Neste artigo, desejamos tratar da fé salvífica, ou salvadora como chamava Calvino (1509-1564), teólogo
cristão francês, não de modo exaustivo,
como alguns teóricos do calvinismo fizeram, tal como Thedore Beza (1519-1605),
discípulo e sucessor de Calvino em Genebra, com menção a tantos textos das
Escrituras, no capítulo “a Fé Cristã", de um dos seus livros, que do ponto de
vista da exegese bíblica contemporânea ficou muito a desejar.
No presente trabalho citarei textos mais
objetivos, prendendo-me às Escrituras, na simplicidade do Evangelho de Cristo
Jesus. Que o Espírito Santo seja o agente discernidor da compreensão da Palavra de
Deus.
Primeiro
ponto a observar é que não se crê naquilo que se não se conhece. E essa é a
razão primária porque o evangelho de Jesus, deveria ser anunciado a todas as
gentes.
Marcos
16.15-16.
“E disse-lhes: Ide por todo o
mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo;
mas quem não crer será condenado”.
Hebreus 11.6 – “Ora, sem fé é
impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus
creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam”.
Este texto ensina a
necessidade da fé para se aproximar de Deus, sem ela ninguém lhe agrada, ou
seja, não terá a sua atenção. E evidencia da parte do homem, buscar a Deus. O reencontro do homem com Deus é uma via de mão dupla (Is 55.6-7). A
salvação é para todos, faz-se necessário ter sede de salvação (IS 55.1; Ap
22.17).
Por toda a Bíblia, está explícito e implícito o intento, o desejo de Deus em salvar, e na primeira oportunidade o
Espírito Santo passa a atuar no
pecador para o convencimento do pecado (incredulidade), da justiça, e
juízo (João 16.9-11). É a ação do Espírito quem capacita o pecador a crer, o que alguns chama de Graça Preveniente. Existem ainda outros dois aspectos da graça: A consequente e a Universal. Não são, propriamente, objetos dessa postagem.
Apesar da queda espiritual
desde o Éden (pecado original), o homem não perdeu totalmente a imagem e
semelhança com o seu Criador. Ela está maculada, mas ainda há uma centelha na sua
consciência (faculdade do espírito humano), que ao agir nela o Espírito Santo,
pela pregação do evangelho, pode sim, despertá-lo para Deus. A quem chame essa
voz dentro do homem, mesmo caído, de graça predisponente. Este é outro ponto discutível, não me estenderei aqui.
Prosseguindo, veremos que
existe na Bíblia a fé em vários aspectos. No NT o
verbo pisteuô (creio, confio), e o substantivo pistis (fé), ocorrem cerca de
480 vezes.
Vejamos cinco aspectos da Fé Cristã:
Tg
2.14,17 - Fé comum ou natural – É a aceitação genérica num
ser superior, e até de certas verdades acerca de Deus, porém não acompanhada de
frutos dignos de arrependimento e nem de longe parece com a fé cristã que vence
o mundo incrédulo, de I Jo 5.4. Esta fé não passou pela peneira do
arrependimento de Mc 1.14-15, “Arrependei-vos e crede do evangelho”.
I
Co 12.9 – A Fé como um dom – Os
dons espirituais, são ferramentas espirituais dada à Igreja Militante, no
cumprimento da sua missão na terra. Quem recebe o dom de fé, é como um “plus”
no exercício da fé, e por ele Deus pode operar o sobrenatural, milagres, curas,
etc. E sempre para o que for útil (I Co 12.7).
Gálatas
5.22 – A fé fruto do Espírito – É outra dimensão da fé, que
se manifesta no corpo de Cristo, na vida do salvo que se deixa guiar e anda sob
o comando do Espírito Santo (Gl 5.16).
Efésios
2.8 - A fé salvífica, ou fé para salvação – O texto trata da
salvação pela graça, sem méritos humanos, mediante a fé, pois não se pode
cogitar nenhuma promessa de Deus para quem não crê, muito menos a maior delas,
a salvação eterna.
Muitos tem ensinado que a fé
um dom de Deus, com base em Ef 2.8; Hb 12.2, Judas Vv 3. Então indagamos, Deus
dá a uns e a outros não? Pois é certo que muitos não serão salvos (Ap
20.11-15).
Se assim o fizesse, não
estaria Ele fazendo acepção de pessoas, para salvação e outros para condenação
eterna? Ou a fé para salvação é uma resposta da livre vontade do homem,
confessando-se pecador, e buscando a graça salvadora de Deus?
Mc 16.15-16 - Na pregação do
evangelho cabe ao homem dá crédito ou não a sua mensagem. Está implícita a
responsabilidade do homem. O dever cristão é pregar a palavra, já na condição
de salvos em Cristo. Dando de graça o que de graça recebeu.
De acordo com Hebreus 4.2, as
boas novas, a mensagem da cruz, poder de Deus para salvação (Rm 1.16), só surtirá
efeito positivo em quem a ouve e dá crédito ao evangelho (IS 53.1). Está,
portanto, evidente a responsabilidade do homem em exercitar fé para
salvação.
Enfim, o ato de crê para
salvação é produzido pela pregação do evangelho, conforme menciona o Apóstolo
Paulo em Rm 10.17 – “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de
Deus”.
