, dos concertos, (Rm 9.1-5), houve resistência à proposta divina da redenção (Mt 21.32;At 7.51). E por um tempo rejeitados, na sua incredulidade (Rm 11.11-12,15,25-26). Deus voltará a tratar com Israel, após o arrebatamento da Igreja (Visão pre-tribulacionista).

De acordo com Mt 21.32;Mc 1.14-15; At 11.21;Lc 13.3,5, o arrependimento/conversão e fé são condições imperativas e inseparáveis à salvação. E em verdade, são os rudimentos da doutrina cristã (Hb 6.1). Ou seja, passos iniciais na direção de alcançarmos a estatura do varão perfeito, que é Cristo (Ef 4.13). 

É importante ressaltar que a definição da fé salvífica sem o rompimento total com o pecado, distorce frontalmente o conceito bíblico de redenção, uma vez que ela leva o homem a se relacionar com Deus por Jesus Cristo e passa a frutificar, se autêntica.

Segundo Mt 21.32 – A fé salvífica passa pelo arrependimento, ou seja, pelo chamado de Jesus ao arrependimento em Mc 1.14-15.

Verdade é: A fé redentiva precisa ser exercida por aquele que crê para se apropriar da salvação em Cristo Jesus. E aí reside a responsabilidade do homem com a sua salvação pessoal. E não afeta a soberania de Deus, nem se computa nenhum mérito humano. E, portanto, a fé que leva à salvação, conforme Rm 5.2 é porta de entrada à graça de Deus. E bendito seja o seu nome eternamente!

Subsídios - Pontos gerais sobre a fé:

Gn 12.1-3; Rm 4.3; Gl 3.6-7 – Deus chamou à Abraão (chamada específica) e ele creu. A partir daí, Deus passa a trabalhar com ele o seu Plano Redentivo, e nele seria Bendita todas as nações da terra (Gl 3.8). E tudo isto, diz respeito a justificação pela fé em Cristo (Rm 5.1).

Gl 3.6-7 – A fé foi imputada a Abraão como ato de justiça. Os que são da fé, são filhos de Abraão.

Rm 12.3 - Medidas da fé repartida por Deus no corpo de Cristo, a Igreja.  

Ef 4.1-6 – A unidade da fé no corpo de Cristo.

Rm 14.23 – “...E tudo que não é de fé é pecado”.

Ef 6.16 – O escudo da fé e com ele podemos apagar os dardos inflamados do maligno.

I Tm 5.8 – A fé sem piedade não é consistente.  A fé sem frutos é falsa. Não é autêntica. (Tg 2.14-18).

Rm 5.1 - Fé – Um dos elementos fundamentais na doutrina da justificação. Aliada à graça e ao sangue de Jesus.

I Jo 5.4 – O trunfo da vitória contra o mundo incrédulo é a fé cristã.

Rm 12.1 – O culto racional é expressão intelectual da fé cristã. A fé bíblica não é um saldo no escuro. Há razão em nossa esperança (I Pd 3.15).

At 16.31 – Crê no Senhor Jesus cristo e serás tu e tua casa. O texto realça a fé e a oração intercessória. A oração de um justo pode muito em seus efeitos. Ninguém mais do que Deus interessa e deseja salvar nossos familiares, e se cressem, a todos os homens (I Tm 2.4).

Por Samuel P M Borges

Bacharel em Direito e Teologia

Natal RN – Abril 2020 - (revisão setembro 2023).

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