Pesquisar

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Deus dá arrependimento para o homem se arrepender?


Primeiro, listamos duas definições relevantes à discussão:

Mc 1.14-15 -  Arrependimento – (grego - Metanoeo) - É voltar-se para, dar uma volta completa. No aspecto prático é o homem no pecado, reconhece o seu estado espiritual, volta-se para Deus, abandona os maus caminhos, na conversão, mediante Jesus Cristo, o novo e vivo caminho para o Pai (Jo 14.6).

Rm 12.2 – Mudança de mente - (grego - Metanóia) - É a transformação pela renovação do entendimento. Não é estática, ocorre na dinâmica do Espírito Santo no salvo. E assim se faz necessária, pois somos constantemente confrontados pelas tentações na velha natureza, na luta contra o mundo, a carne e diabo. Vencerá quem se deixar ser mais alimentado e guiado pelo Espírito Santo (Jo 14.17;At 5.32). A batalha no campo da mente é diária, portanto, é constante e ininterrupta a renovação do entendimento.

No arrependimento do homem caído, ao ouvir/atentar para a mensagem do evangelho, o Espírito Santo tem um papel preponderante para o convencimento do pecado, da justiça e do juízo. É ação da graça preveniente na visão arminiana.

O que Jesus queria transmitir em João 16.8-11 a respeito do ato de convencimento pelo Espírito Santo?

Do pecado – “Porque não creem em mim”. É o pecado da incredulidade o pior dos pecados. Os demais são consequentes. Para salvação em Cristo, há um grande abismo entre o crente e o incrédulo. O mundo incrédulo é cego, pobre e miserável, distante de Deus até que se arrependa (Mc 1.14-15;At 17.30-31).

Da Justiça – "Porque vou para o meu Pai e não me vereis mais". A redenção do mundo estava para ser consumada no calvário (Jo 19.30), e atenderia plenamente a justiça divina, pagando por seus pecados (Jo 1.29; Rm 6.23; II Co 5.19-21). E após a sua morte vicária e ressurreição, brevemente ascenderia aos céus (At 1.9-11).

Do juízo – "...Porque o já o príncipe deste mundo está julgado". O trunfo do “capeta” era a cédula contrária a nós (Cl 2.14), a pecaminosidade humana que nos condenava (Rm 3.23). O diabo até então podia lançar em rosto contra a humanidade caída. O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei (I Co 15.56; Rm 3.19-20). Entretanto, Jesus pela sua morte na cruz, substitutiva, aniquilou, destruiu aquele que tinha o império da morte (Hb 2.14-15). E pela sua ressurreição justifica todo aquele que nele crê.

Rm 4.24-25 - “...cremos naquele que dos mortos ressuscitou a Jesus, nosso Senhor, o qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação”.

A Consciência e a Fé são faculdades do espírito humano, segundo afirmam alguns teólogos (Rm 5.1;10.10 - coração=homem interior - Gl 5.22;). Com a consciência despertada para com Deus, o pecador cai em si (Lc 15.17-18). Enfim, adentramos à graça de Deus pela fé (Rm 5.2; Ef 2.8; Hb 11.6).


Diferente da alma, o espírito é o sopra da vida. Uma partícula de Deus no homem que lhe permite a comunicação e comunhão com Ele. É o meio de acesso ao transcendental (Jo 4.23-24; I Co 2.9-16).

O arrependimento mexe com a alma do homem, pois produz mudança na mente (intelecto), reconhecendo o seu estado de pecador, toca suas emoções (Sl 51, II Co 7.9-10), e na sua vontade cria uma nova disposição de voltar-se para Deus.   

O Novo Nascimento é instantâneo (Jo 3.3-8; Ef 2.1,5), é ação do Espírito Santo, tornando-nos novas criaturas em Cristo (II Co 5.17), E portanto, na dimensão do espírito humano, por meio da fé salvífica.  

(Não abordarei neste artigo a mecânica da salvação, para não fugir do foco  principal).

Vejamos os textos abaixo, mais inerentes ao título do artigo:

Atos 5.31 –“Deus com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados”.

Em verdade, Jesus começou primeiro anunciando o evangelho às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 15.24). E terminou incompreendido e rejeitado pelos líderes religiosos em Israel. Assim, podemos entender que dá arrependimento no texto citado, significava dá oportunidade, tempo para Israel se arrepender e crê no messias.