Hb
12.2 – “Olhando para Jesus autor e consumador da fé...” Só o
restante do que está escrito no versículo já o habilita a ser autor e consumador
da nossa fé e de todo aquele que absorver por fé o seu sacrifício substitutivo
e insubstituível no gólgota (Jo 3.16; Rm 5.2). Veja o artigo completo: https://samuca-borges.blogspot.com/2020/04/jesus-autor-e-consumador-da-fe-crista.html
Efésios 2.8 (Comentário
bíblico expositivo Warren W. Wiesbe – 1929-2019 - pastor e escritor, conferencista
americano), segundo o Pr Warren:
“No grego, o demonstrativo
isto em Ef. 2.8 é neutro; enquanto a fé é substantivo feminino. Logo, isto não pode se referir a fé.
Refere-se, antes, à experiência da salvação em sua totalidade, inclusive a fé.
A salvação é dádiva, não uma recompensa”.
Fl
1.27; I Tm 1.18-19;6.12 – A Fé dada aos santos (Jd Vv 3) - Refere-se ao evangelho proclamado por Jesus e
pelos os apóstolos. É a verdade estabelecida e inalterável, comunicada pelo Espírito
Santo e incorporada ao NT, que levou à salvação. E por conseguinte ao serviço.
Jd Vv 3 - Batalhar (gr.
Epagonizimai) – Descreve a luta que o crente fiel deve travar na defesa da fé.
Em outras palavras: A
fé a que se refere Judas não é a fé individual, confessional para salvação
pessoal, na verdade abarcava todo o arcabouço doutrinário da Igreja Cristã em
formação debaixo de severas lutas e perseguições (Fp 1.27; I Tm
1.5,18-19;6.12).
II
Ts 3.2 – “A fé não é de todos” – O que Paulo quis dizer é
que nem todos os homens dariam crédito ao evangelho (Is 53.1), a proposta de
redenção mediante o calvário, onde se efetivou pela graça salvadora para os
crêem (Jo 3.16; 3.36; Rm 1.16), sejam judeus ou gentios.
Até em Israel, guardiões dos
oráculos divinos, povo das promessas, dos concertos, (Rm 9.1-5), houve
resistência à proposta divina da redenção (Mt 21.32;At 7.51). E por um tempo
rejeitados, na sua incredulidade (Rm 11.11-12,15,25-26). Deus voltará a tratar
com Israel, após o arrebatamento da Igreja (Visão pre-tribulacionista).
De acordo com Mt 21.32;Mc 1.14-15;
At 11.21;Lc 13.3,5, o arrependimento/conversão e fé são condições imperativas e
inseparáveis à salvação. E em verdade, são os rudimentos da doutrina cristã (Hb
6.1). Ou seja, passos iniciais na direção de alcançarmos a estatura do
varão perfeito, que é Cristo (Ef 4.13).
É importante ressaltar que a
definição da fé salvífica sem o rompimento total com o pecado, distorce frontalmente
o conceito bíblico de redenção, uma vez que ela leva o homem a se relacionar
com Deus por Jesus Cristo e passa a frutificar, se autêntica.
Segundo Mt 21.32 – A fé
salvífica passa pelo arrependimento, ou seja, pelo chamado de Jesus ao
arrependimento em Mc 1.14-15.
Verdade
é: A fé redentiva precisa ser exercida por aquele que crê para se apropriar da
salvação em Cristo Jesus. E aí reside a responsabilidade do homem com a sua
salvação pessoal. E não afeta a soberania de Deus, nem se computa nenhum mérito humano. E, portanto, a fé que leva à salvação, conforme Rm 5.2 é porta de entrada
à graça de Deus. E bendito seja o seu nome eternamente!
Subsídios - Pontos gerais
sobre a fé:
Gn 12.1-3; Rm 4.3; Gl 3.6-7 –
Deus chamou à Abraão (chamada específica) e ele creu. A partir daí, Deus passa
a trabalhar com ele o seu Plano Redentivo, e nele seria Bendita todas as nações
da terra (Gl 3.8). E tudo isto, diz respeito a justificação pela fé em Cristo
(Rm 5.1).
Gl 3.6-7 – A fé foi imputada a Abraão como ato de
justiça. Os que são da fé, são filhos de Abraão.
Rm 12.3 - Medidas da fé repartida
por Deus no corpo de Cristo, a Igreja.
Ef 4.1-6 – A unidade da fé no
corpo de Cristo.
Rm 14.23 – “...E tudo que não
é de fé é pecado”.
Ef 6.16 – O escudo da fé e com
ele podemos apagar os dardos inflamados do maligno.
I Tm 5.8 – A fé sem piedade
não é consistente. A fé sem frutos é falsa.
Não é autêntica. (Tg 2.14-18).
Rm 5.1 - Fé – Um dos elementos fundamentais na doutrina da justificação. Aliada à graça e ao sangue de Jesus.
I Jo 5.4 – O trunfo da vitória contra o
mundo incrédulo é a fé cristã.
Rm 12.1 – O culto racional é
expressão intelectual da fé cristã. A fé bíblica não é um saldo no escuro. Há
razão em nossa esperança (I Pd 3.15).
At 16.31 – Crê no Senhor Jesus
cristo e serás tu e tua casa. O texto realça a fé e a oração intercessória. A
oração de um justo pode muito em seus efeitos. Ninguém mais do que Deus
interessa e deseja salvar nossos familiares, e se cressem, a todos os homens (I Tm 2.4).
Por Samuel P M Borges
Bacharel em Direito e Teologia
Natal RN – Abril 2020 - (revisão setembro 2023).
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