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terça-feira, 14 de abril de 2020

O Oleiro e o Vaso (Jr 18.1-10; Rm 9.20-24)



Há teólogos baseados na parábola do oleiro e o vaso, querem provar que Deus criou algumas pessoas com destinos decretados para a vida eterna e outros para a perdição eterna. Aliás, é temerário, pautar uma linha doutrinária, tirar conclusões tão sérias a partir de uma parábola, pois envolve alegorias. Um vaso de barro é uma coisa.  Pessoas, são pessoas.

A pergunta fundamental é:  O que Deus visava ensinar a Israel, através do profeta Jeremias, levando-o a casa do oleiro?

No texto não há referência à eleição individual, e sim a nações e reinos, nem referência à perdição eterna da alma, e sim vara de juízo na vida nacional de um povo, ou reino que não atentasse, não servisse aos propósitos divinos, e notadamente, Israel que tinha uma chamada específica, de onde viria a salvação para todas as gentes (João 4.22).

O apóstolo Paulo ao citar estes fatos em Rm 9.20-24, era para demonstrar que Deus não estava sendo injusto em “rejeitar”, naquele momento, a nação judaica, por causa de sua incredulidade, com relação ao advento e revelação do messias, e ao mesmo tempo admitir os gentios, condicionados ao arrependimento e a fé salvífica (Mc 1.14-15).

Abriu-se um parêntese escatológico no Plano da Redenção. E Deus passou a tratar com a Igreja Cristã, que levaria a mensagem da cruz a todas as gentes (Mc 16.15-16; Rm 10.17).

A parábola revela como Deus trabalhava no coletivo, com Israel ou com outra nação, se assim deliberasse fazer. Primeiro o oleiro fabrica um vaso para honra, só depois de se quebrar em suas mãos é que faz outro vaso, como lhe aprouver (Jr 18.4).

Assim sendo, se Deus levantar uma nação e ela não corresponder ao objetivo original, Ele, na condição do oleiro, trará juízo sobre aquela geração (Jr 18.11-15). E o fará por causa da sua impenitência, por resistir aos esforços do oleiro. E o vaso que seria para honra, será dado por perdido por causa da persistência no seu pecado (Jr 18.17).

Naquele momento, na História da Redenção, como Deus estava trabalhando com Israel, dentro de uma chamada específica e soberana, traria juízo não rejeição e destruição total da nação. A eleição de Israel é soberana e irrevogável (Jr 31.35-37; Rm 9.4-5;11.29) e muitas são as promessas de restauração pelos profetas. E pela sua queda veio a salvação aos gentios (Jo 4.22; Rm 11.11-12).

O que quer nos ensinar Pv 16.4? – “O Senhor fez todas coisas para os seus próprios fins e até ao ímpio para o dia do mal”.

Deus é teleológico para a vida, para o bem. Aqui tudo passará. Aqueles que praticam o mal sofrerão o castigo de Deus (Rm 14.11-12). E Deus não designa ou motiva o ímpio para a iniquidade. De Deus vem boas dádivas (Tg 1.13,17). A iniquidade, a pecaminosidade é própria do coração ímpio (Lm 3.39; Is 55.7).  Deus não deseja que o homem morra no seu pecado, antes sim que ele mude de atitude para vida (Jr 18.23,26-27).

Finalmente, o Apóstolo Paulo em Rm 9.20-24, argumenta sobre a forma como Deus se utiliza de pessoas, na sua própria desobediência, ou em obediência (Gn 37 a 50 – a trajetória de José, debaixo da ação soberana diretiva de Deus para preservar Israel). E trata com pessoas como vasos para honra ou desonra, sem imposições, não as faz vítimas, objetivando realizar os seus propósitos (Gn 45.5, 50.24-25), e nem foram destinados para este fim, mas no curso natural comportamental humano, Deus vai alcançando seus desígnios. Daí um adágio: “O Homem planeja, Deus maneja” (Is 43.13). Obviamente, Deus não se guia pelos erros da vontade humana, mas pelo seu amor (Jo 3.16), pela sua misericórdia (Sl 25. 6,8-10; Rm 11.32), integridade e compaixão (Sl 116.5).


Por Samuel Pereira de Macedo Borges

Bacharel em Direito e Teologia

Natal RN – Abril 2020 (Revisão em 27/09/2023).

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