E em vários textos nos evangelhos, observa-se que Israel não se arrependeu para crê em Jesus como o messias. Vemos assim, na parábola dos dois filhos (Mt 21.28-32).

Mateus 21.32 – “Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não o crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos arrependestes para o crer”.

Em Mt 13.15, Jesus disse que haviam endurecido o coração e ouviam a mensagem de mau grato, olhos e ouvidos fechados.

Em Mt 21.42-46, na Parábola dos lavradores maus, Jesus fala abertamente de sua rejeição como o messias. Ou seja, não houve arrependimento.

Mt 23.37 – “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!”. – Resistência a Deus Pai e a Deus Filho.

A missão de Jesus em Mt 9.13 – “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento”.

Atos 11.18 – “E, ouvindo estas coisas, apaziguaram-se, e glorificaram a Deus, dizendo: Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida”.

Pedro após se justificar porque havia batizado o gentio Cornélio, os primeiros cristãos judeus surpresos, porém entenderam o agir do Espírito Santo entre os gentios, pois a eles lhe fora aberta a porta da salvação (At 26.23;28.28), tendo a oportunidade de ouvir a mensagem da cruz, arrependeram-se e creram (At 11.1-18).

Atos 26.20 – “Antes anunciei primeiramente aos que estão em Damasco e em Jerusalém, e por toda a terra da Judeia, e aos gentios, que se emendassem e se convertessem a Deus, fazendo obras dignas de arrependimento”.

Vemos em atos o apóstolo Paulo, levando a palavra a judeus e gentios. Todos chamados à salvação mediante arrependimento, fé e frutos.

II Timóteo 2.25 – “Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade”.

Neste texto o apóstolo Paulo orienta ao jovem obreiro Timóteo para instruir com mansidão, sem contender, aos que resistem à pregação e instrução do evangelho, na expectativa de que Deus lhes conceda tempo para arrependimento, ao ouvir a  a verdade. 

Quando a Bíblia afirma que Deus dá arrependimento pela sua rica benignidade/bondade e com paciência (Rm 2.4; II Pd 3.9), e que não levará em conta o tempo de ignorância (At 17.30), bem como nos textos de At 5.31;11.18;II Tm 2.25, já comentados, trata-se de oportunidades, tempo para se arrependerem (Ap 2.21 – “Dei tempo para se arrepender...”), ao ouvir a ordem imperativa para arrependimento, porque a vontade plena de Deus é que todos os homens sejam salvos ao conhecer a verdade (I Tm 1.15-16;2.4-5). Todavia, diz respeito à vontade/desejo pleno, não imposição ainda que para o bem da salvação humana.

E, portanto, não há dúvidas, a salvação do homem caído é pela graça de Deus, mediante a fé, sem atos de justiça própria. Entretanto, o passo rudimentar e determinante no que cabe ao homem fazer, e Deus não o fará por ele, é arrepender-se e crê em Cristo.

E quando vaticinava o profeta Isaías 53.1 - “Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou a braço do Senhor?” Assertivamente, afirmamos que o braço da salvação se manifesta na vida dos que creem (Mc 16.15-16), e sem a fé é impossível receber qualquer bênção da parte de Deus ( Hb 11.6).

A Missão da Igreja - Mt 28.19-20; Lc 24.47 – “E em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém”.

Assim determinou Jesus em Marcos 16.15-16 – “Ide por todo o mundo pregai o evangelho a toda criatura...”

Rm 3.23 – “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”.

O texto supra assevera a necessidade de todos os homens serem chamados arrependimento e a fé para salvação em Cristo, pois a fé comum, genérica, é insuficiente para que o homem se aproprie da redenção consumada na cruz (ver artigo – A fé é um dom de Deus?).

Assim sendo, o arrependimento é o ato pessoal e consciente de contrição, ao atentar para a pregação da Palavra, permite à criatura humana dar meia-volta em relação aos seus atos pecaminosos e reprováveis, pelo convencimento do Espírito Santo.

“Ele veio e padeceu pelos pecadores e voltará para levar ao céu os arrependidos”.

Por Samuel Pereira de Macedo Borges

Bacharel em Direito e Teologia

Natal/RN – Abril 2020.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

INCLUIR COMENTÁRIO!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...